Angola, Mercado de Oportunidades

Porquê empresas “jovens” nacionais pretendem fazer “quase tudo”?

Amarildo Lucas
Made in Angola
Published in
5 min readJan 6, 2015

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Pense grande! Comece pequeno…

Queria muito que fosse um post onde pudesse contribuir mais, sugerir mais, partilhar mais coisas positivas, mas infelizmente começaremos a tentar melhorar em alguns aspectos antes.

No último mês do ano combinei um Skype com o Ailton Vieira, Engenheiro Informático e Consultor Auxiliar na Sintec. O motivo ou a base da nossa conversa seria o relatório da primeira reunião que aconteceu no INAPEM, instituto nacional de apóio às Micros, Pequenas e Médias empresas.

Eu estava curioso em saber como foi a reunião e comecei logo fazendo perguntas atrás de perguntas como se fosse uma entrevista. As vezes nem dando espaço de respostas para o coitado. Comecei a fazer diversas questões desde os membros até ao local. Perguntas como:

  • O que fazem as outras empresas, ou quais são as ideias de outros jovens lá presentes?
  • Quem são os patrocinadores, ou mentores? Há empresas privadas por trás?
  • Como foi a apresentação ou a abertura da reunião e por quem foi feita? Perfil da pessoa?
  • Como será as próximas fases?
  • Como é o espaço “coworking” do INAPEM? Estrutura, mobília, design, etc? E como será para as pessoas que passarem para as fases seguintes?
  • Nossa equipa trabalha remotamente. Nossa presença é obrigatória todos os dias?
  • Qual a vantagem que teríamos se passarmos na aplicação? E se não passarmos, afectaria alguma coisa no nosso trabalho?
  • Existe sentido de oportunidade ou é mais conversa e padrinhos na cozinha?
  • Como foi o “networking” com outros jovens lá presentes?

Continuarei meu artigo agora não respondendo o que o Ailton Vieira disse-me mas tirando minhas conclusões conforme a experiência do evento que ele me passou e minhas especulações.

Simples! Mais perguntas:

Porquê que as empresas de jovens angolanos ou recém-formados na maioria pretendem fazer tudo?

Porquê não entrar num “nicho” de mercado, analisar modelos de negócios e sentido de oportunidades e começar por aí?

Porquê fazer quase tudo se você pode fazer algo especificamente melhor?

Diversos ou a maioria dos candidatos tínham ideias bastante generalizadas, suas empresas vendem cursos de diversas linguagens de programação, redes, fazem consultorias em diversas áreas, fornecem manutenção de diversos aparelhos, possuem Cybers, vendem materiais físicos desde diversos materiais informáticos, estão na área de desenvolvimento web, de desenvolvimento de softwares, em várias áreas como gestão, educação e/ou governamentais, até cursos de idiomas ministram, etc, etc…, não pretendo continuar nisso, pois daria numa boa ladainha!

Isso me demonstra um espírito não empresário ou empreendedor…

Está mais para um espírito do “biolo”… O que der deu. “money money”. Acredita! Estes são investimentos à curto prazo. De vender hoje, gastar daqui há um tempinho e depois continuar na mesma rede. Mas o teu negócio não escala. Não escala porque provavelmente você já está começando errado. Não escala porque você não mede, não testa, não aprende, não melhora. Você simplesmente vende! Sem padrão. Sem visão.

Alguns patrocinadores são empresas privadas como a Chevron. Queria saber se tem mais outras. Mas o que estes patrocinadores farão pelas empresas que passarem? Investimento? Mentoria (formação)? Pensei logo que há muito que esse sistema existe nos outros países e que ninguém investe ou se desgasta em recursos para não ganhar nada.

Ao mesmo tempo também imaginei que o governo angolano tem muito dinheiro e que também algumas coisas nem sempre são planejadas e medidas à meta. Basta olharmos para as outras áreas ou nossas obras e infra-estruturas. Mas este não é o caso. Imagino que apenas empresas com um bom modelo, um modelo escalável e com tom de maturidade, visão e boas ideias irá avançar para os próximos passos afim de escalar e com isso a própria incubadora ganhar com esse investimento no futuro. Mas isso eles é que analisam. As vezes nos tornamos ignorantes, cegos e esquecemos os nossos princípios e conhecimentos pelo dinheiro.

