6 Dicas Práticas Preciosas para Sobreviver às Festas de Fim de Ano

André Camargo
André Camargo, Escritor
6 min readDec 25, 2015

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por André Camargo

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Confesso: Natal me dá a maior preguiça.

Nem sempre foi assim.

Ainda lembro da autêntica magia de quando eu era criança.

Também me lembro do amigo gordinho do meu pai fantasiado de Papai Noel. E de um tio que sempre enchia a cara, cuspia as verdades todas, e aí as crianças tinham que ser levadas para outro lugar.

Tipo to-do a-no.

Irrelevâncias, na real, em comparação com a alegria transbordante da criança que mal se descobre no mundo e de repente tudo é luz, presentes, Roberto Carlos e refrigerantes.

Hoje, a correria, a fatura do cartão de crédito e a fila do estacionamento do shopping engoliram a magia; resta fingir intimidade com as famílias do cunhado/a e da sogra/a, e encher de brinquedos de plástico chineses aquele bando de criança que só cresce a cada ano.

Se você faz parte da minoria que adora, genuinamente, o Natal (e não tem menos de 7 anos de idade), desencana deste meu texto.

Sério.

Desligue o computador e vá ajudar a preparar o peru.

Se por outro lado você é um/a de nós, a trupe do sorriso amarelo, vem comigo.

Segue uma listinha de recomendações para te ajudar a atravessar o vale sombrio de desafios e tentações das festas de fim de ano — e emergir do outro lado, senão são e salvo/a, pelo menos com um mínimo de dignidade.

1. Tamo junto

As festas de Natal das pessoas comuns não se parecem em nada com os filmes de Hollywood.

Para a maior parte de nós, são obrigações sociais entediantes, regadas a convivência forçada, artificialidade e hipocrisia.

Você precisa dividir o mesmo peru, o tender espetado de cravos, aquele arroz colorido de uvas passas — e a mesma seleção musical — com pessoas que passaram o ano te criticando, te esnobando ou postando correntes na tua página do Facebook.

Tudo para ganhar mais um par de meias bege do amigo secreto.

Saiba que sentir ódio mortal, xingar mentalmente, querer desaparecer da face da Terra e chorar de arrependimento das merdas que falou (ou das que ouviu em silêncio) são super comuns entre seres humanos no dia de comemorar o nascimento do Redentor.

Então, não se recrimine.

Acima de tudo, lembre-se: somos numerosos. Você não está sozinho/a.

2. Ressaca!

Beber ajuda, não dá para negar. No mínimo, a passar mais rápido.

Se você beber o suficiente, quando se der conta, já é 2016.

E já que todo mundo vai beber, inclusive aquele seu tio que todo ano arma barraco, melhor se atirar logo de vez, como se não houvesse amanhã.

O problema é que sempre tem amanhã. Então se liga nisso aqui:

Pesquisadores do Centro de Pesquisas de Álcool e Vícios da Universidade Brown descobriram que a ressaca de vodca é mais tranquila que a de uísque.

E ressaca de vinho tinto ruim, aparentemente, é a pior que existe.

Moral da história: tome muita vodca e celebre o sangue de Jesus.

Mas fique longe do Sangue de Boi.

3. Saída estratégica pela direita

Essa é uma carta na manga. Valiosa, tipo um ás pra quem joga pôquer.

Em caso de desespero, leve o cachorro para passear.

Ou declare que está com dor de barriga e se tranque no único banheiro da casa, com o celular, por pelo menos 40 minutos.

Respire.

Além de dar tempo de verificar todas as atualizações do FB, você ainda se vinga daquela prima de segundo grau do seu pai, que resolveu comentar pela terceira vez — te segurando pelo braço — como você engordou desde o enterro da vovó.

E que agora está apertada, batendo na porta do banheiro de cinco em cinco minutos.

Pode ignorar. Esse é o seu momento.

4. Se nada funcionar, dê uma de locão

Finja que está bem mais bêbado/a do que realmente está. Comece a dançar loucamente, com os braços abertos, como aqueles sufis rodopiantes, saca?

Isso provavelmente vai te deixar tonto/a o suficiente para começar a cair em cima das pessoas. Ou para esbarrar com o braço e derrubar no chão a jarra de Sangria de vinho tinto barato que a prima do seu pai fez.

