DESIGN E INOVAÇÃO

Existe fórmula para criar um modelo de negócio inovador?

Uma coletânea do que encontrei enquanto tentava responder a essa pergunta

Natália Oliveira
Apple Developer Academy | UFPE

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Quando decidi aprender mais sobre modelos de negócio, eu tinha uma pergunta-chave para tentar responder: Qual a fórmula para criar modelos de negócio inovadores? A resposta que encontrei, até agora, é: muito provavelmente não existe uma. Existem ferramentas que ajudam na visualização e ideação dos aspectos de um negócio (Business Model Canvas e métodos de geração de alternativas, por exemplo), mas encontrar uma oportunidade chave parece estar restrito às pessoas envolvidas na idealização do negócio. Mas, fica comigo que eu vou compartilhar algumas coisas que podem te ajudar a ser uma delas.

Business Model Canvas, disponível na wikipédia
Exemplos de metodologias para geração de alternativas disponíveis no DesignKit

Então, se não tem uma fórmula mágica… por onde começar?

Como designer, já tive contato suficiente com geração e seleção de ideias para entender que uma coisa ajuda bastante nessa etapa: repertório. Na hora de criar algo novo, ter referências variadas ajuda a fazer novas conexões entre pontos que parecem inicialmente distantes ou não relacionados.

As primeiras referências para modelos de negócio que surgiram durante minha pesquisa foram aquelas identificadas nas maiores empresas e startups:

  • Software como serviço (SaaS ou Software as a Service): que são as empresas que desenvolvem uma solução e a vendem através de um serviço de assinatura, geralmente mensal ou anual. Um exemplo seria a Adobe, que vende diferentes pacotes de assinaturas dos seus produtos — Photoshop, Illustrator, etc.
  • Espaço de compra e venda de produtos (Marketplace): que focam em aproximar produtores e consumidores de qualquer item. Geralmente, o lucro vem de taxas cobradas para transações realizadas dentro desse local específico — virtual ou físico. Os exemplos aqui seriam a Shopee ou o Mercado Livre, que reúnem diferentes vendedores e facilitam a busca feita pelos consumidores.
  • Baseados em utilização (Usage-based ou Pay-as-you-go): são serviços vendidos a partir da demanda dos usuários, onde é crucial a resolução de um problema recorrente para manter a rentabilidade. Aqui, temos exemplos de app como o Uber, que busca resolver um problema de deslocamento — mas também podemos considerar negócios mais tradicionais como serviços de fornecimento de internet, nos quais podem ser adquiridos pacotes baseados na quantidade de banda utilizada por determinado tempo.
  • Venda de anúncios (Advertising): insere espaços de anúncio ao longo do produto que podem ser vendidos para outras empresas. Esse modelo de negócio geralmente funciona melhor com produtos que possuem uma base de usuários estabelecida e relativamente grande. A maior parte das redes sociais, como o Instagram e o Twitter, monetizam dessa forma por este motivo. Entretanto, não é difícil encontrar jogos para dispositivos móveis utilizando essa forma de monetização, e outros apps também usam combinações de acesso grátis (ou mais baratos) e assinaturas — como o Spotify (freemium) e a Netflix (planos mais baratos com anúncios).
  • Transacionais: envolve a cobrança de uma taxa de transação para cada transação realizada. Empresas que atuam em setores como finanças, pagamentos e transferências monetárias geralmente utilizam esse modelo de negócio. Exemplos de empresas que utilizam esse modelo incluem PayPal, PicPay e Mastercard. O modelo transacional é atraente porque as empresas podem gerar receita com base em cada transação, sem precisar vender produtos ou serviços adicionais.
  • Empresariais (Enterprise ou B2B): as empresas vendem produtos ou serviços diretamente para outras empresas em vez de para consumidores finais. As vendas geralmente envolvem contratos de longo prazo e relacionamentos de negócios complexos. As empresas que atuam no modelo empresarial ou B2B geralmente oferecem soluções personalizadas para as necessidades de seus clientes corporativos, o que pode incluir softwares, consultoria, serviços de gerenciamento e muito mais. Exemplos de empresas que utilizam esse modelo incluem a Salesforce e VTEX.
  • Comércio virtual (E-commerce): diferem dos marketplaces porque se limitam à venda de produtos próprios. Em vez de conectar produtores e consumidores, é uma loja virtual dos produtos de um único produtor/vendedor. Alguns exemplos seriam os sites da Domino’s e da Apple.

Mas, tinha alguma coisinha dentro de mim insatisfeita com essas respostas. Faltava algo.

Um modelo que eu tinha como inspiração era a proposta inicial do duolingo: um modelo que oferecia uma ferramenta de educação gratuita para as pessoas ao mesmo tempo que utilizava o aprendizado dessas pessoas para traduzir textos e documentos para terceiros que financiavam o aplicativo. Apesar desse cenário ter mudado para o app de idiomas, é o tipo de monetização que me inspira na hora de criar novos projetos. Eu queria entender como construir esse tipo de modelo.

