HOJE DÁS TU, AMANHÃ DOU EU
A vida dá muitas voltas. A Sara é a prova de que devemos olhar à nossa volta e ajudar sem pedir nada em troca. Um dia a vida faz o favor de retribuir.
A Sarinha faz parte da minha vida há alguns anos. Não fomos as melhores amigas, não partilhamos todos os segredos do mundo, não confiámos uma na outra como se o mundo acabasse amanhã.
No entanto, posso dizer que nos respeitámos. Soubemos olhar uma pela outra, ajudar-nos mutuamente, admirámos a nossa capacidade de resiliência mutuamente e despertámos a nossa força interior para continuar a lutar pelo sucesso.
Olhem bem para ela, vejam que é uma menina crescida. Veio para Inglaterra penso que poucos meses depois de mim ainda estava eu talvez no meu segundo mês, perdida em Reading, Berkshire.
Veio visitar-me e emigrou ainda mesmo sem emprego, quando eu me achava corajosa por ter aceite um temporário.
Trabalhou fora da sua área de formação para poder pagar o seu registo e cédula profissional no Reino Unido. Exactamente um ano depois, hoje é o seu primeiro dia de trabalho no meu Hospital.
Poucos meses depois, quando mudei de emprego, tive de ir a Leamington Spa para uma formação. Pois fiquem a saber que foi a Sarinha que me deu quarto para passar o fim-de-semana. Foi a mesma que com um amigo conduziu uma carrinha quase até Manchester porque me tinha esquecido da minha mala de viagem com um computador dentro num comboio rápido.
Sim, ajudou-me quando eu precisei em troca de companhia, de um almoço por Coventry, uma sessão de cinema e uma noite mal dormida para falar de rapazes.
A Sara não tinha que me ter ajudado o tanto que o fez. Não tinha que me receber na sua casa como se fosse minha, mas fe-lo.
Um ano depois, já eu em Maidstone, a Sarinha teve a sua entrevista para trabalhar na sua área de formação. É, a primeira entrevista foi por coincidência no mesmo hospital onde trabalho.
Meus queridos, eu tentei retribuir com tudo: foi a dormida em casa, o contacto de amigos que trabalhavam no hospital, partilhei o que falhou nas minhas entrevistas, expliquei-lhe a regulação britânica para a proteção da radiação até à uma e meia da manhã para que pudesse brilhar o mais que ela pudesse naquela que seria a sua primeira entrevista na área.
Duas semanas depois, conheci no ginásio, mais uma vez por mera coincidência, parte da equipa que hoje irá trabalhar com ela. Uma delas passou a ser a sua colega de casa. Sim, também sem eu saber.
Ajudei-a com as mudanças. Entrámos na casa e a colega de casa saiu do quarto. Gritei: “Zoe???? Como assim??? Vives aqui??”
Soube a partir daquele momento que existe uma magia nos reencontros. E eles podem ser felizes senão colocarmos rótulos nas pessoas.
Nunca subestimem a pessoa que está ao vosso lado, amanhã ele pode ser o vosso chefe, melhor amiga, colega de casa, o vosso contacto para uma entrevista.
Hoje dás tu, amanhã dou eu. É assim que funciona a amizade. Um ciclo vicioso. O que dás hoje pode voltar para ti em dobro não já, mas um dia.
Sarinha, espero que o teu primeiro dia tenha sido fantástico. Eu estou em casa a torcer para que sim. À espera que saias e que possa ver esse sorriso de orgulho por tudo o que lutaste para chegar até aqui. Eu estou orgulhosa. Muito. E aposto que eles todos também.