4 Verdades Chocantes que Aprendi com Freud Sobre o Significado do Dinheiro em Nossa Vida Emocional

André Camargo
André Camargo, Escritor
6 min readOct 28, 2015

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Meus pais e meus avós em nosso apartamento, uma noite. Tinham uma reunião de negócios com clientes. Eu e minhas duas irmãs mais novas brincando no quarto, a porta encostada.

Sem aviso, minha irmã caçula tira alguma coisa de dentro da fralda e caminha em passinhos curtos até a sala. Não devia ter nem 3 anos.

Procura meu avô, um imigrante grego aventureiro que todos nós amávamos. Em silêncio, deposita na mão dele, com carinho e consideração, o seu presente.

Ele sempre foi super acolhedor. E estava distraído, mergulhado na conversa importante dos adultos. Bateu o olho, assumiu que era chocolate e, sem perder o compasso, mandou a bolinha pra dentro da boca.

E assim terminou aquela reunião de negócios.

Você já testemunhou ou já soube de um caso assim — uma criança pequena dando cocô de presente?

Freud explica.

Sabe o inconsciente? É aquela parte de nós que a gente não enxerga e jura que não tem nada a ver.

É também aquela região obscura onde nossos pensamentos, fantasias e predisposições começam a tomar forma.

1.

De acordo com a Psicanálise, uma ciência cujo laboratório são os atendimentos clínicos de longa duração, há no inconsciente uma equivalência simbólica entre o dinheiro, o pinto, presentes, as fezes e o bebê

Bela Bosta

Para quem nunca ouviu falar disso, parece loucura, eu sei.

E é mesmo.

Isso porque o que chamamos de loucura são situações em que o inconsciente transborda do porão e se espalha por todos os lados.

É o inconsciente a céu aberto.

Aí, o louco faz e fala coisas estranhas e desconexas, aos nossos olhos, que incomodam e mexem com a gente.

A verdade inconveniente é que todos temos um louco/a dentro de nós.

Agora, o fato de ser loucura não significa que não seja real — muito real, aliás — e que a dimensão simbólica não tenha um papel fundamental em moldar a experiência de realidade de cada um.

Nossa mente profunda opera a partir de uma lógica própria. E é por meio dessa lógica — e não da racionalidade — que os sentidos que damos às coisas vão se desenhando.

2.

No inconsciente, dinheiro equivale a pinto

Ambos possuem qualidade fálica, isto é, são ambos representantes do Poder.

Atribuímos ao Falo, o aspecto simbólico associado ao pênis, o poder de preencher, de nos completar, de remediar o que falta.

E, ao mesmo tempo, de comprar, de consumir, de seduzir e de conquistar.

3.

Assim como o dinheiro, bebês também têm valor fálico

Para a mulher, o bebê é por excelência o substituto do pênis. Simboliza a potência criativa, capaz de gerar vida.

O poder da mulher emana de sua concavidade.

No imaginário coletivo, o bebê é tido como uma dádiva. A gente diz que a mulher (o bebê) à luz.

Em contrapartida, a gente também diz que parir é “ganhar bebê”. Como quando perguntamos: “e aquela sua amiga que estava grávida, já ganhou bebê?”.

(Repare que a gente também usa a expressão ‘ganhar dinheiro’.)

O bebê é tanto um presente que a mulher ao mundo, portanto, uma dádiva, quanto um presente que ela ganha.

O inconsciente desconhece contradições.

4.

As fezes adquirem valências opostas dependendo da perspectiva

Conforme a gente vai crescendo, a gente pode se relacionar com o cocô basicamente de duas maneiras:

  • Como algo sujo e destrutivo.
    A gente assume que as fezes são algo sujo (e, portanto, também o dinheiro, mais tarde) quando temos por volta de 2 anos de idade. A gente passa por uma etapa que Freud chamou de Fase Anal Expulsiva.
    Antes que a criança aprenda a controlar a hora e o lugar de fazer cocô, aquilo dentro dela fica associado a algo tóxico, que precisa ser expelido.
  • Como algo precioso, uma criação pessoal, uma obra de arte.
    No estágio seguinte, a criança já consegue controlar melhor seus músculos, aprende a usar o penico e vai abandonando as fraldas. Então, a situação se inverte.

