Mulheres que cantam

Angelo Dias
angelocria
Published in
6 min readJan 26, 2015

Escrevi esses textos entre abril e junho de 2013 no falecido Eksperimentar. A ideia era fazer uma série de posts sobre mulheres vocalistas. Abaixo você pode encontrar recomendações de quatro cantoras excepcionais, cada qual com seu estilo e apresentação diferente. Espero que curta!

NNEKA

nneka

Eu não sei do que estou falando. E isso é uma coisa boa, nesse caso. Vim recomendar um tipo de som que não estou acostumado a escutar, em meio a milhares de músicas de estilos variados. Vim recomendar um hip-hop de primeira qualidade. Nneka Lucia Egbuna, uma cantora filha de um nigeriano e uma alemã, faz um som muito legal. Dá pra sentir na voz da mulher o sentimento que ela canaliza para os microfones. Vamos começar com Focus, um som com uma pegada rock e rimas políticas frenéticas. “Will you sell your soul for free?”.

É com esse inglês de sotaque carregado que a mulher de atitude faz suas rimas com categoria. O único álbum que escutei foi No Longer At Ease, e… que porrada! Nneka tem personalidade e não se limita a letras poderosas. A musicalidade do álbum é digna de qualquer admirador de música. Saca só o som Niger Delta e a essência Reggae da música.

Nneka não é só uma cantora excepcional. Enquanto crescia em sua carreira musical, estudou antropologia na Universidade de Hamburgo, na Alemanha. “Ah, Angelo, a moça é filhinha de papai.” Pois é, não. Ela divide seu tempo entre seu país natal e o país de sua mãe. O álbum No Longer At Ease fala exclusivamente da política do delta do rio Níger, local de nascimento da cantora. O hit do CD é Heartbeat, e, como a batida de um coração, o som é bem pesado e cheio de sentimento.

Nneka é para os bons de ouvido. Os baixos pulsantes, a voz com timbre suave e toda a raiva e a indignação passadas em cada frase fazem o álbum ser imprescindível. Como já disse, não sei falar de hip-hop, não conheço nada além disso, mas tenho CERTEZA que estou fazendo um bem para a humanidade em recomendar Nneka para vocês. TOMA OUTRO SONZÃO!

MELISSA AUF DER MAUR

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Depois da voz poderosa de Nneka, trago outra cantora poderosa, porém com um estilo diferente. A canadense Melissa Auf Der Maur é ex-baixista da banda Hole e também tocou com The Smashing Pumpkins em seu último tour. MAdM é uma artista fascinante. Curta um som de seu primeiro disco, Auf Der Maur:

A moça packs a punch com seu rock bem marcado e sua voz firme. Um bom e velho rock, sem frescuras e solos frenéticos. Com direito a headbanging e backing vocals bem colocados, Followed the Waves é um som contagiante. Pensa que é uma cantora de um hit só? Saque então Real a Lie.

Não tão pesado quanto o som acima, mas tão legal quanto. Os riffs bem colocados, o mesmo clima do outro clipe e… polaroids. O jeito que Auf Der Maur faz seu rock afasta os estereótipos machistas de “música de menina” e “música de macho”. É música foda, para quem curte uma boa guitarra e letras bem escritas. Quer entender do que digo? Mais um som do seu primeiro CD: I’ll Be Anything You Want.

É tão rock ROCK que tem até músicas com teor sexual. E se escutar o som até o fim vai encontrar uma ótima referência ao grande Ozzy Osbourne e seu Black Sabbath. Pegue essa linha de baixo marcante, as frases com pouquíssima guitarra e… o som contagiante.

