Diários de Uso e validação de Proposta de Valor: Um estudo de caso

Ana Bittencourt
Apple Developer Academy PUCPR
7 min readNov 4, 2022

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Quando vale a pena testar o seu produto? Testes são uma boa prática dentro do design independente da fase em que o produto se encontra, mas na correria dos prazos de entrega das equipes, às vezes os testes acabam ficando de lado.

No caso do memoria, aplicativo que nasceu e está sendo desenvolvido na Apple Developer Academy Curitiba, tivemos nossa primeira oportunidade de fazer testes durante o Macro Challenge, período de 6 meses onde poderíamos nos dedicar ao projeto dentro da Academy.

Por que fazer testes agora?

Estávamos em um ponto crucial de tomada de decisões com relação ao memoria. Tivemos muitas discussões sobre viabilidade, modelos de negócio e hipóteses sobre a percepção de valor do aplicativo, e percebemos que haviam muitas direções para as quais poderíamos levar o aplicativo. Mas o relógio estava ticando e era hora de tomar decisões.

Como equipe, discutimos o que cada um gostaria de atingir ao fim do Macro com o memoria, e concluímos que ter a nossa proposta de valor validada seria essencial. Queremos que o memoria tenha um impacto real na vida das pessoas, e com esse objetivo, entendemos que fazer testes com o produto seria o melhor jeito de basear nossas decisões em dados e evidências de uso.

Que tipo de teste?

A experiência do memoria, naquele momento, se baseava em dois pilares: o primeiro digital, com a criação de álbuns de memórias com fotos e textos; e o segundo físico, usando o código do Elo atrelado a um objeto que esteja presente no dia-a-dia, para ancorar as memórias digitais no mundo físico.

Assim, precisávamos testar a experiência como um todo, entendendo como seria a relação das pessoas com os dois pilares, e como elas iriam fazer uso deles na prática. Nosso teste precisava ter um tempo extendido: não poderia ser um teste de usabilidade pontual, porque nosso interesse era saber como seria conviver com os artefatos ao longo dos dias. O foco dele também seria qualitativo e exploratório, sem dar cenários de uso direcionados de antemão, deixando a pessoa livre para dar seu próprio significado e uso.

Decidimos pelo formato do diário de uso, com duração de 7 dias, guiando os testadores com algumas perguntas, e estimulando o uso e reflexão sobre a própria experiência. Ao fim desse tempo, optamos pela entrevista presencial, para fazer perguntas mais aprofundadas sobre o uso e suas percepções ao longo da semana.

Preparar, apontar… testar!

Para poder começar os testes, precisávamos de algumas coisas:

  • Testadores dispostos a participar;
  • Um onboarding físico, com os Elos escaneáveis;
  • O aplicativo pronto para uso.

Preparamos um formulário para triagem dos testadores, porque haviam alguns pré-requisitos: de perfil, terem interesse em relembrar suas memórias; e técnicos, terem iPhone ou iPad. Aproveitamos o formulário para fazer algumas perguntas rápidas e objetivas sobre a relação das pessoas com artefatos físicos e digitais de memória.

Como resultado do formulário, conseguimos 137 respostas, e dessas, 70 pessoas elegíveis para o teste. Passamos os dados das respostas para o Notion da equipe, customizando as filtragens e deixando esses dados disponíveis e documentados.

Tabela com resultados do formulário no Notion

Insights do formulário

Nas perguntas exploramos onde as pessoas guardam suas memórias físicas e digitais, e de quais tipos elas são. Isso expandiu nossa perspectiva sobre os objetos e formatos que compõe esse universo da memória para o público que ouvimos. Confirmamos a hipótese de que a grande maioria utilizaria a galeria de fotos do celular como forma primária de guardar suas memórias. Também notamos a grande presença das redes sociais cumprindo esse papel, e nos surpreendemos com a popularidade de playlists de música como forma de guardar memórias no meio digital.

Disponibilizar a opção "Outros" traz informações valiosas no formulário!

As pessoas também confirmaram interesse em algumas funcionalidades que já tínhamos em mente, como vincular playlists de música e usar mensagens de voz, e mostraram pontos de atenção, como memórias das quais não queremos ser lembrados.

Onboarding físico

A solução mais rápida e prática para o teste dos Elos físicos foi a produção de adesivos com os códigos. Colocamos eles em uma carta com instruções de uso, e produzimos esses materiais impressos para entregar para os nossos testadores.

Fizemos estudos de protótipos em papel, passamos por testes de impressão, até fechar nosso onboarding final.

Essa etapa demandou mais tempo da equipe, pois criamos nosso onboarding físico do zero

memoria na App Store

Nossa equipe trabalhou muito para deixar o aplicativo funcional para o teste, e lançamos o memoria na App Store, para que nossos testers pudessem ter a experiência completa de conhecer o aplicativo, baixar e usar.