Você agora tem cerca de 3 anos de idade. Está vivendo o período do desenvolvimento que ficou conhecido como Fase Anal Retentiva. O cocô passa a ser sentido como algo valioso. Algo que você deve reter dentro de si.

É bem comum, ao longo dessa fase, que a criança mostre seu cocô aos outros, com orgulho. Também ocorre usá-lo como tinta para pintar as paredes.

Ou dá-lo de presente.

Mas — e isto é importante — a criança só vai dar seu cocô de presente para alguém de quem ela goste ou admire muito.

Como na historinha da minha irmã.

O dinheiro pode ter diferentes significados ocultos para cada um de nós. Depende da sua história de vida.

1. Você pode experimentar intimamente o dinheiro como algo sujo e destrutivo.

Como o cocô é vivenciado na Fase Anal Expulsiva.

Se você funciona neste padrão, pode estar afastando o dinheiro de você, sem entender o motivo.

É que, inconscientemente, ele te provoca nojo, repulsa, culpa ou medo. Aí, pessoa, não adianta ganhar na loteria ou receber uma super herança, porque dinheiro nenhum vai parar na tua mão.

2. Você pode experimentar intimamente o dinheiro como algo muito valioso, que você não quer perder.

Como o cocô é vivenciado na Fase Anal Retentiva.

Se você funciona neste padrão, pode estar preso à avareza e a programas de escassez. A pessoa com caráter anal tende à rigidez, ao dogmatismo e ao excesso de controle. Como o Tio Patinhas.

O dinheiro se torna fonte de preocupação constante.

3. Você pode experimentar intimamente o dinheiro como representante do Poder.

Como o pinto é percebido na Fase Fálica do desenvolvimento, que costuma ser vivida pelas crianças entre 4 e 5 anos de idade.

Se funciona neste padrão, o dinheiro causa em você fascínio, inveja, cobiça, ganância, avidez, desprezo, ressentimento, medo, desdém e competitividade.

Se você vive o dinheiro em seu aspecto fálico e não tem grana, é provável que viva obcecado com dinheiro. Deve estar tendo de lidar com sentimentos torturantes de inveja e inferioridade.

E tem ódio (talvez inconsciente) de rico, que você considera gente desonesta, aproveitadora, fútil, materialista. E essa imagem negativa de rico vai impedir você de se tornar um/a.

Se você vive o dinheiro em seu aspecto fálico, e tem grana, a tendência é que se torne paranoico/a e que sinta ódio (talvez inconsciente) de pobre.

Mesmo que tenha muita grana, você permanece submetido ao medo da escassez. Fica impedido, portanto, pelo seu programa inconsciente de escassez, de aproveitar a prosperidade financeira para acessar a dimensão da verdadeira Abundância.

4. Você pode experimentar intimamente o dinheiro como dádiva ou potência criativa.

Como o bebê é experimentado, especialmente pelas mães.
Aí, o dinheiro fica associado a sentimentos de júbilo, gratidão, encantamento e generosidade.

Talvez você seja capaz de encarar o dinheiro como algo sagrado. Você pode ver o dinheiro como Energia de Manifestação, capaz de materializar seus desejos e suas ideias.

Você deve se tornar capaz de usar a prosperidade material para gerar Abundância para si mesmo e para quem mais você quiser.

É assim, desde novinhos, que começam a despontar as predisposições ocultas que temos em relação ao dinheiro, às fezes, ao pinto, a presentes e aos bebezinhos.

Fascinante imaginar como essa parte completamente desconhecida de nós (e que se formou lá pra trás) impulsiona hoje nossas decisões financeiras, o que filhos significam para nós, nossos hábitos de dar e receber e as peculiaridades de nosso comportamento sexual.

Não é?

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É GRÁTIS!

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