Eu ainda sou eu, mas não sou mais eu

Dessa DuSantos
Andrêssa DuSantos
Published in
6 min readFeb 27, 2018

Eu nunca tinha ouvido falar em padrões de crescimento. Muito menos que a vida tem ciclos de 7 anos. Osho diz que os primeiros 7 anos são os mais importantes porque é quando é assentada a base da vida: são os anos em que a gente é condicionado e preenchido com todos os tipos de ideias que vão nos assombrar durante toda a nossa vida, que irão nos desviar de nossa potencialidade, nos corromper e nunca irão nos permitir enxergar claramente, pois aparecerão sempre como nuvens diante de nossos olhos — elas tornarão tudo confuso.

Pausa pra você tentar lembrar dos primeiros 7 anos da sua vida… Espero que tenha tido mais sucesso nessa empreitada do que eu. Minhas memórias são vagas, brincadeiras com os primos na casa da grandma, meus irmãos queimando os cílios das minhas bonecas, choradeira, boneca, boneca, boneca, puxando a barra da saia da diretora da creche e recitando o alfabeto (metida que só ela). E as ideias que me condicionaram? Como eu vou saber? Como eu vou lembrar?

Em seguida vem o ciclo dos 7 aos 14 anos: a primeira agitação das energias sexuais. Claro que a fase que você quer esquecer é a que mais se lembra. Pelo menos eu tenho muita lembrança dessa época porque escrevi diário durante todo esse período. Foi minha fase mais melodramática. Escrevia “my life is a socks” querendo dizer “my life sucks” porque assistia mais filme em inglês do que já havia aprendido a escrever na escola de inglês. Ficava até tarde escrevendo com a luz acesa e enfurecendo D. Marta (tenho diários rasgados pela mesma que comprovam esse fato). Segundo diários não tão secretos de Andrêssa (ou Dedê Pathy Pink — como eu era conhecida na época), eu fiquei 1 ano apaixonada e sofrendo terrivelmente pelo Alex e na última página, a revelação: “Eu esqueci o Alex!”, odiei o Gilberto 100 vezes (“eu odeio o Gilberto, eu odeio o Gilberto, eu odeio o Gilberto…”), fiquei de mal e fiz as pazes com as gurias do bairro pelo menos umas 72 vezes, e segui conselhos das amigas mais velhas pra ser mais popular na escola.

Gazadeeeeus vem o terceiro ciclo: dos 14 aos 21: os anos do jogo romântico, quando estamos mais interessados na beleza, no amor, na poesia, na escultura… É a época do primeiro amor, de se apaixonar!… E eu vivi todo o romantismo possível com um mesmo boy, e só agora descobri que terminamos em compasso com o terceiro ciclo! Faz muito sentido… Pra mim, foi a fase do “sonhar”… Sonhar com a faculdade mais legal de todos os tempos, sonhar em ser descoberta berrando no chuveiro pra galera da rua ouvir, escutar Taylor Swift no ons (ônibus, para aqueles leigos em mineirês) e sonhar em cantar minhas músicas também, sonhar em sair da casa dos pais (e sair!), com a liberdade, “independência”… Sonhar que a vida era fácil e só precisava deixar ela levar a gente… Sonhar que ia ser pra sempre, acreditar no âmago mais profundo do ser que “pra sempre” existe!

Wow. Já tô no quarto ciclo: dos 21 aos 28 anos, sentindo aquela leve pressão de já terem se passado 10 anos desde o colegial (ok, agora que eu escrevi a pressão aumentou!). Essa é fase da galera se estabelecer, escolher um parceiro… !!!!! Sente o drama, por meio dos 5 exclamation marks!… Eu sinto que a minha vida tá começando agora, sério! Agora que eu entendi um monte de coisa; já li uma quantidade razoável de livros pra começar a ter discernimento das coisas; agora que tô aprendendo a lidar com as minhas finanças; agora que eu tô começando a ficar organizada, a fazer schedules; agora que eu tô aprendendo a tocar o teclado decentemente; agora que eu tô focando de verdade no que eu quero; agora que tomei vergonha na cara e tô indo certinho na academia e cuidando da alimentação; agora que eu finalmente adquiri o hábito de passar protetor solar!… Agora que eu tô entendendo que o verdadeiro amor pode ser complicated as hell, pode ter idas e vindas e idas e vindas e idas e vindas!… Então vamos deixar só uma coisa estabelecida: a sensação de que a gente nem sequer saiu do primeiro ciclo!

