10 atitudes que você precisa abandonar para melhorar sua relação com o dinheiro

André Camargo
André Camargo, Escritor
9 min readAug 19, 2015

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por André Camargo

Quando eu era criança, minha mãe vivia insistindo para comermos fora.

Meu pai achava um despropósito, um desperdício de dinheiro. Mas acabava cedendo.

A gente ia, e ele ficava tão irritado que quase sempre o tempo fechava. Senão antes, pelo menos com a chegada da conta.

imagem de Ryan McGuire

A volta para casa era um festival de gritos. Ou o oposto: um silêncio denso como lodo.

Minha mãe sempre foi uma sonhadora, que gasta dinheiro como forma de lidar com a ansiedade. Gosta de morar bem, de viagens, de comer fora e de comprar presentes.

Meu pai, ao contrário, sempre foi um workaholic. Nasceu no interior e mudou-se para a capital, para “vencer na vida”.

Hoje eles têm bem mais grana do que tínhamos, o suficiente para viverem seus desejos de conforto e prazer. Não importa quanto tenham, porém, eles continuam, cada um a seu modo, submetidos ao medo da escassez — a ideia de que vai faltar.

E você, já parou para pensar em como aprendeu a lidar com o dinheiro?

Ser capaz de se relacionar de maneira saudável com o dinheiro depende, antes de mais nada, de conhecer suas armadilhas internas. É o primeiro passo para deixar de repetir os padrões automáticos que te encerram em bolhas de escassez.

Seguem 10 atitudes que você precisa (re)conhecer e superar, a fim de se abrir à Abundância.

Queimando grana

1. Gastar Demais

Bom, este primeiro é bastante óbvio. É o perfil da minha mãe.

O gastador ou a gastadora sofrem de incontinência. Não conseguem se controlar.

É comum sentirem o impulso de gastar não como um desejo, mas como uma necessidade asfixiante. A antecipação e o momento da compra geram intensa euforia.

Uma vez obtido o produto, porém, o interesse se esvai. Afinal, o prazer está no ato do consumo, e não em seu produto. O que você está adquirindo é secundário; comprar é que dá barato.

O que você compra por compulsão, porém, tende a ficar esquecido em um armário ou gaveta. Alguns produtos podem seguir meses a fio com suas etiquetas originais, sem nem deixarem a sacola da loja.

A gastança exagerada provoca brigas e conflitos sérios com parceiros e familiares. Também é comum que a compra por impulso dê lugar a sentimentos de vazio e desamparo, ou de um arrependimento amargo.

Que, paradoxalmente, os gastadores procuram aliviar… comprando!

2. Poupar Demais

Você é mão de vaca?

Não usar seu dinheiro quando necessário é economia burra. Dinheiro bem gasto é sinal de sabedoria.

Os poupadores sofrem da doença da acumulação: por mais que consigam juntar, nunca parece o suficiente. Assim como os gastadores, o poupador ou a poupadora obtém prazer do ato de poupar.

Ao mesmo tempo, a fascinação pelo dinheiro ou, em outro caso, o medo de que, “se gastar, vai faltar”, não cedem.

“É meu!”

Lembro do caso de um primo distante: começou com uma oficina de fogões no Brás e enriqueceu imensamente. Ainda assim, vivia com roupas velhas, de chinelo de dedo o dia inteiro, e causava perplexidade ao manter a si mesmo e a seus dependentes em situação de penúria. Era um caso patológico.

A atitude de manter-se em condições miseráveis mesmo quando se tem dinheiro, obviamente, não tem nada a ver com humildade; tem a ver com uma dificuldade irracional de dar, de soltar, de abrir mão.

A pessoa sente que precisa guardar tudo para si.

E, ao final, vive sem nada.

Com frequência, acumuladores se tornam arrogantes e paranoicos, sentindo-se rodeados/as de interesseiros. E se isolam.

