5 livros essenciais para derrubar fronteiras

João Abel
antifronteiras
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4 min readOct 11, 2016

Não existe melhor forma de se desconstruir e refletir sobre o mundo do que a leitura de um bom livro. Aqui, eu apresento cinco leituras que me fizeram entender melhor nossas barreiras artificiais e como elas causaram uma crise mundial de refugiados:

1. Muito Longe de Casa, de Ishmael Beah

Esse best-seller é o retrato fiel de como a partilha da África foi desumana e precursora de inúmeras guerras no continente. A história é a autobiografia do autor: recrutado pelo exército do governo de Serra Leoa aos 13 anos, Ishmael descobriu que era capaz de atrocidades inimagináveis.

“As aldeias que invadíamos e transformávamos em nossas bases enquanto avançávamos e as florestas onde dormíamos tornaram-se minha casa. Meu pelotão era minha família, minha arma era meu provedor e protetor, e minha lei era matar ou ser morto. Meus pensamentos não iam muito além disso. Estávamos lutando havia mais de 2 anos e a matança tinha se tornado uma atividade diária. Eu não tinha pena de ninguém. Minha infância tinha passado sem que eu soubesse, e parecia que meu coração havia congelado” (trecho do capítulo 15)

Você ainda pode conferir uma entrevista do autor à CBS News clicando aqui.

E se quiser se aprofundar no tema, sugiro ainda o documentário Beasts Of No Nation, da Netflix.

2. Contra o Fanatismo, de Amós Oz

Leitura importante para compreender o conflito entre Israel e Palestina, Contra o Fanatismo é um compilado de conferências feitas pelo escritor israelense na Alemanha. A obra mostra as raízes do confronto e como é possível resolver as divergências na região, deixando de lado os ultrafanáticos.

“O conflito palestino-israelense não é um filme de faroeste. Não é uma luta entre o bem e o mal. Vejo-o, antes, como uma tragédia, no sentido antigo e mais preciso da palavra ‘tragédia’: um choque entre certo e certo, uma reivindicação muito poderosa, muito profunda, muito convincente, e uma outra reivindicação muito diferente, mas não menos convincente, não menos poderosa, não menos humana” (trecho do capítulo 2)

3. Terror e Esperança na Palestina, de José Arbex Jr.

Ainda sobre a tensão no Oriente Médio, entre judeus e palestinos, o jornalista e professor José Abrex Jr. traz neste livro, de 2002, sua experiência na “terra santa” e mostra como Israel implantou um sistema de controle e repressão nas terras palestinas desde 1967.

“[…] a tragédia palestina coloca uma questão para toda a humanidade. Ela é inaceitável, em termos morais e humanos: depois do Holocausto e de todas as experiências terríveis que o mundo viveu com os regimes totalitários ao longo do século XX, não é mais possível tolerar a punição coletiva de todo um povo, o apagamento de sua história” (trecho da Conclusão)

Para entender melhor o contexto dessa guerra, também recomendo o ótimo documentário Promessas de Um Mundo Novo.

4. Cabeça de Turco, de Günther Wallraff

Clássico de 1985, esse livro não poderia ser mais atual. Nele, Wallraff resolve sentir na pele como era ser um imigrante na Alemanha dos anos 1980. Para isso, ele se caracteriza, passa a falar com sotaque e busca viver como um turco, dando uma aula tanto de atuação, quanto de jornalismo. A obra é uma viagem aos porões da sociedade alemã e mostra como a xenofobia em seu nível mais baixo sempre foi um elemento presente na sociedade europeia.

“Já no primeiro dia de trabalho, fazem-me compreender qual é meu verdadeiro lugar. Há mais de uma semana os banheiros dos operários estão entupidos. A poça de urina chega quase à altura do tornozelo. ‘Vá pegar um balde, um esfregão e panos de limpeza! Quero tudo isso limpo e bem depressa!’” (trecho do capítulo O Canteiro de Obras)

5. A Cidade do Sol, Khaled Hosseini

Escritor afegão — e um dos autores que mais gosto — , Khaled Hosseini não poderia ficar de fora na lista. Sua coletânea apesar de pequena, nos ajuda a entender a cultura do Afeganistão. A Cidade do Sol traz um contexto ainda mais fundamental: o machismo no Oriente Médio. As histórias entrelaçadas de Mariam e Laila mostram a dificuldade da mulher em meio ao conflito do Talibã e à crescente intolerância religiosa.

“A certa altura, Laila conseguiu se esquivar e acertou um soco na orelha do marido, que soltou um palavrão e saiu atrás dela com mais fúria ainda. Quando a alcançou, atirou-a de encontro à parede e bateu, bateu, bateu, atingindo com a fivela do cinto, o seu peito, os seus ombros, os seus braços erguidos, os seus dedos, deixando-a inteiramente ensanguentada” (trecho do capítulo 45)

Boa leitura!

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João Abel
antifronteiras

jornalista, autor de ‘BICHA! homofobia estrutural no futebol’ e coautor de ‘O Contra-Ataque’