Colaboração, storytelling e D&D

Alice Barbosa
Apple Developer Academy | UFPE
9 min readApr 11, 2024

Desde o primeiro momento na Apple Developer Academy (ADA) | UFPE, percebi que o ambiente era diferente de outros ambientes acadêmicos e profissionais que eu já frequentei, de maneira que na Academy existe um grande foco no trabalho em grupo e na colaboração. Sendo um ambiente com uma grande diversidade de pessoas de diferentes habilidades, personalidades e vivências, a colaboração se torna ainda mais vital.

Qual a importância da colaboração?

A colaboração permite que essas diferentes habilidades se complementem, possibilitando a resolução de problemas de forma mais abrangente e eficaz e enriquecendo o aprendizado de todos envolvidos, contribuindo tanto para o desenvolvimento profissional quanto pessoal de todos os membros.

Essas diferentes perspectivas também tornam o ambiente extremamente propício para criar ideias inovadoras, que é um ponto chave dos princípios da Academy, além de ajudarem na resolução de desafios complexos, que demandam abordagens multidisciplinares para serem resolvidos, e além de tudo isso a colaboração promove o fortalecimento do trabalho em equipe, ajudando os membros a estabelecer conexões interpessoais mais fortes, construir essas conexões gera confiança e solidariedade entre o grupo, que acaba transpondo para projetos e trabalhos tornando a experiência mais leve, produtiva e agregadora.

Quais técnicas podem ser utilizadas para incentivar a colaboração?

A colaboração é uma habilidade, e como outras habilidades ela pode ser aperfeiçoada, em nossa primeira semana de Academy, tivemos a oportunidade de ter um workshop sobre colaboração com Rebecca Stockley, que acabou sendo uma experiência incrível de aprendizado, nele pudemos aprender a importância de um ambiente colaborativo, além de algumas técnicas e jogos para desenvolvê-la.

Um dos jogos ensinados no workshop foi o "two by three", que consiste em formar uma dupla com algum colega e fazer uma contagem alternada em voz alta de 1 até 3, de modo que se crie um ritmo na contagem, após pegar o jeito um dos números é substituído por um gesto ou som, até que todos os números sejam substituídos, a ideia do jogo é criar um ritmo e sintonia entre a dupla e incentivar o trabalho em equipe. Esse jogo acaba sendo difícil na prática e acontecem muitos erros, mas outra regra que foi dada para esse jogo foi que quando o ritmo for quebrado e a dupla errar, nós deveríamos celebrar o erro, mas qual o sentido em celebrar o erro?

Por que devemos celebrar nossos erros?

Principalmente em um ambiente de trabalho, a ideia de errar é muito assustadora, temos a noção que errar é um motivo de vergonha e algo a ser evitado a todo custo, mas na realidade, quando temos medo de errar nós paramos de nos arriscar, e é correndo riscos que as melhores ideias são geradas. Nós aprendemos mais quando erramos do que quando acertamos, o erro é inevitável quando inovamos, e é uma oportunidade de corrigir e aperfeiçoar alguma ideia ou projeto que ainda precisava de aprimoramento. A ideia de celebrar nossos erros vem como uma forma de reprogramarmos a nossa relação com o erro, de modo que possamos nos arriscar mais e ter ideias mais ambiciosas, sem medo de errar.

“If you want to increase your success rate, double your failure rate.”

- Thomas J. Watson, CEO of IBM

Mindset colaborativo

Podemos ter algumas atitudes para tornarmos nosso modo de pensar mais colaborativo, como:

  • Ver desafios como oportunidades
  • Substituir a ideia de erro por aprendizado
  • Se arriscar quando trabalhando com outros
  • Aprender com os erros de outros
  • Celebrar o crescimento em outros

Ao incorporar essas atitudes como práticas em nossas vidas, o trabalho em grupo se torna algo muito mais leve e produtivo.

