Por que eu procurei pornografia de estupro para lidar com o abuso que sofri e por que me arrependo.

Yatahaze
Anti Pornografia
Published in
6 min readApr 30, 2018

Muitas pessoas entram em contato com o Fight the New Drug para compartilhar suas histórias pessoais sobre como a pornografia afetou sua vida ou a vida de um ente querido. Consideramos esses relatos pessoais muito valiosos porque, embora a ciência e a pesquisa sejam poderosas por si só, relatos pessoais de pessoas reais parecem realmente mostrar os danos que a pornografia causa em suas vidas.

A verdadeira história pessoal desta mulher mostra que a pornografia normaliza comportamentos prejudiciais e abusivos. E isso não é nada legal.

Imagem by Borepanda

Minha luta contra a pornografia começou antes que eu realmente soubesse que havia uma batalha. Eu tinha 13 anos quando descobri pornografia pela primeira vez. Sexo é um assunto tabu na minha cultura, e pornografia é uma palavra que eu só ouvi adultos usarem. Eu ouvi meus amigos falarem sobre isso e eu queria descobrir o motivos de tanta gente falar disso.

Eu procurei a pornografia para aprender sobre sexo, e isso foi o pior erro que já cometi. Eu comecei a assistir o que eu considerava como vídeos “normais” na época, apenas homens e mulheres fazendo sexo. Mas não demorou muito para que eu eventualmente mudasse para coisas mais pesadas.

Um dia eu descobri um site que apresentava pornografia de estupro e imediatamente fui fisgada. Era chocante e parecia errado, mas minha curiosidade continuava me puxando pra lá. Até aquele momento, eu ainda conseguia sentir prazer em assistir pornografia, mas foi aí que comecei a pensar que talvez a pornografia não fosse tão inofensiva quanto eu pensava.

Como poderia eu, vítima de abuso sexual quando tinha 7 anos, me interessar em ver esse tipo de coisa?

Assistir a esses vídeos corroeu o significado de consentimento para mim. As mulheres nos vídeos sempre começam dizendo não, mas os caras sempre parecem convencê-las em concordar no final e, em seguida, as mulheres agem como se elas gostassem eventualmente. Depois de ver isso acontecer bastante, achei normal.

Na mesma época, um homem mais velho que eu confiava em todo o meu ser começou a me tocar de uma forma que eu sabia que não estava certo. Claro que tentei lutar contra ele no começo, mas ele ficou muito agressivo. Foi nesse momento que pensei comigo mesmo: Para que gastar toda essa energia lutando contra ele? Qual é o grande problema? Eu fui molestada antes. Eu também disse a mim mesma que seria diferente desta vez, já que eu não era mais uma criança, pelo menos eu seria capaz de controlar a situação. Se eu simplesmente deixasse ele ter o que ele queria, não seria abuso se eu deixasse acontecer.

Como eu continuei a ser aproveitada, eu recorri à pornografia para normalizar o que estava acontecendo comigo. Toda vez que eu entrava na internet, eu procurava por cenas de estupro para tentar me convencer de que o que estava acontecendo estava bem. Isso reforçou em minha mente que as mulheres estavam lá para serem usadas para o sexo, e no final elas sempre pareciam gostar de qualquer jeito.

Toda vez que eu tremia de medo quando ele estava perto, eu apenas dizia a mim mesma que era normal, que eu estava apenas um pouco ansiosa. Eu me convenci de que, porque eu não estava lutando contra aquilo, eu ainda estava no controle da situação, como se eu tivesse algum tipo de limite que ele não cruzaria. Mas como poderia uma menina confusa de 13 anos controlar um homem de 30 anos?

Eu estava perdida no mundo obscuro da pornografia por anos sem ninguém a quem recorrer. Eu estava sendo abusada, mas me recusei a dizer que era na época. Eu estava com vergonha de mim mesma. Como eu poderia explicar isso para alguém sem que eles me julgassem? Sem que me olhassem de maneira diferente? Às vezes eu ia para a escola ou para a biblioteca e me sentia como se todos pudessem ver como eu era repugnante, como se soubessem dos meus segredos mais profundos. Eu tive problemas em socializar e fazer amigos por causa desse peso que eu carregava.