Viagens e Rock In Rio

O período de testes do memoria coincidiu com um feriado em que nossos testadores estariam viajando para visitar parentes ou para ir em shows, isso possibilitou que o memoria tivesse um uso claro de forma mais rápida.

Aplicação dos testes

Como os testes exigiriam tempo da equipe para o acompanhamento e para as entrevistas, decidimos selecionar testadores do formulário que já eram também da Academy, por questões práticas de viabilização das entrevistas presenciais, abrindo a possibilidade de testar com um público mais variado em um segundo momento. Selecionamos 8 testadores, imprimimos os testes e entramos em contato com eles para confirmar a participação.

Fechamos a estrutura do teste no seguinte modelo:

  • Convite aos testadores para participarem

Entramos em contato com as pessoas pré-selecionadas e confirmamos sua participação. Explicamos o objetivo, duração do teste, quando iríamos entrar em contato, e a entrevista final;

  • Entrega do onboarding físico

Marcamos a entrega do onboarding com os testadores confirmados;

  • Início do Diário de Uso

Mandamos mensagens para os testadores ao longo da semana com lembretes para utilização, fizemos perguntas sobre o uso no meio da semana. Também pedimos para tirarem fotos de onde colaram os adesivo do Elo;

  • Entrevista final

Após os 7 dias, entrevistamos os testadores presencialmente. Vimos os Atlas (álbuns de memória) criados pelos testadores, e seguimos um roteiro para explorar o que sentiram ao longo da convivência com o memoria, como foi usar do Elo físico, e entender como foi a experiência como um todo para cada um.

A sensação de ver as os relatos e fotos que nossos testadores foram nos mandando foi incrível, pudemos ter um gostinho de como é ver nosso produto sendo usado pelas pessoas.

Síntese

Mesmo com o caráter qualitativo dos testes, focando na percepção de valor e uso no dia-a-dia, ainda assim conseguimos muitas informações sobre problemas de usabilidade, além de ter observado 4 perfis / contextos de uso entre todos os testadores.

Para fazer a síntese, seguimos os seguintes passos:

  • Reunimos todas as informações brutas do Diário de Uso e das entrevistas no Notion;
  • Num primeiro momento, os designers da equipe fizeram uma imersão e extraíram user stories do material bruto;
  • Num segundo momento, desenvolvedores e designers se debruçaram sobre os resultados para encontrar insights, bugs e possíveis funcionalidades;
  • Fizemos uma votação para alinhar a percepção da equipe sobre o que era importante resolver, ter um termômetro de como seguir para ideação e implementação.

Separamos nossos feedbacks em 6 categorias:

  • Navegação
  • Edição das Memórias
  • Datas e Períodos de tempo das memórias
  • Atlas (visualização, edição, criação, acesso)
  • Elo
  • Onboarding

Insights dos feedbacks:

  • 14 possíveis ajustes
  • 12 possíveis features
  • 5 pontos de atenção

Perfis / Contextos de uso

A partir da síntese das entrevistas também conseguimos identificar 4 diferentes contextos de uso do memoria. Alguns nós já imaginávamos, outros foram uma grande surpresa, mas ter uma confirmação baseada em evidências para essa identificação dos perfis foi algo muito valioso para a equipe. Cada perfil / contexto de uso traz à tona propostas de valor diferentes, que permitiria um direcionamento específico do app, podendo dar forma às funcionalidades e materiais de divulgação.

Idear, prototipar, implementar

Com os resultados do teste, nos vimos num ponto de virada: o uso do Elo físico, ponto até então essencial dentro da experiência que projetamos para o memoria, não trouxe tanto valor quanto imaginamos para os nossos testadores. Tomamos uma decisão difícil para toda a equipe: trazer maior protagonismo para o Atlas, nosso álbum de memórias digital, e focar nossa próxima versão do aplicativo nele, implementando funcionalidades vitais para proporcionar uma melhor experiência.

A partir daí, fomos para a ideação de um Atlas redesenhado, com melhorias na home e uma nova seção de ajustes. Por conta do tempo reduzido da equipe até nossa próxima entrega, decidimos resolver as funcionalidades básicas e vitais que permeavam todos os perfis de uso que descobrimos, sabendo que essas implementações dariam suporte à qualquer escolha de direcionamento que podemos ter no futuro.

Antes de pularmos para o desenho de telas no Figma, fizemos rabiscoframes na parede para esclarecer os novos fluxos e funcionalidades

Nossa próxima versão será mais escalável, pois a experiência do memoria não vai mais depender do acesso aos Elos físicos para estar completa. Assim, o aplicativo poderá ser usado por pessoas em qualquer lugar do mundo.

Quer acompanhar nossa jornada? Segue a gente no Instagram, que em breve vamos anunciar o lançamento da nova versão na App Store!

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