Afinal, o que é elasticidade?

Cleber Veiga
Análise Normativa
Published in
6 min readJun 5, 2019

Toda profissão tem alguns termos que são próprios dela, advogados falam em “embargos”, “acórdão” e “dolo”. Matemáticos em “vetores”, “apótemas” e “corolários”, médicos também tem seus termos, mas se eu abrir o dicionário de termos médicos, a cada termo eu vou ficar pensando “será que eu tenho isso?”, então melhor parar por aqui.

Em economia, existem alguns termos que são próprios da profissão e obviamente, assim como eu não sou obrigado a saber o que é um “embargo infringente”, ninguém é obrigado a saber o que é “monopsônio” ou “peso morto”. Mas apesar de não precisar decorar termos técnicos, é importante conhecer alguns fundamentos básicos do funcionamento da economia, e um conceito que todos deveriam conhecer, até para poder formar opinião acerca de políticas públicas, é a ideia de elasticidade.

Primeiro vamos ao termo técnico: Elasticidade é a “medida de resposta da quantidade demandada ou da quantidade oferecida a variações em seus determinantes” (Mankiw).

Agora vamos tentar simplificar:

O conceito básico de economia, é que todos os mercados são formados por compradores e vendedores, no lado dos compradores, a quantidade demandada vai variar de acordo com o preço, ou seja, quanto mais barato for um item, mais gente interessada em comprar teremos, e a quantidade vendida vai ser maior. No lado dos vendedores é o contrário, ou seja, quanto mais caro um item puder ser vendido, mais gente interessada em vender teremos.

Dessa forma, o gráfico das curvas de oferta e de demanda forma um “X”, como na figura abaixo.

(Note que eu usei o termo “curva” mas desenhei uma reta, mas é só por fins didáticos, tá? No mundo real é uma curva mesmo).

Quem criou esse conceito foi o economista inglês Alfred Marshall, ele juntou o conceito de Valor-trabalho dos economistas clássicos, como Adam Smith e David Ricardo, que diziam que o valor dos bens era determinado pelo seu custo de produção, ou seja, pela oferta, com o conceito de valor-utilidade dos marginalistas como Jevons e Menger, que afirmavam que o valor de um bem estava na utilidade (demanda).

Marshall afirmava que não é a metade de cima nem a de baixo de uma tesoura que corta o papel, mas a combinação das duas, assim como não é o comprador ou o vendedor quem escolhe o preço, mas o acordo entre os dois.

Marshall também criou o conceito de elasticidade, sendo elasticidade-demanda a variação da quantidade demandada, em caso de alteração no preço, e elasticidade-oferta, a variação da quantidade ofertada, tendo em vista uma alteração no preço também.

Observe os gráficos abaixo:

Observe que os gráficos são horríveis, me desculpe, eu fiz a mão e sou um péssimo desenhista, mas vamos às informações.

No gráfico 1, tínhamos um preço inicial (P1) e uma quantidade inicial (Q1), imagine que essa é a curva de demanda de um produto supérfluo, ou melhor, algo que você possa substituir facilmente, como manteiga, por exemplo. Note que o preço subiu um pouquinho (para P2) e isso fez com que a demanda caísse bastante (para Q2), se estivéssemos falando de manteiga, uma pequena variação no preço fez com que muitas pessoas deixassem de utilizar manteiga e passassem a comprar margarina ou requeijão, por isso, com um pequeno aumento de preços, a quantidade vendida despencou, esse é um exemplo de demanda elástica.

Já no gráfico 2, temos um exemplo de demanda inelástica, onde uma grande variação no preço (de P1 para P2) causou apenas uma pequena queda na demanda (Q1 para Q2).

Eu não vou desenhar a curva de oferta, mas o princípio da elasticidade funciona do mesmo jeito para ela. Então podemos dizer, simplificando, que elasticidade é a inclinação das curvas de oferta e demanda. Quanto mais elástica, menos inclinada é a curva.

Agora você deve estar se perguntando por qual motivo eu disse lá em cima que todos deveriam conhecer esse conceito, certo?

Em primeiro lugar, para entender (e poder opinar com propriedade) acerca de algumas políticas públicas, como por exemplo, impostos.

Um imposto automaticamente aumenta o preço de um bem. A maioria dos impostos é aplicada com a finalidade de aumentar a arrecadação do governo, se esse for o caso, fica claro que um imposto aplicado sobre bens inelásticos seria muito mais eficiente que um sobre bens elásticos, correto?

Pense no IPVA, carros são bens relativamente inelásticos, já que o transporte público no Brasil é ruim e não temos o hábito de usar bicicletas, então é claro que o IPVA tem impacto na demanda por carros, mas a maioria das pessoas vai fazer um sacrifício, cortar alguns gastos para manter o seu carrinho e poder usá-lo quando precisar.

Agora imagine um IPVA sobre jatinhos. Um sujeito que tem condições de comprar um jatinho pode gastar esse dinheiro com várias outras coisas, caso ele decida que o custo-benefício de ter um jatinho não seja mais atraente, ele pode vender o dele e alugar quando precisar, viajar de primeira classe ou comprar em outro país, possivelmente a demanda vai cair e quem vai ser afetado vai ser o trabalhador da indústria aeronáutica.

Não estou dizendo que não deveríamos criar um imposto sobre jatinhos, só que ele possivelmente vai ser bem menos eficiente que o IPVA, e terá efeitos colaterais que precisam ser considerados.

Outra função dos impostos é de limitar o consumo de determinados bens, na Europa, por exemplo, muito se fala a respeito de aumentar a taxação sobre combustíveis fósseis, para incentivar o consumo de energia limpa.

No Brasil, um caso emblemático é o do cigarro, a taxação é enorme, mas mesmo assim, vários estudos já apontaram que o que realmente derrubou o consumo de cigarros nas últimas décadas foram as campanhas de conscientização, como se trata de um produto que vicia, a curva de demanda é muito inelástica, então variações no preço não farão tanta diferença. No máximo irão incentivar o contrabando.

Lembrando que só falamos do impacto dos impostos na curva de demanda, mas eles afetam também a curva de oferta, já que muitas vezes os vendedores acabam tendo que assumir parte dos impostos, diminuindo seu lucro, para não perder muitos clientes. Geralmente entre compradores e vendedores, quem tem a curva mais elástica fica numa situação mais confortável em relação ao outro, pois pode optar por deixar de comprar o produto, e a outra parte vai ter que assumir a maior parte do custo.

Enfim, eu queria apresentar esse conceito de forma simples, espero que tenha conseguido, embora eu goste bastante de gráficos, tenho um pé atrás em apresentar os conceitos através deles, pois sei que muita gente tem dificuldade para entender, mas esse assunto precisava ser ilustrado.

Se você é estudante de economia, além de conhecer esse conceito vai ter que aprender a calcular a elasticidade, espero que seus conhecimentos de funções e derivadas estejam em dia, se não estão, melhor atualizar. Se você não é estudante, bem, agora tem um assunto novo para conversar no bar, entre uma cerveja e outra. Pode até puxar um guardanapo e desenhar o gráfico. Com certeza vai ficar melhor que o meu.

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Cleber Veiga
Análise Normativa

Administrador, Especialista em Inteligência Financeira, estudante de economia, músico (wannabe) e mestre de RPG nas horas vagas.