Nas palavras de Plutarco, “a avareza é um tirano cruel”. Acrescento que se trata de uma condição de desespero — como morrer de fome sentado sobre um prato de comida.

Apesar das aparências, pessoas com muito dinheiro acumulado não são verdadeiramente ricas, não vivem em abundância. Continuam escravas do medo da escassez.

3. Viver Competindo com os Outros

Você sofre da doença da comparação?

A relação com o dinheiro de quem é competitivo/a é em geral motivada pela inveja de quem tem mais — que pode se combinar com o desprezo por quem tem menos.

Os competitivos de tendência poupadora buscam reunir um patrimônio — conta bancária, investimentos, imóveis — mais vasto que as pessoas de seu círculo social. Sabe o Tio Patinhas?

Agregando valor ao camarote

Os competitivos de tendência gastadora, ao contrário, curtem ostentação. Podem se tornar esnobes ou usar a generosidade como forma de ostentação. Lembra da história do “rei do camarote”?

Em ambos os casos, o dinheiro é só um meio. O verdadeiro objetivo é ter ou parecer ter mais do que os outros. É a isso que os competitivos dedicam a maior parte de seu tempo e de sua energia: a olhar para fora de si mesmos.

Você precisa se livrar dessa armadilha para não viver uma vida talvez de muita excitação, mas vazia de sentido e significado.

4. Sentir Culpa

Você sente culpa ao gastar — ou mesmo ao ganhar dinheiro?

Em caso positivo, o sentimento de culpa deve estar bloqueando seu acesso a uma vida de verdadeira abundância.

O problema, aqui, não é nem a fascinação pelo dinheiro, nem o medo da escassez. É a sensação de que você não merece ficar bem.

Você pensa em todas as pessoas que passam fome e frio e não possuem sequer o mínimo para viver com dignidade. E está saindo para comer fora? Não é justo.

Cuidado! A dificuldade de ganhar e de gastar dinheiro motivada pela culpa pode parecer uma forma de superioridade moral.

Não é.

Privar-se de usar os próprios recursos com sabedoria não acaba com a pobreza nem com o sofrimento do mundo. Só condena mais uma pessoa à impotência.

Melhor seria deixar fluir bastante dinheiro na sua direção e usar parte dos seus recursos para tornar o mundo um lugar melhor para mais gente.

5. Viver Desencanado/a

Você não está nem aí. De algum jeito, sempre tem grana suficiente e vai levando. Ou uma hora tem, outra não tem, e tudo bem. O dinheiro é um mero coadjuvante.

A menos, é claro, que a casa caia de vez. Se acabar a grana ou as dívidas se acumularem, quem é muito desencanado tende a ficar completamente perdido.

Não caia na armadilha de achar que dinheiro não importa.

6. Achar que Ainda é uma Criança

Será que você, internamente, se recusa a crescer?

Algumas pessoas não chegam a conquistar a renda necessária para se manterem e continuam dependendo de alguém que pague suas contas.

A infantilização é uma condição típica (embora não exclusiva) de herdeiros de famílias ricas, que não participaram da construção da riqueza de que usufruem. Aprisionados pelo bem-bom, carecem de garra, de força de vontade e de um projeto de vida próprio.

Apesar de parecerem pessoas encostadas ou aproveitadoras, com frequência as crianças eternas vivem à mercê de sentimentos intensos de insegurança e inferioridade. Vivem à sombra da ‘grandeza’ de pais e avós.

Tornar-se adulto, porém, o que inclui conquistar pelos próprios meios os recursos de que necessita para viver a vida que deseja, é uma conquista fundamental, que ninguém pode alcançar por você.

Mantendo-se em condição de dependência, você estará condenado/a a passar pela vida sem de fato agarrá-la nas mãos.

7. Achar-se Evoluído/a Demais Para se Preocupar com Dinheiro

Você parece desencanado/a, mas não é.

Pensa secretamente (ou não) que preocupar-se com a própria situação financeira ou desejar mais dinheiro para gastar com o que quiser é coisa de gente fútil, superficial e materialista.

