Afinal, por que o medo de pedir apoios e promover sua campanha?

Ilana Nicilovitz
APOIA.se
Published in
4 min readMay 30, 2017

Me alcança a colher, por favor?“Empresta uma caneta?”Tem alguma moeda aí?” “Dá um pedaço desse bolo?” “Posso usar o banheiro?

Constantemente e muitas vezes sem nos darmos por conta, estamos pedimos uns aos outros. Pedimos licença, informações, favores. Pedimos aos amigos, aos namorados e namoradas, aos chefes, ao senhor da padaria e à senhora da lanchonete. Alguns pedidos mais expressivos do que outros: pedimos empréstimos ou alguém cuide de nosso filho por um período, mas também pedimos abraços ou uma simples xícara de café.

É através dessas interações que estabelecemos algo muito importante: a construção e manutenção das nossas relações.

Segundo Amanda Palmer, famosa artista americana e mobilizadora de multidões, “pedir é, em si, o elemento fundamental de qualquer relação”.

Após levantar mais de 1 milhão de dólares para sua campanha de crowdfunding em 2012 , Amanda vem espalhando pelo mundo um aprendizado iniciado ao longo dos anos em que trabalhou como artista de rua: a importância de confiar e de não ter vergonha de pedir e aceitar o que as pessoas querem dar.

pedir é, em si, o elemento fundamental de qualquer relação”.

Sua compreensão a respeito das relações humanas, compartilhada em detalhes em seu livro “A Arte de Pedir”, devido à grande possibilidade de aplicação na vida produtiva de realizadores, é uma super inspiração para nós e principal referência deste artigo.

Por que para a maioria das pessoas é difícil pedir?

O que parece é que não é tanto o ato de pedir em si que incomoda as pessoas, mas sim um sentimento que está por trás disso: a vergonha, o medo parecer vulnerável e o medo de não ser merecedor dessa ajuda.

Brené Brown, escritora-investigadora na Universidade de Houston (USA), desenvolveu uma longa e profunda pesquisa sobre o tema “vergonha e vulnerabilidade”, tentando compreender sua origem e seus desdobramentos na vida cotidiana.

Sua premissa norteadora diz que a capacidade de nos sentirmos conectados é o grande propulsor da energia humana e o que instiga todas as relações do mundo. Se existe necessidade de conexão, o medo de que isso não aconteça é verdadeiro. A partir daí que Brené explica a origem do sentimento de vergonha: medo da desconexão. É como se houvesse uma crença, mesmo que desapercebida, de que possa existir algo sobre você, que se as pessoas verem ou souberem, te tornará não merecedora da relação.

Segundo Brené, a maior dificuldade de conexão é o pensamento de não merecimento dessa conexão

O que isso tem a ver com sua campanha?

Campanhas de financiamento coletivo recorrente passam por uma situação bem peculiar quando o assunto é divulgação e promoção. Quando passa o período de excitação do lançamento e o projeto deixa de ser “novidade”, há uma queda no investimento de energia para exposição, divulgação e compartilhamento dos movimentos das campanhas.

O principio do financiamento colaborativo contínuo é justamente o estabelecimento de relações à longo prazo. Porém, percebemos que em um certo momento as pessoas travam com medo de incomodar e irritar o seu público com as publicações, o que prejudica tanto a conversão de apoios quanto, e principalmente, o potencial de conexão existente nesse processo de comunicação.

A internet e a disponibilização de conteúdos online estão permitindo uma grande revolução na maneira das pessoas se relacionarem.

Se pensarmos a partir do mundo da produção criativa, seria algo como uma possibilidade de reconstrução das relações entre o público e artistas de antigamente, antes dos Estrelismo Superstar Intocável- pessoas estabelecendo conexões mais próximas, onde quem produz é capaz de VER seu público e ser reciprocamente VISTO.

A revolução online não só resgata antigas formas de interação como também cria novas, expandindo seus efeitos para os diversos tipos de realizadores que formam hoje a comunidade do APOIA.se. Produtores de conteúdos, youtubers, bloggers, quadrinistas, jornalistas, invencionistas, artistas, empreendedores e tantos mais fazedores: é importante estarem dispostos a serem vistos para poderem ver quem está com vocês.

O sentimento de merecimento dessas relações virá da coragem para a autenticidade, assim como da aceitação de algum nível de vulnerabilidade para se disporem a investir sem medo nessas relações sem certezas nem garantias, assumindo assim a possibilidade de correr riscos.

Muitas vezes o risco é o principal custo de conexão humana.Existem pessoas dispostas a ajudar, e não são poucas. Muitas vezes o que falta para elas é uma OPORTUNIDADE.

“Todos os dias ao realizar o simples ato de pedir algo pra alguém, você acaba de estabelecer uma conexão.”

Quando há conexão, esse desejo de ajuda é evocado nas pessoas.

Acredite verdadeiramente na legitimidade do seu pedido e peça! Com autenticidade, honestidade e gratidão, o pedido assume a possibilidade de ajuda mútua e é isso que converte o incômodo e irritação do pedido que exige em uma vi de mão dupla.

Você é merecedor dessa relação, pois quando um o outro a conexão é mútua.

“O verdadeiro crowdfunding não consiste em confiar na bondade dos desconhecidos; consiste em confiar na bondade do seu povo (Amanda Palmer, A Arte de Pedir)”

Portanto arrisque, confie, peça ajuda! =)

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