O CRB precisa olhar o seu próprio umbigo

Smack Neto
AmplitudeFc
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4 min readSep 20, 2018

A boa fase do rival parece ter afetado não só a torcida, mas como jogadores e direção do clube regatiano, que tem um 2018 para se esquecer

(foto: Douglas Araújo/AscomCRB)

Existe uma regra não escrita no futebol em que o bom desempenho do seu rival acaba estimulando o seu crescimento. Em suma, o “sarrafo sobe”, e as exigências dos torcedores aumentam. Normalmente, isso tem um efeito saudável, mas no caso do CRB em 2018, o ano se encaminha para um fim trágico.

O grande ponto de partida para a crise foi a perda do título estadual para o rival CSA, após abrir vantagem de 1 a 0 no primeiro confronto. O 2 a 0 na volta acabou com o sonho do tetra campeonato, além de expor de vez os problemas que vinham sendo maquiados pelos resultados conquistados até então, seja no próprio estadual, seja na Copa do Nordeste, onde a equipe chegou as quartas de finais e foi eliminada pelo Ceará. Só que o desempenho apresentado desde o início da temporada era bastante contestável.

Mazola Júnior terminou 2017 e seguiu no clube para 2018 (foto: Douglas Araújo)

O Galo da praia iniciou o ano mantendo Mazola Júnior no comando técnico da equipe. O treinador teve carta branca para a montagem do elenco para a temporada, chegando inclusive a declarar que esse era o elenco idealizado por ele e que a diretoria havia feito de tudo para dar condições de trabalho para ele. Só que em campo, o que se viu foi um time sem ideias, com extrema dificuldade em propor o jogo, abusando das ligações diretas e com problemas de jogadores velocistas pelos lados do ataque, na proposta de 4–2–3–1 trabalhada pelo treinador.

Voltando a perda do estadual, é preciso pontuar que, após a derrota na final, o caminho do time foi ladeira abaixo. Após derrota na estreia da Série B, o CRB acabou demitindo Mazola, utilizando Jean Carlos, da base, como interino. Na sequência, veio Júnior Rocha, técnico que estava no Santa Cruz e não contava com grande simpatia da torcida coral.

Júnior, com um estilo totalmente antagônico de jogo em relação aos seus antecessores, de mais posse de bola e controle maior do jogo, além do elenco com carências e problemas de diversas ordens, teve dificuldades em implantar o seu estilo num clube que via o seu rival subindo na tabela da Segundona enquanto torcedores pressionavam por resultados e a diretoria cada vez mais se desesperava e mostrava destempero em algumas atitudes, ameaçando jogadores de demissão em entrevistas de rádio, acusando-os de falta de comprometimento.

Torcida regatiana chegou a protestar contra diretoria e jogadores no CT do clube (foto: Denisson Roma/GloboEsporte.com)

As rodadas foram passando, o time se afundava e Júnior Rocha acabou caindo do cargo, dando lugar a Doriva. Neste momento, enquanto o CSA, que em 2016 estava na Série D, se consolidava como um dos candidatos a Série A no ano que vem, o CRB brigava contra o rebaixamento, após vários anos disputando a Série B sem conquistar o acesso.

Eu entendo o nervosismo do torcedor com este cenário, mas a diretoria tem de dar um passo a frente e se mostrar forte nesses momentos. Mas o que aconteceu é que jogadores chegaram a ser agredidos no CT do clube por torcedores, enquanto a diretoria seguia apostando em jogadores com um certo nome, mas que há tempos não desempenham o seu melhor futebol.

Neste ano, já passaram pelo alvirrubro jogadores como Cleiton Xavier, Williams, Willians Santana, Feijão, Felipe Menezes, Rafael Costa, entre outros. Nenhum deles apresentou nada próximo do máximo que já jogaram. A aposta nesses jogadores acabou custando caro para a equipe, que agora briga contra o rebaixamento.

Roberto Fernandes será o 5º técnico do CRB na Segundona 2018 (foto: Douglas Araújo/Ascom CRB)

No último domingo, o CRB anunciou mais uma troca no comando técnico. Roberto Fernandes, que estava treinando o Santa Cruz, chega para tentar operar o milagre de salvar a equipe do rebaixamento. O quinto técnico do clube na Série B deste ano irá encarar uma sequência complicada de jogos, sem muito tempo para trabalhar, com um elenco visivelmente desmotivado e descontente com o seu entorno, além de uma diretoria desesperada por resultados, que podem afetar diretamente a eleição do presidente do clube, Marcos Barbosa, para o cargo de deputado estadual em que ele busca a sua reeleição.

Esse caldeirão fervendo ainda tem um ingrediente apimentado: o rival azul segue na vice-liderança da mesma competição e parece firme na busca ao acesso. Ainda que venha dado algumas bobeadas nas últimas rodadas, o CSA segue firme na luta pelo acesso e parece ser um dos favoritos para uma das quatro vagas até o Brasileirão 2019.

Acredito que no momento, o CRB precisa concentrar os seus esforços na sua salvação. Quanto maior a preocupação com o que o rival está fazendo, maior o desespero com a sua situação e mais difícil a sua recuperação. Roberto Fernandes chega não só para ser o técnico, mas para ser uma espécie de pacificador dos ânimos do clube. A ver o que ele irá conseguir extrair do grupo regatiano.

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