Habilidades colaborativas e storytelling

Além de mudarmos nossa maneira de pensar, é importante treinarmos habilidades colaborativas também, e existem 3 habilidades extremamente importantes nesse aspecto:

Ouvir, Se deixar ser mudado e Construir a partir das ideias de outros

Outro recurso utilizado no dia para aperfeiçoar essas habilidades foi o storytelling, ao criar novas duplas, fomos instruídos a criar uma história colaborativa, com uma pessoa pessoa criando uma frase para a começar a história, e em seguida a outra repetia a frase e criava outra frase para dar continuidade, criando assim uma história em conjunto e ao mesmo tempo praticando a habilidade de escuta ativa.

Em seguida se formaram grupos de 3 a 4 pessoas para criar outra história, mas dessa vez com uma estrutura de história pronta, em que cada pessoa dava um rumo diferente a cada turno para ela, treinando assim a habilidade de se deixar ser mudado.

Por fim se formou uma dupla novamente para uma última atividade que consistia em inventar improvisar uma conversa sobre uma viagem fictícia da dupla, em que cada pessoa relembrava um acontecimento da viagem, e a outra completava com outro acontecimento, treinando assim a habilidade de construir a partir das ideias dos outros.

Ao fim do workshop, Rebecca também nos mostrou 4 arquétipos sociais, baseados em eixos de personalidade que vão de “Focam em fatos, informação ou projetos” até Focam em pessoas” e no outro eixo “Focam em detalhes” até “Focam no todo”, com os seguintes tipos de personalidade em cada quadrante.

Arquétipos de personalidade

O que é Dungeons & Dragons?

Dungeons & Dragons é um jogo de “role play”, ou interpretação de papéis, onde se formam grupos de aventureiros que juntos exploram mundos de fantasia, em que cada jogador interpreta um dos aventureiros, além dos aventureiros, existe um jogador que é o “Mestre” ou narrador da história. O mestre é encarregado de conduzir a narrativa do jogo e criar o mundo que os aventureiros exploram, sendo responsável por todas as interações do mundo com os aventureiros, desde planejamento do funcionamento de cidades, até qualquer interação entre NPCs (personagens não jogáveis, que são todos os personagens do mundo que não são os aventureiros do grupo) e todo tipo de arbitragem, sendo essencialmente um juiz e narrador.

Cada jogador deve criar um aventureiro que possua as seguintes características:

  • Raça (no mundo de d&d existem muitas raças, como elfos, anões, humano, orcs, entre muitas outras)
  • Classe (como Guerreiro, Mago, Bárbaro, Druida, Patrulheiro)

Todo aventureiro também tem sua história, passado, personalidade, alinhamento, etc

Um grupo de aventureiros diverso

D&D e colaboração

Tá, mas o que D&D tem a ver com o workshop de colaboração? Tudo.

D&D é um jogo altamente dependente da colaboração para o funcionamento e diversão de todos os jogadores por diversos motivos, vou citar aqui alguns deles e fazer paralelos com os conteúdos do workshop de colaboração.

Trabalho em equipe

Dois aventureiros em uma masmorra (halfling e elfa)

Assim como na Academy, um grupo de aventureiros tem chances melhores de prosperar se for diverso, cada classe possui habilidades e talentos únicos, ter uma variedade de classes permite que o grupo enfrente uma amplitude maior de desafios e prevaleça.

Por exemplo: Imagine um grupo de aventureiros que tenha 4 bárbaros e um guerreiro, eles terão muita força física, mas serão limitados para resolver desafios que exijam destreza ou inteligência.

Agora imagine um grupo que possui um bárbaro, um mago, um patrulheiro, um druida e um clérigo, o grupo possui pessoas com habilidades complementares e versadas em diferentes coisas, o mago pode utilizar diversas magias para ajudar em situações de perigo, o druida tem o conhecimento natural e afinidade com animais, o patrulheiro tem sua destreza e percepção aguçada, o clérigo atua como um protetor e com ajuda da sua divindade pode curar os aliados e o bárbaro soma com sua brutalidade e força física, é bem mais provável o segundo grupo prevalecer pelas suas habilidades distintas.

Erros

No D&D, todas as ações não básicas são determinadas por uma rolagem de dados, em que o mestre decide qual será a dificuldade da ação, por exemplo: Se eu estou numa luta e decido atacar um inimigo, o mestre pedirá para eu rolar dados para determinar se meu ataque acertou ou não, ou então se eu quiser tentar escalar uma árvore, o mestre pedirá uma rolagem de dados para saber se eu consigo escalar.

