Por que rotulamos as pessoas?

Flavia Zanchetta
Anakulus
Published in
4 min readAug 21, 2018

“Os estereótipos são numerosos. Os grupos étnicos são estereotipados, os cidadãos de outras nações e religiões são estereotipados, os gêneros e as preferências sexuais são estereotipados, as pessoas nascidas em várias épocas do ano estereotipadas e as ocupações são estereotipadas. A interpretação mais generosa atribui esse modo de pensar a uma espécie de preguiça intelectual: em vez de julgar as pessoas pelos seus méritos e deficiências individuais, nós nos concentramos em uma ou duas informações a seu respeito, que depois inserimos num pequeno número de escaninhos previamente construídos.”

Trecho do livro “O mundo assombrado pelos demônios”- Carl Sagan.

imagem google

Decidi escrever esse texto baseada em uma experiência puramente pessoal. Percebi, de uns tempos para cá que parecia cada vez mais comum as pessoas a minha volta dizerem que não consumo carne.

Bom, eu consumo carne com uma certa regularidade e não tinha problema em corrigir a informação cada vez que ouvia. Mas estranho porque parecia que a informação estava se espalhando a ponto das pessoas considerarem uma verdade quase que absoluta.

Então resolvi investigar o porquê e levantei alguns pontos:

  • As informações sobre eu ser “vegetariana” vinham de dois grupos de convívio diferentes, e ambos eram mais sociais, como círculo do trabalho e colegas. Não haviam familiares divulgando essas coisas.
  • Os dois grupos (trabalho e colegas) não se conheciam.
  • Das pessoas que achavam que eu era vegetariana, basicamente metade já havia estado comigo em alguma refeição (a ponto de me verem comer carne) e a outra metade nunca havia almoçado comigo.
  • Quase da mesma forma percebi que pessoas que me conheciam a muito tempo (por exemplo, mais de 4 anos) divulgavam essa informação do mesmo jeito que as que me conheciam há pouco tempo (menos de 1 ano).
  • As opiniões sobre eu não comer carne vinham de forma espontânea e afirmativa sem que eu pedisse. Normalmente após elas é que eu corrigia dizendo “mas eu como carne…”.

Então, o que fazia essas pessoas acreditarem que eu seria vegetariana a ponto de compartilharem a informação com autoridade e sem se preocuparem em conferir se ela estava correta?

Foco ou rótulo- de lado você está?

Esse breve exemplo do vegetarianismo não é para discutir se comer carne é melhor que não. É algo que me fez pensar o quanto não podemos fugir (ou podemos?) dos rótulos que a sociedade nos impõe.

Por que eu teria que ser “A vegetariana” da turma?

Após o breve levantamento de dados que fiz para investigar de onde estava vindo a informação me dei conta de dois pontos:

  • Todos nós caímos nesse mecanismo vez o outra e estamos sujeitos a emitir opiniões pré concebidas sobre qualquer pessoa. O que vai mudar é o tipo delas.
  • Eu não consigo e não posso controlar o que as pessoas dizem. Do contrário estaria gastando toda minha energia em convencer os outros.

Por outro lado me fez pensar também o quanto essa pressão da opinião dos outros nos impacta e chega nos levar a aceitar isso. Imagine, por exemplo, que eu fosse conhecida como “ mais burra da turma” e começasse a aceitar que isso seria verdade?

Quantas oportunidades estaria desperdiçando porque não dei o foco no que realmente importava, para mim claro.

Ao mesmo tempo o quanto é confortável ficar do lado do rótulo e não ter nenhuma responsabilidade aparente.

Percebem a diferença do impacto das opiniões? E o quanto lidar com isso está em nossas próprias mãos?

Então, de que lado você tem estado ultimamente?

O lado do rótulo

Esse lado da vida nos leva a um sentimento ambíguo. A gente sabe lá fundo que não queria estar ali, mas por alguma razão não consegue sair do círculo vicioso.

Se você tem escolhido permanecer do lado do rótulo vai se identificar com os sentimentos abaixo:

  • de que não consegue sair da zona de conforto ( que aliás, não tem sido tão confortável assim).
  • de que está passando os dias no piloto automático.
  • de que não é merecedor.
  • síndrome de Gabriela: “ Eu nasci assim, eu cresci assim” ( então de que adianta mudar?).
  • constantemente culpa os outros por qualquer coisa que não sai bem na sua vida.
  • diz mais “Sim” para os outros do que para você mesmo.

O lado do foco

O lado do foco também gera reações opostas em nós. Afinal, almejamos chegar nele, mas nos deparamos com medo ou preguiça de tentar.

Se você tem exercitado manter o foco na sua essência, vai se identificar com os sentimentos abaixo:

  • vontade de se autoconhecer cada vez mais.
  • necessidade de alocar espaços para atividades pessoais na sua agenda ( não só o que faz para os outros).
  • estudar ou frequentar cursos que tenham a ver com seus objetivos.
  • ter um planejamento pessoal.
  • busca recursos para ajudar a manter a disciplina.
  • e o que considero uma das mais importantes lições: Aprendeu ou está aperfeiçoando a arte de dizer “não”.

Todos nós, com autoconhecimento, podemos sair viciante círculo de rotular se permitir ser rotulado. Se aceitar como é faz parte de um exercício diário e ajuda na prática da empatia.

Meu convite para você a partir de agora é se soltar mais, pensar um pouco mais fora da caixa, desacelerar os pensamentos, conferir dados e informações antes de repassar adiante e tentar se ver da forma como realmente gostaria. E depois que tiver isso claro, seguir no seu caminho, com foco.

--

--