E agora que vem o x da questão: onde ficam minhas músicas no meio dessa história toda? Porque sim, eu tenho vááárias músicas pra cada fase e elas ficaram reprimidas dentro de mim. Só agora, nesse último ciclo, eu estou tendo a oportunidade de me expressar por meio das minhas canções (viva a internet! o/), mas sabe o que acontece quando tu reprime alguma coisa né? Tenta segurar o espirro for example pra ver, dizem que tu pode estourar um vaso, ficar surdo e até morrer! :O Então agora que eu posso, eu quero me expressar de todas as formas possíveis! E quero tirar de dentro do meu peito e por pra fora todas as músicas que eu escrevi durante toda a minha vida!

E eu entendo que isso pode deixar meu público meio confuso… Mas não estamos/somos todos confusos, no final das contas? Eu gostaria que isso estivesse vindo de um lugar de ingenuidade, mas não. Estou bem ciente de todas as implicações que ser geminiana me traz, mas o que eu posso fazer? “Seja autêntica”, diz meu professor de music business. Mais autêntica? Essa galera que me segue vai pirar porque às vezes nem eu consigo me acompanhar! Eu sempre compus em inglês, mas bem no dia do meu aniversário do ano passado, compus uma música em português no chuveiro! E desde então elas continuam vindo sem nem pedir permissão ou considerar que eu venho de um background artístico internacional. Sim, eu amo rosa, mas um dia acordei e quis dar fim no cabelo rosa! Me chame de impulsiva, mas eu sou sempre muito honesta com os meus sentimentos e vontades. Eu não sou uma hoje e outra amanhã. Eu sou eu todos os dias, com todas as contradições e confusões que fazem parte de ser humano!

Não faz sentido criar uma fanpage pra cada parte de mim, porque são minhas partes que compõem o meu todo. E o meu todo é assim mesmo: um misto de tudo! Então pra quem não me conhece: prazer, Andrêssa. Minha cara não entrega minha idade, meu sorriso esconde as minhas ansiedades, minhas dores saem por meio de sons. Eu componho em inglês, português, até em espanhol já compus! Eu canto em todas essas línguas e me sinto eu mesma ao extremo! Sou plena dançando zumba, comecei a dar aula de inglês por hobby e agora Teacher Andy é meu segundo nome, quiçá minha segunda página no face. Com a ajuda de uma amiga, decidi “tentar ser artista” por durante 2 anos após me formar em Jornalismo. Isso já tem 3 anos e acho que minha mãe já sacou que eu não vou voltar pra casa (Sorry, mom =/).

Eu ainda sou eu. Nunca deixei de ser a Dedê Pathy Pink! Eu sinceramente não consigo imaginar minha vida sem cor-de-rosa. Eu ainda sou a mesma menina sonhadora, corajosa, espontânea e exibida! Eu ainda ainda volto pra casa nas férias e me entupo de pão de queijo, doce de leite, quebrador e mané pelado! Eu ainda falo uai. Trem é a melhor palavra que já inventaram. Eu ainda sou romântica e sonho com pedido de casamento no balão do avô do Menino Maluquinho (o que não significa que eu vá casar, óbvio). Ainda valorizo e cuido das boas amizades. Eu ainda leio deitada na cama e escuto música pra escrever. Eu ainda dou bom dia pra gente estranha na rua (em Curitiba — pasmem!). Eu ainda escrevo canções tiradas do diário da minha vida pessoal.

Mas não sou mais eu. A vida inteira eu tive apelido e sempre achei estranho me chamarem de Andrêssa. Eu finalmente assumi o nome que mamis e daddy me deram — e ainda com o acento circunflexo que a mulher do cartório resolveu acrescentar pra inventar moda — pra representar todas as minhas facetas! Eu gosto demais de chineque e peço só uma vina no cachorro-quente. Eu falo tu, ti, guri, guria, capaz! O curso de dublagem matou o meu R da roça! Eu acredito que assinar papel pra dizer pros outros que tu se compromete a ficar com a pessoa que tá do seu lado em todos os momentos é a maior besteira que já inventaram (o que não me isenta de um dia talvez fazer essa besteira) e aprendi a me afastar de pessoas tóxicas. Eu leio mais livros que me ensinam a ser uma pessoa melhor do que livros que me fazem fantasiar… E escrevo canções tiradas do diário da minha vida pessoal. Em inglês. E português =D

P.S: “Eu ainda sou eu” é o nome de uma das músicas que eu compus em português, prometo compartilhar loguim ^^

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Dessa DuSantos
Andrêssa DuSantos

Ela mistura português com inglês e fala do que está cheio o coração. Ela busca sua melhor versão todos os dias. Ela é alquimista da própria vida ❤