Um dia, não muito tempo atrás, eu encontrei a página no Facebook e fiquei lá lendo cada post, cada comentário, cada história compartilhada. Eu desmoronei em lágrimas, chorei por horas, e decidi que tentaria lutar contra esse vício em que eu havia caído.

Eu tinha falhado tantas vezes — eu parava de assistir, começava de novo, então parava outra vez, então eu descobria um tipo diferente de pornô, e ficava viciada nisso. Foi uma luta longa e exaustiva.

Eu acho que quando eu realmente me decidi parar de ver pornô de verdade, foi quando uma noite aquele homem começou a me tocar e eu lhe disse não. Eu tentei empurrá-lo e ele apenas sorriu para mim e me disse: “Você sempre foi uma provocadora, sempre se fazendo de difícil.” Ele começou a segurar minhas mãos juntas muito forte, impedindo-me de me mover, e não importava o quanto eu gritava para ele parar, que ele estava me machucando, ele não escutava. Eu estava absolutamente aterrorizada, e foi então que finalmente percebi que nunca estive no controle.

As justificativas que eu usei para normalizar o que estava acontecendo comigo, tudo desmoronou quando perdi todo o controle. Acabou no momento em que percebi que o que ele estava fazendo para mim nunca foi normal. Aquele sentimento de desgosto não me deixou por anos. Eu estava com nojo de mim mesma por deixar isso chegar tão longe, eu me odiei, eu odiava a pele que eu estava. Eu odiava ser uma garota e eu odiava qualquer tipo de atenção dos homens depois disso, dizendo a mim mesma que eles só estavam interessados ​​em usar minha corpo.

Naquela época, eu achava que sexo era tudo que eu tinha para oferecer. Eu tenho agora 19 anos e aprendi a seguir em frente, depois do que aconteceu comigo. Eu não sou um objeto que pode ser usado para o prazer de alguém. Eu sou uma mulher e tenho meu valor. Eu mereço amar e merecer ser amada. Fight the New Drug me ajudou durante toda a minha jornada com esse vício da pornografia e me deu força para finalmente contar minha história.

Eu ainda luto às vezes e tudo bem, porque eu sei que estou chegando onde eu quero estar. Estou livre de pornografia há alguns anos e, embora os pensamentos de ter intimidade com um cara às vezes me envenenem em um ataque de pânico, decidi aceitar um dia de cada vez.

A pornografia mata o amor, mas agora sou forte o suficiente para lutar por isso.

- M.

Por que isso importa

Uma recente pesquisa nacional perguntou aos participantes que tipo de imagens eles consideravam “errado” no pornô. Entre as 1.188 pessoas pesquisadas, 46% das pessoas que consomem pornografia responderam que imagens de “atos sexuais que podem ser forçados ou dolorosos” não são erradas. Sim, você leu corretamente: quase metade dos consumidores de pornografia acha que a dor e o abuso na pornografia estão bem. Ainda mais, apenas 50% dos adolescentes e jovens adultos entrevistados (entre 13 e 25 anos) acham errado consumir essas imagens de pornografia violenta.

As linhas estão sumindo entre o que é sexy e o que é prejudicial no pornô de hoje. E isso está claramente tendo efeitos negativos no consentimento e no que as pessoas vêem como sexualidade saudável. Estudos mostram que quanto mais alguém assiste a pornografia, com o tempo e o uso frequente, mais eles tendem a gravitar em direção a gêneros hardcore para alcançar os mesmos níveis de excitação. Esses efeitos sobre o cérebro são o que fazem com que tantos consumidores de pornografia pensem que a pornografia violenta é boa — seus cérebros foram alterados pelo próprio pornô para encontrar dor que o excita para assistir.

Isso tem implicações altamente negativas em nossa sociedade e estamos vendo os efeitos em primeira mão. É o que acontece quando nos tornamos complacentes com o abuso e a exploração de pessoas para entretenimento e excitação. Nossos corações estão lutando enquanto navega tentando curar o abuso sexual em um mundo que consome pornografia onde “não” significa “tente com mais afinco”. Sabemos que sua história é apenas uma das inúmeras pessoas que sentem o mesmo.

É por isso que lutamos para conscientizar que a pornografia é muito além do que entretenimento inofensivo.

Relato traduzido da página FTND. Você pode ler ele em inglês aqui. Tradução Yatahaze.

--

--