Você tem outros valores.

É provável que você sinta um desprezo gigantesco por quem viaja constantemente para o exterior, desfila de carro importado e troca de iPhone todo ano.

Olha, seria melhor eu nem te contar, mas esse desprezo todo é na verdade inveja disfarçada. E confesso que é como eu mesmo costumava me sentir.

A altivez na relação com o dinheiro não é sinal de desapego; é uma máscara.

Se você se recusa a dar importância para o dinheiro, porque sente que está acima disso, melhor reconhecer logo e se libertar dessa armadilha.

Caso contrário, é provável que permaneça presa fácil do auto-engano, e que sua condição financeira siga te assombrando em silêncio a partir dos cantos escuros de sua mente.

8. Deixar-se Sugar

Você se sente obrigado/a a sustentar outras pessoas, como se não tivesse escolha?

A contraparte necessária da Criança Eterna é tipo uma vaca leiteira. Se você está desempenhando esse papel, provavelmente vive reclamando que ninguém reconhece seu esforço.

O que as vacas leiteiras costumam não perceber, porém, é que seu comportamento estimula a dependência e a infantilização.

Para escapar dessa armadilha, você precisa em primeiro lugar perceber que não é um coitadinho/a sofredor.

Suas tetas volumosas são vividas como fonte de poder, dominação e controle. E é comum que você cultive secretamente (ou não) um sentimento de superioridade.

Aprisionar o outro em situação de dependência é também (paradoxalmente) uma forma de sugar — não o dinheiro, mas a energia da outra pessoa. Sua vontade de se emancipar e prosperar por conta própria.

Muitas mães agem assim com seus filhos — o que parece amor, bondade ou condescendência é na verdade o desejo disfarçado de que nunca cresçam.

Sustentar os outros também pode ser uma forma de lidar com o desamor, com a baixa auto-estima. Você acredita que, se deixar de dar dinheiro, deixará de receber amor e atenção.

Não percebe que, justamente ao desempenhar o papel de vaca leiteira, passa a ser visto/a como alguém que só vale pelo tamanho das tetas.

9. Ganhar Dinheiro Acima de Tudo

Dinheiro, status e poder podem ser tão viciantes como a próxima tragada.

Você busca dinheiro com voracidade? Só consegue pensar nisso?

O problema é que o preço a pagar por viver atrás de cada vez mais dinheiro é alto demais. Pessoas vorazes sacrificam seus relacionamentos mais importantes — inclusive a relação consigo mesmas.

Reféns da fome insaciável, tendem a se tornar duras, solitárias e sem vida.

10. Viver em Escassez

Você tá sempre com aquela sensação de que não tem o suficiente?

Vive torturado/a pelo medo de perder o (pouco) que tem?

Se você vive em escassez, está desconectado/a do fluxo da abundância: dar e receber sem sofrimento, confiando que aquilo de que você necessita chegará até você, e gerando prosperidade em todas as direções.

Talvez você tenha medo de ser visto/a como uma fraude, porque no íntimo acredita que não tem muito valor. Então, é melhor se conformar com a escassez, mesmo, do que cultivar a coragem de desejar de peito aberto.

Ou talvez você morra de medo de despertar a inveja e a cobiça dos outros por aquilo que você pode conquistar. Aí prefere viver na penumbra, anulando seus talentos e capacidades, Vive com o freio de mão puxado.

Será que, sem perceber, você tem se mantido ativamente em condição de escassez?

Ou será que, por medo, você se percebe equivocadamente em situação de escassez, ao invés de reconhecer a abundância que já existe na sua vida e deixar seu coração se encher de gratidão?

Para escapar da armadilha da escassez, você precisa, antes de tudo, confiar. E permanecer aberto/a, livre de culpa, medo ou orgulho, para acolher o que se manifestar diante de você — seja dinheiro, ajuda ou amor.

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Originally published at obviousmag.org on August 12, 2015.

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