Futebol, Rússia e fake news

Thiago Rondon
AppCívico
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3 min readMay 2, 2018

A próxima Copa do Mundo, provavelmente, será marcada por discussões em redes sociais e noticiários sobre política, ética, direitos humanos e posicionamentos militares.

O maior desafio com a evolução da inteligência artificial será a perda total da confiança sobre aquilo que ouvimos ou assistimos. Depois de um debate intenso sobre noticiários falsos é, provável que tenhamos em breve uma nova geração de fake news produzidas com a “criatividade das máquinas”, capazes de manipular imagem e vozes.

A próxima Copa do Mundo, provavelmente, será marcada por discussões em redes sociais e noticiários sobre política, ética, direitos humanos e posicionamentos militares. Se, até agora, o futebol foi cenário de debates e investigações sobre lavagem de dinheiro, corrupção, evasão de divisas e propriedade, possivelmente teremos em breve um debate sobre valores e diplomacia com a Copa do Mundo na Rússia.

A tecnologia tem levado o esporte e o futebol para um número incrível de pessoas. A FIFA estima que a última Copa do Mundo, em 2014, foi vista por pelo menos 3,2 bilhões de pessoas. Fica evidente que o contato com o esporte por vídeo games, redes sociais, vídeo e campeonatos ao redor do mundo estão fortalecendo ainda mais a relação com os torcedores.

O esporte pode transcender diferenças culturais e unir pessoas, e a diplomacia esportiva é cada vez mais importante para todas as nações. O uso da política e esporte já teve implicações positivas e negativas na nossa história. Recentemente, os Jogos Olímpicos de Inverno, disputados na Coreia do Sul, colocaram a sua vizinha, Coreia do Norte, para conversarem entre si depois de anos sem comunicação, o que resultou em diversas ações e uma aproximação inédita depois de cinco décadas.

O futebol é sem dúvida o maior esporte do mundo, e essas multidões se reúnem por um “amor” comum, como define o artigo “Amor tribal: as correlações neurais do engajamento passional em torcedores de futebol”. Neste trabalho, pesquisadores da Universidade de Coimbra investigaram por 3 anos as emoções causadas pelo futebol. O resultado mostrou que essa paixão é consequência da tensão entre amor e o fanatismo, que “implica simultaneamente o sentimento de pertencimento a um grupo e de rivalidade com outros grupos”, o que “define o amor tribal”.

O desenvolvedor Ian Goodfellow, que atualmente trabalha na Google Brain, tornou-se uma celebridade na comunidade de inteligência artificial por desenvolver as GANs, conhecidas como “redes de adversários generativos”. Esta técnica basicamente promove “aprendizado de máquinas não supervisionado por humanos”, comprovando que é preciso de pouco para o desenvolvimento de “máquinas criativas”.

A técnica consiste basicamente na criação de duas redes neurais rivais. Uma delas atua como falsificador de fotos, e outro como um detetive, por exemplo. Repetidamente, uma delas tenta enganar a outra, como se fosse nossa imaginação. O primeiro, conhecido como gerador, é responsável por produzir saídas artificiais com fotos mais realistas possíveis. O segundo, conhecido como discriminador, compara essas imagens com outras genuínas do conjunto de dados originais e tenta determinar quais são reais e quais são falsas. Com base nesses resultados, os parâmetros são ajustados para criar novas imagens. E assim vai, até que o discriminador não saiba mais o que é genuíno e o que é falso.

Ano passado, foi lançado um aplicativo com aprendizado de máquina chamado DeepFake que criava vídeos pornográficos falsos, manipulando imagens e vídeos do rosto de qualquer pessoa dentro de um filme existente, com base nessa técnica.

Agora, especialistas alertam sobre o uso de “máquinas criativas” projetadas para criar falsificações realistas que podem ser uma arma perfeita para fornecedores de notícias falsas. Provavelmente não será necessário acesso a uma grande quantidade de dados para criar, por exemplo, influenciadores digitais nas redes sociais com aparência, cotidiano e posicionamento político semelhante ao de milhares de seguidores. Os perfis seriam capazes de postar vídeos no YouTube com aparências reais, gravar podcasts com vozes próprias e escrever como qualquer um de nós.

São necessárias apenas 17 regras para se jogar futebol, um esporte para todas as culturas e regiões do planeta. Em 2018, esse provavelmente será o protocolo de comunicação planetário, o assunto mais comentado em um mundo hiperconectado com as recentes evoluções no campo da inteligência artificial. Some-se a isso a comprovação da influência pelas redes na política. Não há evento global como a Copa do Mundo, e nunca houve uma Copa do Mundo como a Rússia 2018.

Artigo publicado 25/04/2018 na coluna Multidões, na Época Negócios.

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Thiago Rondon
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