Kleo e os traidores do socialismo

André Lobão
Anticapitalista e antifascista
3 min readAug 31, 2022

Kleo é uma série alemã de oito episódios que está disponibilizada na Netflix. A produção conta a história de uma agente (Kleo Straub) da Stasi, o então Ministério para a Segurança do Estado da antiga Alemanha Oriental, que sofre um processo de expurgo após cumprir uma missão. O pano de fundo da narrativa, que mistura ficção e realidade, é o processo que começa com a queda do Muro de Berlim e culmina com o fim da República Democrática Alemã (RDA) e a consolidação da reunificação (absorção) com a República Federativa Alemã, antiga Alemanha Ocidental, formando o atual país unificado, a partir de outubro de 1991.

O roteiro principal envolve a vingança de Kleo contra seus superiores responsáveis por sua prisão de três anos, tendo como história secundária o processo de corrupção dos dirigentes da antiga RDA cooptados pelo capitalismo alemão ocidental que durante o processo de reunificação pilhou e adquiriu empresas e serviços estatais. Aliás, esse é um tema que nunca é abordado com profundidade quando se debate o fim da hegemonia socialista no leste europeu, com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética.

Como nada acontece por acaso, e às vezes acontece a mera coincidência, no momento em que estava sendo produzido este texto foi noticiado o falecimento do último líder da União da Soviética, Mikhail Gorbatchov, considerado pelo capitalismo um “herói” e para grande parte dos socialistas e comunistas, um traidor. Gorbatchov, que comandou o país entre os anos de 1985 e 1991, fez na realidade uma retomada capitalista que eufemisticamente era apresentada com uma modernização do modelo econômico (perestroika) e político (glasnost).

Da mesma forma que aconteceu na RDA, aconteceu um processo de pilhagem nos países que compunham a antiga URSS, sendo isso também pouco debatido. O que de certa forma também acontece no momento no Brasil que aplica o modelo econômico neoliberal que saqueia direitos dos trabalhadores e recursos do estado em prol de grandes grupos capitalistas.

O Brasil, que obviamente não é e nunca foi um país socialista, muito pelo contrário, 30 anos depois da queda da URSS, “Pindorama” vive um processo semelhante comandado por um presidente entreguista, no caso Bolsonaro, um político de extrema-direita, que entrega a Petrobrás, Eletrobrás, Programa Espacial (Base de Alcântara), recursos hídricos, minerais e Amazônia ao capital financeiro internacional, o que pode ser comparado ao feito do bufão Boris Yeltsin que sucedeu Gorbatchov já na era da Federação Russa. Yeltsin privatizou e desmontou toda estrutura da antiga URSS, inclusive o formato do estado social, deixando a população à míngua. É evidente que o modelo soviético apresentou erros em cima de erros, como uma incapacidade de se renovar e , sem ter capacidade de solucionar suas mazelas.

Kleo na ficção não esqueceu seus traidores, e na vida real os trabalhadores do mundo também não esqueceram os seus, mesmo que esses traidores estejam mortos ou vivos.

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André Lobão
Anticapitalista e antifascista

Apenas um jornalista antineoliberal, anticapitalista e brasileiro, acima de tudo.