O que a pornografia que você vê, tem a ver com a pedofilia?

Yatahaze
Anti Pornografia
Published in
9 min readOct 2, 2017

Pedofilia tornou o assunto mais comentado no momento nas últimas semanas após duas exposições serem atacadas pelo grupo MBL e seus aliados. Deixando de lado assuntos ligados diretamente a esses incidentes, quero falar sobre outro lado pouco discutido da pedofilia que é a pornografia infantil que está diretamente ligada a ela.

Os casos de pornografia infantil dominam as denúncias de crime na internet feitas no Brasil, segundo os levantamentos periódicos da Safernet, ONG que luta contra crimes virtuais. Dados das companhias de tecnologia americanas também mostram que o Brasil está entre os países com maior incidência de denúncias por divulgação de imagens de pornografia infantil, ao lado de Estados Unidos, México, Índia, Indonésia e Tailândia. Estima-se que mais de 1 milhão de imagens de pornografia infantil circulem via web no mundo.

No ano passado, o Disque 100 (serviço do Governo Federal que recebe denúncias contra violação dos direitos humanos), recebeu 17,5 mil comunicações de violência contra crianças e adolescentes. A maioria das denúncias refere-se aos crimes de abuso sexual (72%) e exploração sexual (20%). As demais ligações estavam relacionadas a outras violações, como pornografia infantil, sexting (divulgação de conteúdo sexualmente explícito na internet), grooming (tentativa de adulto em conquistar a confiança da vítima), exploração sexual no turismo e estupro.

De acordo com dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a cada dia, em média, cinco crianças são vítimas de violência sexual on-line. O número de sites com conteúdo de abuso sexual infantil cresceu 147% de 2012 a 2014. Meninas de 10 anos ou menos representam 80% do material divulgado nas páginas. Dados divulgados pela Polícia Federal, com base em levantamento da ONG Censura, apontam que 76% dos pedófilos do mundo estão no país, onde o crime acontece a cada oito minutos.

Menos de 1% das crianças e adolescentes vítimas de pornografia infantil são identificadas.

Apenas 0,65% das crianças e dos adolescentes vítimas de pornografia na internet em todo o mundo são identificados, de acordo com Thiago Tavares, presidente da SaferNet Brasil. O índice de menos de 1% é preocupante e evidencia que mais de 99% das crianças abusadas e exploradas sexualmente no mundo não só se encontram fora dos serviços de atendimento, mas ainda podem estar sendo vítimas de seus agressores, explica. Segundo ele, são 700 mil páginas diferentes de pornografia infantil circulando na rede, que podem ter sido postadas a partir de qualquer lugar no mundo. “Por isso, embora o material encontrado seja prova concreta de crimes cometidos, as autoridades não conseguem identificar nem o local, e muito menos a vítima, a não ser que alguém faça esse reconhecimento e denuncie”.A expectativa, entretanto, é que com o uso de tecnologias avançadas essas identificações venham a ser feitas. São tecnologias capazes de coletar as informações das fotos anexadas, os chamados meta dados.

A pornografia adulta, assim como a pornografia infantil é usada como preparação para aliciar crianças para os abusos. Os abusadores usam esse tipo de material como forma de normalizar o ato sexual entre adultos e crianças criando um vínculo entre o abusador e a vítima.

Mostrar pornografia para meninos e meninas é uma estratégia de sedução comum de pedófilos que esperam despertar a curiosidade sexual ou o desejo sexual das crianças. Por exemplo, Katherine Brady (1979) testificou da seguinte forma perante o Subcomitê do Senado sobre seu pai mostrando pornografia pela primeira vez à ela:

Quando me sentei na cama, ele espalhou as fotos de homens e mulheres nuas em todos os tipos de posições sexuais um com o outro. Olhando para eles, senti um arrepio a se espalhar pelo meu corpo … Senti o desejo sexual intenso, a revolta total, a crescente excitação, o abandono da razão, a sensação de pecado e a culpa, a vergonha de tudo e a resolução de esquecê-la até a próxima. (p. 78)

Os pedófilos que se apresentam como jovens adolescentes em grupos de bate-papo na Internet freqüentemente enviam fotos pornográficas ou mensagens de e-mail contendo linguagem pornográfica para crianças. Esses predadores usam imagens pornográficas para despertar a curiosidade ou o interesse sexual das crianças e manipulá-las para o encontro. Esses encontros geralmente culminam com a vitimização sexual da criança ou adolescentes.

