Interpol — El Pintor

Angelo Dias
angelocria
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3 min readJan 19, 2015

Same town, new story

Sou suspeito quando falo de Interpol. Há muito tempo, quando pregava que todos deveriam ter uma banda favorita, Interpol era a minha. Tinha camisetas da banda, CDs e até um vinil (mesmo sem ser acostumado com bolachões). Ao mesmo tempo que sou o primeiro a elogiá-la, também sou a pessoa que poderia escutar algo deles e dizer “isso não é Interpol, cara”.

E aí que os caras lançaram um disco novo, com essa linda capa no título. E não é que ele é bom?

Me entenda: depois de Turn On the Bright Lights e Antics, a banda trouxe Our Love to Admire. O terceiro disco é bem diferente dos primeiros. Parecia parte de um processo de evolução, de mudança. Aí então veio Interpol (isso mesmo, um disco com o nome da banda) e mostrou que as coisas realmente mudaram. Um integrante estava para sair e, sei lá, os caras envelheceram ou começaram a tomar coca ao invés de pepsi. Alguma coisa rolou.

Eu (suspeito) adorei Interpol. Era rico, diferente, cheio de alma. Muita gente não curtiu. Achou diferente demais. O baixista Carlos Dengler saiu da banda e o disco novo estava demorando. Os fãs tinham medo do que viria por aí. Medo do Interpol não ser mais o mesmo. Medo.

Mas aí chegou El Pintor e fez o queixo de todo mundo cair.

A mesma banda em um novo momento. É diferente? É. Mas de jeito nenhum é ruim. O disco traz 10 músicas, algumas fantásticas (como a do vídeo acima) e outras nem tanto, mas ainda muito boas. Como um trabalho só, um disco as is, o álbum está ótimo. Dá para sentir um pouco dos dois primeiros CDs, bastante Our Love to Admire e ainda mais do CD homônimo.

Com ótimos riffs de Daniel Kessler, a voz triste de Paul Banks (e os baixos, já falo disso) e a bateria de Sam Fogarino, fiquei muito feliz em mais uma vez ter Interpol em meus fones de ouvido. Músicas como All The Rage Back Home, cujo refrão é pegajoso e com melodia bem feita, marcam o disco. My Desire tem uma frase de guitarra que se repete e enche a música sem muita complicação. Same Town, New Story (que é meu título para a transição da banda) tem outra frase interessante, ainda mais ligada à bateria e ao tecladinho da introdução.

Interpol é uma banda velha com elementos novos. Ouvir El Pintor foi como receber um amigo que não vejo há tempos e, olha, ele deixou a barba crescer e está com um novo corte de cabelo. Até trouxe umas coisas novas e whoa, TIDAL WAVE.

O disco é curto, com mais ou menos 40 minutos. Ouvi-lo em uma sentada é legal mas cansa um pouco nas últimas músicas, o que faz a curteza ser essencial. Se El Pintor tivesse, digamos, uma hora, seria cansativo demais chegar nas últimas canções. Não me parece que há uma ordem correta ou incorreta de músicas a serem ouvidas (além das três primeiras — que são primeiras de propósito), então dê play do início ou solte o shuffle.

Uma das coisas que não me agradaram no disco foi o baixo. Como foi o próprio Paul Banks quem gravou o instrumento, faltou o molejo de um baixista, com notas pulsantes, bem pensadas e colocadas nas músicas como só um baixista põe. Everything is Wrong é uma dessas faixas que perdem pontos por ter um baixo ruim.

Uma das coisas mais chamativas no primeiro álbum da banda é o baixo bem executado. Mas, como eles mesmo dizem na primeira frase de Ancient Ways…

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Angelo Dias
angelocria

Designer e escritor. Edito e escrevo um jornal de ficção especulativa em www.temposfantasticos.com. Conheça meu trabalho em www.angelodias.com.br