Turning Point: O momento de mudanças

Lucas Borges
Apple Developer Academy PUCPR
7 min readOct 18, 2017

Quando no vidro da escada foi pedido pra fazer uma reflexão, uma não, essa, em específico, eu relutei a escrever sobre — não à toa o atraso —pois o tema em questão é extremamente difícil de ser discorrido por algumas razões. A primeira delas, e mais óbvia: autocrítica é sempre um processo complicado. As outras eu vou mencionando ao longo do texto tentando não soar tão negativo com alguns descontentamentos ao longo do processo.

Primeira pergunta: O que eu fiz certo?

Bom, acredito que, como o melhor momento e o grande diferencial de qualquer equipe que está la dentro, o que nos torna mais especiais que meros programadores e designers, o momento de discussão pra formulação das ideias seja, aplicando o CBL ou após isso, na parte de criação prática, um dos meus momentos preferidos e acredito que um dos que eu mais obtive êxito em qual equipe fosse, das que passei até agora (Foi a fase da criação pré-sentar a bunda na cadeira e desenvolver o app de fato que mais me deu tesão intelectual). Esse momento tem algumas fases: primeiro, o conhecer: nenhuma equipe que trabalhei foi escolhida por mim, logo era crucial conversar e conhecer as pessoas com quem eu iria trabalhar, descobrir seus gostos, afinidades e interesses (mesmo que fossem equipes escolhidas por mim acho essa fase fundamental), e nisso obtive sucesso, trabalhei em projetos que não deixaram nenhum dos membros das equipes desconfortáveis em fazê-lo. A segunda fase: O CBL. Aqui tudo parece ter pouco tempo demais. Pensar um projeto que mude o mundo (mesmo que o mundo de um público-alvo restrito) e responder todas as questions, fazer as activities, fazer tudo bem feito em uma semana e ainda preparar slides que sejam à prova da destruição apocalíptica de ideias no design crit são um desafio a parte além do próprio challenge em si. A terceira fase: negação. Essa fase é concomitante com a segunda: até achar uma ideia que pareça cumprir os objetivos pedidos e que esteja com cara de app interessante, as pessoas em geral seguem em processo de negação e acreditando que tudo vai dar errado. O medo de falhar que nos é imputado faz com que essa sensação constante de falta de capacidade enquanto as outras equipes ou até mesmo desenvolvedores na Holanda já estão com apps muito melhores que os seus torne a etapa de negação psicologicamente complicada de aguentar e uma das maiores dificuldades, se não a maior, que tive que enfrentar até hoje no BEPi…na Developer Academy. A quarta fase é a de correr pra, da maneira que for, terminar tudo no prazo e dar um jeito de colar todas as partes do projeto pra que funcionem juntas. A quinta é a de dormir na noite seguinte à apresentação, pós muito Red Bull e tentando controlar toda a ansiedade residual do processo que consumiu seu sono e energias nas últimas semanas.

Outro acerto (e talvez o maior de todos e o que me fez resistir no processo) foram as relações que desenvolvi lá dentro. Houve tretas? Houve. Desentendimentos? Também. Passo por pessoas que mexeram com minha cabeça toda e hoje não tenho nem um oi (não necessariamente por razões inerentes a Academy), infelizmente sim. Cabe um elogio ao processo de seleção, que escolheu pessoas tão na merda quanto eu, tão malucas quanto e com uma paixão por seus interesses tão grande que é de acalentar o coração. Essas pessoas fazem aquele lugar se tornar mais colorido, mais engraçado, mais factível e compartilham o conhecimento sem te julgar sobre suas prévias habilidades como ninguém.

Pergunta dois: meus erros.

Vários. Refletir sobre erros, apesar de difícil, é um processo que eu costumo fazer ao longo da vida, numa tentativa de me autocorrigir para as próximas oportunidades não repetir as mesmas atitudes. Nos challenges anteriores posso dizer que errei em não ter ouvido tanto, errei em me apegar a ideias e conceitos pelo simples fato de termos tido eles e não saber largar na hora certa, errei em comunicação, com membros das equipes em específico e com o todo, até nas apresentações.

Na minha primeira equipe o caos se deu pela falta de afinidade entre as partes pra desempenhar suas funções em conjunto, pelas diferentes personalidades, o que nos fez perder muito tempo em planejamentos e mais planejamentos e dias e dias criando tarefas, trello, Reminders no iPhone, kanban, check list e outras mil formas de nos organizar. Que no final não surtiram efeito, pois perdemos muito tempo no estresse do planejamento que, se fosse aplicado diretamente em criação, pós uma primeira organização, poderia ter saído um resultado totalmente diferente.

