[RESENHA] O Conde de Monte-Cristo — Alexandre Dumas

“Esperar e ter esperança!”

Andressa Bastos
Andressa Bastos
5 min readFeb 14, 2022

--

Foto: Andressa Bastos.

Este clássico da literatura mundial, escrito por Alexandre Dumas, traz como pano de fundo três temas principais como a injustiça, a inveja e a vingança, numa trama bem delineada situada na França do século XIX. O Conde de Monte-Cristo, leitura escolhida para uma das minhas tradições literárias, tem como protagonista o marinheiro Edmond Dantè, um jovem humilde, muito feliz com a vida e prestes a se casar com a catalã Mercedes, por quem é apaixonado.

Seus planos de felicidade são vítimas da inveja, ambição e maldade de inimigos covardes e próximos com a intenção de lhe tirar tudo, inclusive, a própria dignidade, com a produção de um bilhete falso que acusa Dantè de ser um aliado Bonapartista. Nesta circunstância, a armadilha já está armada de uma maneira tão dramática e teatral que é como se presenciássemos cada detalhe, cena por cena.

Inocente, o jovem marinheiro é preso, usado como escada pelo procurador do rei para ser benquisto pela monarquia e condenado a anos de prisão injustamente. Até a história sofrer uma nova reviravolta.

“Quando penso — disse Caderrousse, deixando a mão cair sobre o papel — que com isso podemos matar um homem mais facilmente do que se o esperássemos escondidos no mato para assassiná-lo!… Sempre tive mais medo de uma pena, de um tinteiro e de uma folha de papel do que de uma espada ou de uma pistola.”

Durante o tempo em que permaneceu preso no Castelo de If, em Marselha, Edmond conhece outro prisioneiro, o abade Faria, famoso por oferecer fortunas aos guardas e a seus superiores em troca de liberdade. Fortuna esta parte de um tesouro escondido que apenas ele tem conhecimento e, entre as suas excentricidades, soa como mais um motivo de piada para todos no castelo. A falta de crédito é imerecida, uma vez que o abade é perfeitamente são e inteligente. Com a sua incrível capacidade intelectual e persistência em não se deixar vencer, ele se torna o responsável por devolver ao jovem Dantè, a vontade de viver que há muito havia perdido.

Os dois viram amigos, o abade conhece os detalhes de seu infortúnio pouco esclarecido e o ajuda a dar nomes àqueles culpados por sua desgraça. Assim, nasce o desejo de vingança, reparação e liberdade no jovem marinheiro. Depois de quatorze anos na prisão, Edmond foge. Sendo o único herdeiro da fortuna do abade Faria, ele retorna a sociedade com o conhecimento, riqueza e honraria que o figuram com a respeitável e irreconhecível alcunha de Conde de Monte-Cristo. A partir dessa virada, o plano contra os seus inimigos começa e o leitor “assiste” o castelo de cartas ruir lentamente.

“Há — disse ele, instantes depois — um axioma do direito de grande profundidade, relacionado ao que eu lhe dizia há pouco: a não ser que maus pensamentos nasçam em uma mente distorcida, a natureza humana repele o crime. Mas a civilização nos dá necessidades, vícios, apetites fictícios que às vezes nos levam a sufocar os nossos bons instintos e nos conduzem ao mal. Daí a máxima: Se quer descobrir o culpado, pergunte primeiro a quem o crime cometido pode ser útil!”

Foto: Andressa Bastos.

O cenário político da época se consolida com o reinado de Luís XVIII, seguro de que as medidas de proibição e exílio contra Napoleão Bonaparte e seus aliados manterão qualquer ameaça de queda da monarquia impossível. Mas, até isso se instabiliza com a organização de um grupo remanescente de Bonapartistas que promovem o retorno do imperador debaixo dos narizes do rei, da polícia e dos demais apoiadores da coroa.

Reviravoltas e intrigas como esta são comuns na narrativa, mantendo o leitor imerso nessa rede de surpresas, ansioso para o que virá a seguir. Particularmente, encontrei em Dantè, no abade Faria e no Sr. Morrel, os personagens mais interessantes e, por que não, apaixonantes de acompanhar a trajetória — talvez por serem os poucos a mostrarem intenções genuinamente boas, contrariando as durezas da vida e a conduta da maioria.

Dumas se tornou um autor favorito ano passado devido a sua escrita desenvolta, dramática, repleta de personagens com distintas nuances e caracteres complexos. Com O Conde de Monte-Cristo não foi diferente, a experiência de leitura foi deliciosa e o enredo impressionante na sua forma de conectar uma coisa a outra no tempo justo, sem dar margem a buracos ou possíveis dúvidas. Não é à toa que esta obra inspirou diversas adaptações e influenciou várias outras ao redor do mundo, desde o cinema, literatura, seriados, novelas, concertos, espetáculos teatrais e animes.

“(…) O que faria se fosse livre? Nada, talvez: esse transbordamento de meu cérebro se evaporaria em banalidades… Precisamos da desgraça para escavar certas minas misteriosas escondidas na inteligência humana; precisamos da pressão para fazer a pólvora explodir. O cativeiro concentrou num único ponto todas as minhas faculdades que flutuavam aqui e ali; elas se chocaram num espaço apertado; e, como sabe, do choque das nuvens resulta a eletricidade, da eletricidade o relâmpago, do relâmpago a luz.”

Inicialmente escrita em formato de folhetim, a narrativa de Alexandre Dumas é cheia de acontecimentos mirabolantes com direito a traição, disfarces, envenenamento, decapitação e denúncias anônimas, pontos importantes que mantêm o desenvolvimento da história e também dos diversos personagens. No geral, a minha experiência foi muito positiva com a leitura, apesar de sentir uma certa enrolação por parte do autor para dar continuidade ou finalizar certos arcos, algo que provocou um exagero de descrições, cenas e diálogos.

Em minha pesquisa, descobri que ele ganhava por linha escrita, então, até que fez sentido essa impressão de excesso, até do tédio e cansaço em determinadas partes. Mas é uma impressão pessoal. Os vinte e seis dias de imersão nesse enredo foram, em sua maioria, muito proveitosos e O Conde de Monte-Cristo permanece sendo uma obra de arte sem igual. Para mim, inclusive.

“Não existe felicidade nem infelicidade neste mundo, o que existe é comparação entre esses dois estados, nada mais. Só aquele que passou pelo extremo infortúnio pode sentir a extrema felicidade. É preciso ter querido morrer, Maximilien, para saber como é bom viver.”

Recomendo que você leia e, como eu, também se apaixone.

--

--

Andressa Bastos
Andressa Bastos

Cristã, jornalista & escritora | Posts novos toda semana | Também estou no Instagram como @andressa.bts