A pesquisa em adultos revela que muitas mulheres, em contraste com os sujeitos do sexo masculino, ficam perturbadas quando expostas a imagens pornográficas. Os meninos são muito mais prováveis ​​do que as meninas serem sexualmente excitadas por imagens pornográficas. Conseqüentemente, mostrar pornografia tende a ser uma estratégia de “sedução” muito mais bem sucedida com meninos do que com meninas. Ann Burgess e Carol Hartman (1987) encontraram em sua pesquisa sobre anéis de pedofilia que “a sensação física e a excitação eram o elemento de prazer dominante que manteve os meninos nisso”. Parece razoável inferir a partir desta constatação que a excitação sexual dos meninos mina suas habilidades para escapar de anéis de pedofilia.

Assim, concluímos que a exposição à pornografia infantil ou adulta pode despertar a curiosidade ou desejo sexual das crianças e, assim, minar suas habilidades para evitar, resistir ou escapar de abusos sexuais.

“O aumento da demanda por pornografia infantil se traduz diretamente em um número crescente de crianças abusadas sexualmente (sic).” — Crimmins, 1995, p. 2

A exposição a pornografia cada vez mais degradante faz com que o homem deseje cada vez mais por materiais mais violentos. Existe um mecanismo de recompensa que é ativado cada vez que se observa pornografia. Com o uso constante de materiais cada vez mais difíceis, homens buscam novas formas de manterem-se excitados e acabam buscando material cada vez mais pesados, a pornografia infantil é uma delas.

A pornografia infantil transforma as crianças em objetos sexuais projetados para atrair pedófilos e molestadores de crianças não pedófilos. Um pornógrafo declarou que “as meninas, entre as idades de 8 e 13, são objetos muito vendáveis ​​… meninas jovens sem desenvolvimento excessivo e, de preferência, com pouco ou nenhum pelo púbico em seu corpo” (Campagna & Poffenberger, 1988, p. 133).

“Há uma entrevista com estupradores de crianças que não eram pedófilos, isto é nenhum deles se encaixava na descrição do que é um pedófilo — homens que em media aos 14 anos começam a molestar crianças e quando chegam na fase adulta deixam um rastro de centenas de vítimas.

Esses homens estavam presos por posse de pornografia infantil e por estuprar uma criança depois dos 50 anos, e quando eu perguntei se eles eram pedófilos eles ficaram ofendidos e disseram: “Claro que não! A gente prefere sexo com mulheres adultas!”

“Mas se vocês não são pedófilos, por que estupraram crianças?”

E a resposta que eles me deram foi: “Ficamos entediados com a pornografia adulta e queríamos tentar algo novo”.

E sabem quanto tempo eles levaram para estuprar uma criança depois de ver pornografia infantil? 1 ano.” Gail Dines

O ato de ver a pornografia infantil não existe no vácuo. A existência de imagens que exploram sexualmente crianças representa evidências tangíveis de abusos passados, presentes e, provavelmente, futuros. Mesmo aqueles indivíduos que não molestariam fisicamente uma criança e simplesmente afirmam que “apenas” recebem ou guardam pornografia infantil produzida por outros, desempenham um papel na exploração sexual de crianças.
A vitimização das crianças envolvidas não termina quando a câmera do pornógrafo é afastada … A demanda pela pornografia infantil faz com que mais e mais vítimas sejam exploradas para a gratificação masculina.