Caso alguém tente falar com você, olhe bem na cara da pessoa e solte um som estranho, tipo o Chewbacca, para deixar claro que você está temporariamente indisponível para a comunicação verbal.

A galera vai achar que você precisa dormir um pouco e é capaz de te carregarem para algum lugar calmo e silencioso pra tirar você de cena.

Desfrute.

Só não se esqueça de levar o celular no bolso, assim você pode acessar o FB e ver se seus amigos/as estão se saindo melhor do que você.

5. Para Momentos Críticos

Sempre tem aquele momento, geralmente depois das orações cristãs, da Ceia ou da queima de fogos, em que as pessoas se reúnem para convencer umas às outras de que “bandido bom é bandido morto”.

  • Que “homossexualismo(sic) é pecado — ou doença”.
  • Que “direitos humanos, só para humanos direitos”.
  • Que “se tem medo da polícia, é porque fez coisa errada”.
  • Que “só Jesus salva”.
  • Que “quem foi torturado na ditadura era vagabundo ou drogado”.
  • Que “racismo não existe no Brasil”.
  • Que “gays e feministas estão destruindo a família tradicional brasileira”.
  • Que “índios e mendigos são todos bêbados e têm mais é que ser exterminados”.
  • Que “movimentos estudantis são coisa de maconheiro”.
  • Que “a polícia tem mais é que descer o cacete em manifestantes, que só atrapalham o trânsito e destroem patrimônio público”.
  • Que “pobre não gosta de trabalhar e, se quiser ficar rico, que acorde mais cedo”.

Caso você seja capturado/a de surpresa por um redemoinho de ódio, estereótipos e preconceitos, isso significa apenas que você está no lugar errado, na hora errada.

Releia o item 3 e, devido à presença de agravantes, aumente o tempo no banheiro de 40 para 90 minutos.

Nesse caso, certifique-se de levar o carregador do celular.

6. Em Caso de Emergência

Às vezes, algum parente identifica no seu silêncio um possível tom dissonante.

(Lembre-se: eles/as têm uma sensibilidade toda especial para essas coisas).

E sente uma necessidade incontrolável de saber sua opinião sobre o casamento gay.

Aí, começa a te explicar que Deus fez Adão e Eva — e não Adão e Adão ou Eva e Eva — geralmente te segurando pelo braço, falando bem de perto e cuspindo restinhos de farofa enquanto fala.

Você percebe que não vai conseguir se safar sem recorrer a um golpe de judô.

Mas você não quer isso. Seus pais ficariam decepcionados com você.

Então, procure manter a calma e siga à risca estas instruções.

  1. Comece aos poucos a arregalar os olhos, até o máximo que conseguir, tomando o cuidado de não interromper o contato visual
  2. Ao mesmo tempo, vá elevando lateralmente seus braços, semi-flexionados, até que suas mãos estejam um pouco acima dos ombros
  3. Curve-se ligeiramente para a frente, em direção à pessoa cujo falatório caminha com vigor do Gênesis ao Apocalipse
  4. Você vai descobrir que a voz da pessoa começa a parecer cada vez mais distante, até que, mesmo que continue falando, você já não ouve mais nada
  5. Agora imagine que você é uma árvore; visualize o tronco encurvado, passeie sem pressa por cada detalhe, sinta o vento balançando as folhas
  6. Abra bem os dedos das mãos, como se fossem os galhos e os ramos da sua árvore
  7. Você pode mentalmente fazer uma aposta com você mesmo sobre quanto tempo vai levar para a pessoa admitir que algo não vai bem e se perguntar se talvez não fosse melhor parar de falar
  8. Se ela ou qualquer outra pessoa da festa se dirigir a você, mantenha um silêncio imperturbável. Lembre-se: árvores não falam
  9. Por via das dúvidas, permaneça nessa posição por pelo menos mais 15 minutos — ou até que chamem um lenhador
  10. Quando fizer sentido para você, despeça-se da sua árvore, caminhe até a mesa e vire mais um copo de vodca

Dizem que a ressaca não é tão ruim.

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Fazendo isso, você ajuda mais gente como a gente a lidar com a maratona de final de ano sem desesperar

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