Atenção: Investimento não é só dinheiro!

Eu acho que muitas ideias de nós jovens angolanos partem de forma ilícita do enriquicimento rápido. Isso é fruto da nossa sociedade. E isso o porquê de idealizarmos ideias de empresas que querem vender quase de tudo. Sem base ou modelo específico.

Me ocorre agora na cabeça o seguinte modelo:

Sabe as senhoras que viajam para o exterior, comprar roupas e diversos outros objectos para revender há um preço mais caro? Sim, Luanda é a cidade mais cara de África certo? Estas pessoas fazem este circo há anos, crescem na vida, constroem coisas e de certeza o dinheiro ganho ajeita em muita coisa. Mas este modelo não escala! Não cresce! A pessoa melhora de vida mas continua a mesma pessoa em termos de negócios. Hoje pode ter algo e amanhã nada. A conta bancária oscila que nem lâmpadas na árvore de natal.

Atenção: Isso não é generalizado mas assim são diversas empresas “jovens” que temos cá. Isso porque o investimento é a curto prazo.

Nesse leque safam-se apenas pessoas com os parceiros certos, algum padrinho na cozinha e pessoas influentes aí na sua “back”, pessoas de algumas maiores empresas angolanas ou mesmo governo que desconhecemos. Você pode ter a sorte de conquistar isso ou nascer numa família já assim. Ou pelo menos ter aquele primo do vigésimo grau numa família assim!

Você pode até começar do baixo mas se não estiver ligado à parceiros e ter a “back” certa você vai continuar neste ciclo do cresce-desce à cresce-desce.

Impossível sem uma “back”? Não.

Mas provavelmente você vai precisar trabalhar e se dedicar muito no que faz. Você vai enfrentar marés em sentido contrário de pessoas que sempre te vão colocar para baixo… Sei! Isso é geral… Mas nós angolanos temos um vocabulário e astúcia ao dizer certas palavras que até dói. Para chorar mesmo! Mas não olhe por aí. De cabeça erguida atinja e trabalhe para os teus objectivos.

Meu conselho… Eu não sou ninguém… Tão menos devo ter mais experiência que você… Mas faça o senguinte:

  • Enxergue sempre longe, mas comece pequeno.
  • Alguns investimentos possuem resultados à longo prazo. Não pense curto, ainda mais em tecnologia.
  • Valide rápido. Teste rápido. Aprenda. Mas comece pequeno e vai escalando.
  • Descubra seu modelo de negócio ou pelo menos posicione sua empresa num mercado específico e se for abrangente saiba vender.
  • Faça da melhor forma e seja o melhor nessa área. Algumas oportunidades aparecem por si só. Sorte? Não! Trabalho…

Como digo à um amigo meu recém-formado, nós precisamos de um porto seguro. Isso é, precisamos do apóio dos nossos pais, precisamos arranjar um emprego e ter um salário, sermos responsável na vida e termos algum carácter. Mas tudo isso não implica que não devemos fazer o que gostamos.

Vamos trabalhar nas nossas ideias nos tempos vagos, nos finais de semanas, nas horas oportunas, vamos fazer um investimento à longo prazo. Somos jovens com fome de idéias e de crescer na vida, podemos temperar tudo isso na mesma panela mas saber o momento que devemos acrescentar cada ingrediente.

Nossos pais são os primeiros empreendedores que conhecemos nessa vida.

Existem perguntas não respondidas neste artigo, aliás a maioria. Se você quiser opinar, dar uma sugestão ou simplesmente conversar, esteja à vontade em me encontrar no twitter ou na página da Beezond.

Meu nome é Amarildo Lucas, fundador e CEO na Beezond. Se você gostou ou se identificou com o artigo partilhe nas suas redes sociais, recomende para seus amigos, espalha a mensagem!

Vamos discutir sobre isso…

Obs: Desafio-te a descrever o negócio de alguma empresa angolana em menos de 140 caracteres… mesmo que não famosas partilhando esse artigo em seu facebook ou twitter! Me identifique se assim desejar “Amarildo Lucas / @vmarildo”

Feliz 2015! ☺

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