Dados utilizados para jogar D&D
Dados utilizados para jogar D&D

O que isso significa na prática? Que cada ação que eu faço tem um risco inerente, eu posso acertar, mas também posso errar, o medo de errar é uma emoção comum que todos experimentam em diversas áreas na vida, no D&D, esse medo é um obstáculo para a diversão e imersão no jogo, jogadores que tem medo de tomar decisões erradas ou enfrentar desafios perdem a chance de explorar novas estratégias, interagir com o mundo de maneira criativa ou se envolver profundamente com seus personagens. Da mesma forma, na vida real o medo de errar impede as pessoas de alcançarem o seu potencial pleno, assim como no D&D, os erros nos levam a oportunidades de aprendizado e crescimento e são uma parte natural desse processo, e em ambos os cenários, os erros são inevitáveis, é necessário superar o medo de errar e abraçar os desafios e oportunidades de aprendizado que eles trazem, tanto na vida, quanto no jogo.

Habilidades colaborativas e storytelling

Um grupo de pessoas jogando D&D

Assim como citado por Rebecca, as três habilidades colaborativas também são primordiais numa sessão de D&D:

Ouvir

Da mesma forma que no workshop tivemos o jogo de narrativa coletiva, o D&D é um jogo extremamente focado nisso, todos os jogadores interagem no mundo criado pelo mestre, sendo essencial uma colaboração narrativa para desenvolver a história do mundo e as aventuras, é impossível jogar D&D sem escutar ativamente todos os jogadores, pois a história está sempre sendo criada baseada nas interações de todos com ela, os jogadores trabalham juntos para desenvolver antecedentes de personagens, criar conexões entre si e construir uma narrativa coesa que envolve todos os membros do grupo.

Se deixar ser mudado

Como o jogo é criado como uma narrativa coletiva, é extremamente improvável que você vá imaginar uma história e desfecho para seu personagem e aconteça exatamente da forma que imaginou, sendo um jogo de grupo, a história sempre pode tomar rumos diferentes porque são muitas pessoas interagindo e criando por cima dela. Então é essencial que você tenha maturidade de entender que não dá para ser tudo do seu jeito, às vezes um personagem vai interagir na narrativa de uma maneira que você não imaginou, ou até que não queria, mas isso tudo faz parte e é exatamente o que torna o jogo tão incrível e lotado de possibilidades diferentes.

Construir em cima das ideias dos outros

Assim como citado em cima, por terem tantas pessoas interagindo na história ao mesmo tempo, é importante que você consiga construir em cima das ideias dos outros, seja na narrativa da história, ou em alguma situação dentro do jogo, por exemplo: Um aventureiro do grupo pode ter tido a ideia de usar uma distração para entrar furtivamente em um castelo, mas outro personagem tem um conhecimento de magias e pode sugerir algum feitiço ou habilidade específica que o ajude a entrar furtivamente no castelo. Construir em cima das ideias dos outros em D&D não só melhora a experiência do jogo, como também promove um ambiente colaborativo e estimulante em que todos os jogadores se sentem valorizados e envolvidos.

Arquétipos (ou alinhamentos) em D&D

Até em relação aos arquétipos sociais mostrados no workshop podemos fazer paralelos com D&D, no jogo temos um sistema de alinhamentos, que guiam por assim dizer a moralidade de um personagem, sendo baseado nessas categorias:

Tabela de alinhamentos de D&D

Conclusão

Com isso, podemos concluir que tanto em cenários profissionais, quanto em situações de diversão casual com amigos, é imprescindível haver colaboração, diversidade e trabalho em equipe. Também é essencial se arriscar, errar e aprender com o erro, além de ouvir ativamente as contribuições de outras pessoas e ter a habilidade de criar em cima das criações dos outros.

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Alice Barbosa
Apple Developer Academy | UFPE

Estudante de ciência da computação na UFPE e desenvolvimento iOS na Apple Developer Academy | UFPE