PORNOGRAFIA INFANTIL LEGALIZADA

A pornografia pseudo-infantil retrata as mulheres adultas como se fossem meninas jovens — não nos atos sexuais que realizam, mas nos adereços usados ​​e nas legendas ou textos que acompanham as fotos. A “infantilização” das mulheres na pornografia pseudo-infantil é realizada vestindo-as com roupas infantis, dando-lhes penteados infantis, fazendo com que eles façam poses de crianças com expressões infantis em seus rostos ou envolvendo-os com brinquedos para crianças. Uma forma predominante de pornografia, a infantilização também está se tornando cada vez maior.
A masturbação para a pornografia pseudo-infantil pode servir de ponte entre pornografia adulta e pornografia infantil. A transição da excitação masculina para a pornografia infantil pode ser conseguida através de um processo passo a passo de exposição a adolescentes sexualizados cada vez mais jovens e, eventualmente, meninas pré-púberes.

Em 2003, a lei que proibia pornografia com mulheres de 18 anos que aparentavam ter menos de 18 anos foi derrubada nos EUA. Do dia para a noite houve uma explosão de “pornografia infantil legalizada”. Estão todos na sessão “teen” dos sites pornográficos.

O resultado os filmes que temos hoje:

“Primeira vez com o papai.”
Está tudo bem! Ela é minha enteada.

Filmes como esses normalizam abusos intrafamiliar. Onde no Brasil em média, 70% dos casos de abuso sexual acontecem dentro de casa. A agressão é cometida por pais, padrastos, tios, irmãos ou outros parentes.
Dados levantado pelo PornHub, um dos maiores sites de conteúdo pornográfico online mostra os termos mais buscado por brasileiros e revelam como nossa cultura é pornificada e pedófila: “novinha”, “escola”, “virgem”,”teen” estão entre esses termos.

SABE, AQUELA NOVINHA? NÓS CHAMADOS DE CRIANÇA

A erotização infantil é um dos pontos mais importantes. Ao mesmo tempo que queremos proteger nossas crianças, a sociedade faz a sua adultização. Seja através das roupas, maquiagem, sapatos de salto para meninas que ainda tropeçam nos próprios pés, músicas, livros como Lolita de Nabokov, ou de uma suposta maturidade mais adiantada que é imposto para as meninas. A puberdade muitas vezes é vista como consentimento e convite para relações sexuais com adultos. A novinha, é uma criança.

Segundo o coletivo Think Olga, em média o primeiro assédio ocorre aos 9 anos de idade e como consequência os abusos sexuais também.

Em outubro de 2015,a participante do MasterChef Júnior, Valentina, foi vítima de assédio sexual nas redes sociais. Segundo seu pai Alexandre, contou que pediram fotos nuas sua.

O episódio da Valentina, gerou uma revolta geral e criaram a hashtag #primeiroassédio , onde as mulheres puderam contar o que sofreram quando crianças.

#PrimeiroAssédio: Mulheres compartilham no Twitter primeira vez que sofreram assédio

Gabriela Abreu, mais conhecida como MC Melody, é um exemplo de como crianças são sexualizadas e exploradas em nossa cultura. Ela começou a ser conhecida na internet quando gravou um vídeo dançando quadradinho de oito, uma dança extremamente erotizada.

“MC Belinho, pai e empresário da menina, foi processado pelo Ministério Público para que assinasse um termo de ajustamento de conduta, comprometendo-se a cumprir uma série de medidas para garantir o bem-estar da filha, entre elas a retirada de expressões de conotação pornográfica de suas músicas e a garantia de que ela usaria roupas adequadas para sua idade. Uma das maiores acusações na época do processo era a de que MC Belinho estaria explorando a imagem da filha para lucrar. “

Ele explora a imagem de sua filha. Ele cafetina uma menina que hoje tem apenas 10 anos.

Ela continua na mída e continua a ser adultizada.

“Vivemos em uma cultura que sexualiza crianças e infantiliza mulheres adultas para a gratificação dos homens”.
- Anderson, 1989, p. 7

Enquanto falam em proteger crianças, esses homens objetificam e sexualizam elas. Seja através da pornografia teen, seja através da pornografia infantil.

Existe uma cultura pedófila que deseja mulheres magras, sem pelos, sem rugas, bobas e obedientes,como se fossem crianças. A pornografia gera uma busca por isso. A pornografia é intrínseca dessa cultura que mostra homens desejando meninas. Que fazem homens esperarem o sinal da escola, para oferecem uma carona, que pedem nudes de adolescente, que sexualizam crianças e ao mesmo tempo tentam protege-las.

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