Na segunda por outro lado não houve caos, houve tretinhas só. Pessoas interessantes, pessoas que eu admiro e amo de paixão, gente capacitada, era a equipe dos sonhos pra se trabalhar. Hora que vi os nomes no slide eu vibrei de alegria por achar que a chance de problemas seria zero. Cinco minutos depois eu já estava em outra vibe, bem mais desanimado com o projeto e com minha função ali dentro. Fui chamado na Board Room pelo Fred junto com a outra designer da minha equipe pra que ele nos explicasse o porque de a minha ser a única equipe com dois designers. Um discurso extremamente julgador foi ouvido por nós, eu me senti a pior das pessoas ali dentro e me surpreendi por descobrir que há um ranking de melhores e piores posições dentro da Academy:

"…nós professores percebemos que, pelo resultado entregue no último challenge, você Lucas foi o pior designer na parte de criação gráfica, a Júlia foi a melhor, por isso juntamos vocês dois, pra que você possa aprender com ela e desenvolver essas habilidades que te faltam. […] Notem que, e com certeza vão haver, em discordâncias levem em conta a senioridade, não faz sentido vocês decidirem por questão de idade ou qualquer outra coisa, mas levem em conta a senioridade que vocês tem pra que a decisão seja tomada pelo melhor de vocês dois…"

Ouvir isso (e muito mais que acabei apagando da minha mente) gerou desconforto e a forma como lidamos com isso acabou atrapalhando o processo de criação do app (que foi bem sucedido e gerou um resultado magnífico. Me pergunto se não houvéssemos passado por isso quão mais longe teríamos chego então). Na minha cabeça eu sempre considerei a Júlia a melhor do planeta. QUE MULHER! Ela é incrível tecnicamente e pessoalmente. Seu senso de humor, sua didática e paciência ao ensinar softwares e técnicas e seu processo criativo sempre me fizeram ter uma admiração imensurável por ela. Por isso eu realmente estava ansioso pra trabalhar e aprender o máximo que eu pudesse com ela, por realmente acreditar que ela sabe mais do que eu. Isso não valida nem faz com que ache justo o discurso qualificativo pejorativo que tivemos que ouvir. Mesmo que minha intenção fosse aprender com ela, por tê-la como um exemplo e referência, ser classificado pelo resultado e não pelo processo me fez extremamente negativo. Se temos que refletir e expor o que fazemos, passar horas aguentando críticas e sugestões nos design crits e termos professores acompanhando todo o processo e entendendo as dificuldades que cada um teve num programa que outrora tinha Educacional e agora tem Academia no seu nome (logo um programa pra aprendizado, não pra julgamento final e decisivo quase que imutável) por que estamos sendo classificados num ranking de melhor pra pior com base em uma só entrega? E mesmo que fosse o caso, e todos os outros produtos que entreguei? Não era tudo visto e analisado (como meu blog, que deu trabalho pra fazer e aparentemente não serve mais, já que o meio oficial de reflexões será o Medium). Todo o discurso que ali somos livres pra aprender e fazer o que temos paixão que ao longo dos challenges foi sendo soterrado pela coação de ouvirmos que temos que "fazer o que tem que ser feito pra não corrermos o risco de sermos expulsos" e que na verdade "somos funcionários da Apple"? Mesmo destoando de conversas com a Hillary em que ela disse que o programa é feito pra nós e temos que curtir e aproveitar cada experiência, ser quantificado tendo como base um trabalho que foi um caos em produção pelas pessoas que acompanharam todo esse processo e sabiam disso me desanimou demais, porém tentei levar na esportiva, desconsiderar o descontentamento e mesmo assim aprender o que eu pudesse com alguém que claramente eu admiro demais, que é a Júlia.

Eu fiz piada sobre a formatação da equipe, brinquei em vários momentos sobre como eu tava ali pra ser estagiário e a Júlia era a designer sênior. Foi minha forma de lidar com tudo isso, tentando trazer bom humor e suavizar o clima fazendo piadas. Infelizmente fui interpretado por ela como alguém que só tava sendo irônico e que eu queria fazer o que era meu e nem ligar pra ela, o que gerou atritos silenciosos e ao longo do tempo desgastaram a criação visual do app. Porém, logo após a entrega eu e ela conversamos e resolvemos tudo na maior tranquilidade, sua humildade em falar sobre seus erros e a forma como me respondeu quando eu falei dos meus me fizeram a admirar ainda mais.

Terceira pergunta: como posso melhorar?

Aparentemente ainda preciso melhorar muito como designer, já que continuo na única equipe com dois designers da Academy (ba dum tss).

Pra esse challenge, em que as equipes foram "construídas as direcionando para o caos, e esse é o desafio: ver como as pessoas vão se virar pra não eclodirem" (palavras do Fred, não minhas) preciso aprender a me organizar, quero doar tempo pra o que realmente importa, quero trabalhar mais coeso e acredito que será possível já que minha equipe só tem pessoas com quem me dou bem e acredito estarmos todos na mesma vibe. Mas confesso estar bem desanimado pós tudo isso que passei e muito mais, que não cabe nessa reflexão, a buscar o melhor de mim e me renovar constantemente. Eu achava que estava fazendo isso, mas aparentemente não foi o suficiente e, ao invés de ouvir palavras educativas sobre como ser suficiente então, fui/fomos colocados contra a parede mais uma vez ao ouvir que o desafio pra minha equipe é esse: "trabalhar e ter um resultado satisfatório e não eclodir, tendo sido posto na equipe que fui/fomos posto(s)", seja lá o que quiseram dizer sobre a gente com isso.

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