Qual a relação entre O Mágico de Oz e o amor-próprio?

Uma analogia entre a obra de Frank Baum e o movimento body positive.

Camila Rocha Vendrametto
An Idea (by Ingenious Piece)
3 min readFeb 15, 2020

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Photo by Fabio Ikezaki on Flickr

Em janeiro, li o famoso "O Mágico de Oz" de Lyman Frank Baum. Foi uma leitura rápida e fluida, características que eu amo na literatura infantil.

E percebi que, muitas vezes, pensamos que livros como esse, destinados a um público muito jovem, contém um enredo simples, feito somente para aquisição de vocabulário e prática de leitura.

Certamente, estamos enganados.

Em qualquer idade, se dermos uma chance para essas obras, nos surpreenderemos com o tom reflexivo que carregam e, logo, veremos que não há idade para ler e viajar nesse mundo tão bonito que é a literatura infantojuvenil. Então, vamos ao livro!

Talvez você já tenha visto, ou ouvido, a história de um desenho, ou filme, com uma menina chamada Dorothy, seu cachorrinho Totó, um espantalho, um homem de lata e um leão caminhando juntos. Essa é a imagem que permeia a história de O Mágico de Oz.

O enredo se constrói na caminhada de Dorothy em busca de um grande mágico da Terra de Oz, para pedir que seu desejo de retornar para a terra natal seja realizado, após ser levada para beeeeem longe por um ciclone.

Durante a longa viagem, a menina encontra três personagens que passam a caminhar junto a ela, em busca de realizarem seus desejos também: o Espantalho queria um cérebro para pensar, o Homem de Lata desejava um coração para sentir e o Leão sonhava com uma coragem, tamanha, para honrar seu papel de Rei da Selva. Juntos, os personagens atravessam várias terras e vivem grandes aventuras, pedras e obstáculos, pela estrada.

Bem, não quero contar a história (não curto spoilers também). Essa introdução foi apresentada somente para nos levar a um reflexão: a relação do enredo com o amor-próprio.

Comentei há pouco que no meio do caminho tinham pedras, parafraseando Drummond. E, durante todos os obstáculos, os personagens se ajudam. O Espantalho têm ideias fantásticas que salvam o grupo de emboscadas, provando o quão inteligente é, como no momento em que o personagem pediu para o Homem de Lata cortar uma árvore, tornando-a ponte para a travessia de um riacho. Já o então lenhador, que almeja um coração, demonstra sentimentos através de várias atitudes, como no instante em que ele pisa em um besouro e se sente triste pela sua morte. Enquanto o Leão é corajoso durante grande parte da história, como no momento em que ele enfrenta uma aranha gigante e salva os animais da floresta. Ao estarem tão fixados no encontro com o mágico, os personagens não percebem que já conseguiram realizar seus desejos.

Quando li essa história, lembrei imediatamente do famoso "Projeto Verão", plano seguido por muitos aqui no Brasil para conseguir o tão sonhado "corpo perfeito". Quando eu emagrecer, vou usar biquíni na praia. Quando meu manequim for 38, vou usar aquele tão sonhado vestido. Quando eu tiver o corpo ideal, todo mundo vai me notar.

No mundo da fantasia, não é preciso ter um cérebro para pensar, um coração para sentir, nem coragem para lutar. No mundo real, como diria a jornalista e youtuber Alexandra Gurgel, não é preciso ter o “corpo ideal” para "chegar lá”.

O seu corpo de hoje é o ideal para ter as vivências que você quer, basta uma mudança de perspectiva: olhar mais para dentro do que para fora, pois é onde a gente encontra a resposta para os nossos desejos. Quem sabe assim… mudando de foco, não tiramos a pedra do nosso caminho, não é?

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