Melissa Auf Der Maur é fantástica e faz um som tão fantástico quanto. Seu álbum mais recente, Out Of Our Minds, traz uma canção homônima que arrepia os cabelos do braço. Duvida? Assista o clipe então:

Palmas de pé para Melissa Auf Der Maur. Mostro um vídeo da moça tocando outro sonzão. Como diz algum apresentador aleatório de TV: quem sabe faz ao vivo.

sarah blasko

SarahBlasko

Falei de Nneka, de MAdM e, continuando o padrão de mulheres vocalistas com estilos diferentes, trago agora Sarah Blasko, uma cantora de… err…

Sarah Elizabeth Blaskow (quem deu a ideia de tirar o W foi um gênio) é uma cantora australiana de… pop? Não sei mesmo o estilo de suas canções! Algumas músicas são mais lentas, outras mais pegadas… não é rock, ok. Não é alternativo. Mas será que POP é o gênero correto?

Ah, pouco importa. O notável mesmo é a capacidade da moça de fazer belíssimas músicas com letras fas-ci-nan-tes. Sério, poesias com um violãozinho no fundo. Exemplifico isso com Always Worth It, uma de minhas favoritas. (Recomendo acompanhar a letra)

Que som gostoso né? Que voz calma, serena, feita para uma tarde chuvosa ou noite fria. Mas não para por aí. A moça não tem só uma voz bonita que fica melhor ainda sob trezentos efeitos de estúdio. Ela canta muito. Quer uma prova? Então aí vai outro som fantástico, ao vivo, acelerado e com uma pegada diferente da versão de estúdio.

Não tem muito o que falar da mulher. O estilo dela continua indefinido, mas o poder da voz tranquila e as composições perfeitas em instrumental e letra não deixam espaço para palavras. Por isso, lanço abaixo outra música serena, ao vivo, só no violãozinho.

É o tipo de som que você escuta com o parceiro embaixo das cobertas. Bonita, talentosa e divertida, essa é Sarah Blasko. Porque divertida? Conhece OutKast?

Para finalizar essa recomendação (que está mais para uma puxação de saco), mostro um clipe muito bem feito e com uma música fantástica (ORLY?)

O disco The Overture & The Underscore é o destaque.

my brightest diamond

My Brightest Diamond

Esse texto foi escrito antes do lançamento do álbum This Is My Hand.

Vou começar igual, tá? Falei de Nneka, MAdM, Sarah Blasko e termino essa série de mulheres no vocal com algo… completamente diferente. My Brightest Diamond tem o estilo tão inexplicável quanto Blasko, mas de um jeito diferente. Sem ounnns ou gracinhas. O som dela é sério, triste e simples, o que me faz admirá-la pelo pouco em suas canções e o tanto de sentimento que elas carregam. Vou começar com um mais recente.

A multi-instrumentista Shara Worden é a líder do projeto todo. Ela é a compositora e cantora das músicas, todas com letras belas e intrigantes. Esse próximo vídeo fala da visão de uma criança sobre a morte. Sério, crianças e morte na mesma música, em tom menor.

Arrepiou? Pois é, My Brightest Diamond tem essa característica. As músicas mínimas e com poucos efeitos trazem sentimentos diversos durante as canções. Não dá pra explicar… é explosivo. Robin’s Jar tem essa cara de coisa pouca que vai crescendo e que chega a um ponto grande, expansivo, com voz mais projetada, backing vocals… Mas, na minha humilde opinião, o som mais explosivo da cantora está em Something of an End, que fala sobre… o fim. Um terremoto? Um cataclisma? Uma doença terminal? Não sei. Mas é bonito e é terrível.

Seguindo o exemplo de Blasko, apresento-lhes um cover da moça que ficou bem diferente do original. Tainted Love, da banda Soft Cell, na voz de Shara ganha um teor ainda mais sensual e festivo que a música original.

Termino aqui minha série sobre mulheres cantoras. Os textos podem estar meio defasados, já que são parte de um copia-e-cola do Eksperimentar, com algumas edições. Curtiu alguma delas? Deixe um comentário, compartilhe esse post com seus amigos e repasse música de qualidade pelas internets.

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Angelo Dias
angelocria

Designer e escritor. Edito e escrevo um jornal de ficção especulativa em www.temposfantasticos.com. Conheça meu trabalho em www.angelodias.com.br