Até agora, tudo que eu tinha visto parecia muito distante dos problemas sociais e ambientais. Claro que são apenas exemplos de modelos e podem ser adaptados/utilizados em contextos diferentes, mas eu estava buscando um repertório mais diverso para ajudar na hora de idear. Foi aí que eu me deparei com os termos “modelos de negócio circular” e “empreendimentos sociais”. E, apesar de já tê-los ouvido, eu ainda não tinha me aprofundado no assunto — principalmente com uma perspectiva de construção de modelo de negócio.

Pensando além do lucro: modelos de negócio circulares e sustentáveis

Basicamente, esse tipo de modelo é como deveriam ser pensados os modelos de negócio desde o princípio. Ou seja, minimizando ou excluindo custos sociais e ecológicos. Ao idear um modelo circular, é necessário pensar na vida após a vida do produto — o que acontece quando ele não serve mais o seu propósito inicial. É possível consertar o produto? Reciclar? Reutilizar as partes? Se não for, como tornar isso possível? Modelos circulares incluem projetar o descarte dos produtos consumidos da melhor maneira possível.

Diagrama da Upcycle Brasil

Um exemplo de negócio circular são os sapatos da Insecta Shoes: os insumos para as partes do produto vêm de fontes já existentes. A sola é feita de borracha — que antes seria descartada, mas, agora, é — reciclada, os tecidos das estampas também são sobras ou retalhos. Além disso, a loja também conta com logística reversa e a pessoa consumidora recebe desconto na compra de um novo calçado quando retorna o usado. Vale ressaltar que os usados retornados são reciclados e reutilizados.

Parte do site da Insecta que explica sobre os materiais utilizados na fabricação do produto.

Então, na hora de desenvolver propostas circulares de negócio, algumas estratégias incluem:

  • Buscar produtos e materiais na economia, em vez de retirá-los diretamente das reservas naturais;
  • Criar valor para os consumidores a partir de produtos e materiais já existentes;
  • Gerar insumos valiosos para outras empresas, além do consumidor final.

Essas iniciativas visam maximizar o uso dos recursos disponíveis, reduzindo o impacto ambiental e os custos envolvidos na produção. Ao adotá-las, podemos promover uma economia mais circular e sustentável, contribuindo para a preservação do meio ambiente e para a construção de um futuro mais próspero e justo para todas as pessoas.

Missão social em foco: usando empreendimentos para transformar

Empreendimentos sociais são organizações que buscam solucionar problemas sociais ou ambientais por meio de modelos de negócio inovadores e sustentáveis. Eles se diferenciam de outras empresas por sua missão social, que é tão importante quanto a geração de lucro.

Essas organizações podem atuar em vários setores, como educação, saúde e meio ambiente, buscando promover mudanças positivas na sociedade por meio de suas atividades empresariais. As empresas sociais têm se destacado como uma alternativa viável para o desenvolvimento de soluções inovadoras e eficazes para problemas sociais, contribuindo para um futuro mais justo e sustentável para todos.

O site do MaRS Startup Toolkit separou alguns modelos de empreendimentos sociais que podem ser úteis para formar um repertório sobre o assunto:

Tabela (em inglês) disponível no MaRS Startup Toolkit

Agora, é tentar juntar essas e outras pecinhas pra criar

Para pensar modelos de negócios inovadores, é essencial estar atualizado sobre as tendências do mercado — da mesma forma que é importante na concepção de novos produtos. Isso envolve pesquisar as novidades do setor em relatórios e notícias. No entanto, é importante também atentar-se a ideias que ainda não foram exploradas e podem oferecer insights valiosos. Às vezes, as melhores ideias estão bem próximas, mas ainda não receberam a devida atenção. Portanto, é preciso manter os olhos abertos para identificar oportunidades e criar algo novo.

REFERÊNCIAS

CEO Guide to the Circular Economy. WBCSD&Accenture. [Disponível em: https://cebds.org/wp-content/uploads/2017/06/WBCSD_CEO_Guide_to_CircularEconomy_2017.pdf]

Startup Business Models and Pricing (vídeo). Startup School. [Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=oWZbWzAyHAE]

Circular Business Model Examples. Board of Innovation. [Disponível em: https://www.boardofinnovation.com/blog/circular-business-model-examples/]

Circular Economy Business Models Explained. Board of Innovation. [Disponível em: https://www.boardofinnovation.com/circular-economy-business-models-explained/]

Social enterprise business models. MaRS Startup Toolkit. [Disponível em: https://learn.marsdd.com/article/social-enterprise-business-models/]

Design Toolkit. IDEO. [Disponível em: https://www.designkit.org/methods]

Do que é feito [o sapato da Insecta]? Insecta Shoes. [Disponível em: https://www.insectashoes.com/p/sustentabilidade]

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