MotivADA

Natália Loreto
Apple Developer Academy | UFPE
9 min readApr 11, 2024

“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

Em uma das mais significativas obras da literatura brasileira, Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa une elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, resultando em uma obra singular e inovadora.

Quando leio Guimarães Rosa, especialmente esse trecho, reflito sobre a impermanência das coisas, sobre as reviravoltas que a vida dá. É impossível ler G. Rosa, e não se admirar com a sua habilidade no manejo com as palavras, atrelada a uma profunda capacidade de vislumbrar a essência do ser humano, tornando sua literatura uma fusão de arcaísmos, cultura popular e mundo erudito. Teria o escritor nascido com um DOM CRIATIVO?

Me chamo Natália, tenho 34 anos, trabalho como Enfermeira há 12 anos, sou estudante de Design Gráfico do Instituto Federal de Pernambuco e aprendiz na Apple Developer Academy | UFPE.

Pra começo de conversa…

Sempre fui considerada, na minha família, como uma criança criativa, de imaginação muito fértil, tenha sido pelas brincadeiras, roupas e maneiras de me vestir ou pelas conclusões e raciocínios aos quais eu chegava. Ao chegar na fase adulta, confesso que nunca me enxerguei como alguém criativo, sempre fui fascinada pela arte(pintura, escultura, literatura, arquitetura, e por aí vai…) e na minha cabeça só artistas teriam essa ‘capacidade’ de serem criativos, somente nascendo com um algum tipo de genialidade ou dom seria possível criar algo relevante.

Tá, guarda essa informação.

Fiz minha primeira graduação. Atuo como enfermeira até os dias atuais e jamais pude imaginar que faria parte de uma comissão de frente em uma pandemia. O ano era 2020 e o mundo se fechava e lutava contra a Covid-19, a pandemia impactou de diversas formas as pessoas que conseguiram sobreviver a ela. O distanciamento social provocou mudanças nos padrões de comportamento da sociedade, alterações nos métodos de trabalho e entretenimento, e redução de renda e o desemprego agravaram a tensão nos lares. O luto pela perda de entes queridos e a impossibilidade de realizar rituais de despedida, contribuíram para o aumento do estresse e dificultaram a ressignificação das perdas. Comigo, trabalhando diretamente na assistência e gestão dos serviços à saúde, não foi diferente. O Burnout veio!

Um incômodo, uma angústia, algo parecia não estar certo, alguma coisa precisava ser modificada e rápido. Durante alguns meses cai em um mergulho profundo pra dentro de mim mesma.

“Era uma mulher carregada de ausências e silêncios. Para dentro da Isaura era um sem fim e pouco do que continha lhe servia para a felicidade. Para dentro da Isaura a Isaura caía.”

Trecho do livro O filho de mil homens, de Valter Hugo Mãe.

Foi nesse mergulho que descobri partes ocultas de mim, um resgate de mim mesma e, dentre tantas incertezas, eu tinha a certeza do que eu não queria mais. Eu precisava de CORAGEM.

Busca Implacável

Então estava eu aprovada em Design Gráfico no IFPE, empolgada em começar algo novo, algo que me levaria a experiências e lugares jamais imaginados. Foi nesse comecinho do curso que eu descobri a Apple Developer Academy (ADA) | UFPE.

ADA?

Sim, ADA, Apple Developer Academy | UFPE (chique!). Eu nunca na minha vida soube da existência desse projeto, foi por acaso(caso do acaso bem marcado em cartas de tarot) que descobri e pensei ‘vai que, por que não?!’. A ADA é um projeto de capacitação, criado em parceria entre o Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco e a Apple, que tem como objetivo habilitar estudantes a resolverem problemas reais por meio de tecnologia, com ênfase no ecossistema Apple. A educação interdisciplinar integra três pilares: programação, design e inovação.

No período de 6 meses, eu passei de total desconhecimento do projeto à aluna do projeto!

Ta passada?

Tu acredita? Pois foi!

Imagina eu vendo esse esfria e esquenta na minha vida, um mundo de novas possibilidades se abrindo, um passo de coragem que a gente dá e os lugares que eles podem nos levar.

É um negócio perigoso, Frodo, sair da sua porta. Você pisa na estrada e, se não controlar seus pés, não há como saber até onde você pode ser levado.

J.R.R. Tolkien — O Senhor dos Aneis , A Sociedade do Anel, pg.76, 2000

Vou começar agora…

Pois é, da Enfermagem ao Design Gráfico e do Design à Programação e Inovação. Deixemos programação para um outro momento (‘çocorro’) e falemos um pouco mais sobre inovação, mais especificamente sobre criatividade.

Cheguei muito animada e curiosa pra saber mais sobre Inovação, foi meu primeiro contato com a área, pelo menos consciente, e foi um 'tapa de luva' (metáfora que se refere a uma resposta de ação feita com elegância, educação ou sutileza, mas que tem o objetivo de mostrar desagrado em relação a algo que foi dito ou feito anteriormente), daqueles bem dados! (visse, Alana?!)

As estruturas aqui dentro foram sendo balançadas, a forma como eu enxergava o que era ser uma pessoa criativa foi ruindo e tudo aquilo foi me levando às histórias que ouvia sobre minha infância que, não coincidentemente, era o período em que existia um querer saber mais sem me sentir esgotada com o volume de informações, era quando eu vivia o momento presente sem me preocupar com consequências futuras.

Conforme a mentoria ia avançando, muros iam sendo derrubados e pontes sendo construídas, como já dito, eu considerava a criatividade algo que só pessoas extraordinárias conseguiam ter, uma vocação de alguns que nascem especiais. Fiquei feliz em descobrir, ali naquele momento, que não é bem assim que acontece (UFA!).

Guimarães Rosa deve ter trabalhado um bocado!

" A Criatividade não é uma habilidade rara. Não é difícil acessá-la. A criatividade é um aspecto fundamental do ser humano. É um direito nosso de nascença. E é para todos nós. A criatividade não está ligada exclusivamente à arte. Todos nós nos envolvemos nesse ato diariamente. Criar é trazer à existência algo que antes não existia. Pode ser uma conversa, a solução de um problema, um bilhete para um amigo, a reorganização da mobília na sala, um novo caminho para casa a fim de evitar engarrafamento."

O ato criativo: uma forma de ser, de Rick Rubin

" O que você faz não precisa ser testemunhado, gravado, impresso, vendido ou emoldurado para ser uma obra de arte. Pelo corriqueiro estado de ser, já somos criadores de maneira mais profunda: criamos nossa experiência da realidade e concebemos o mundo que percebemos."

O ato criativo: uma forma de ser, de Rick Rubin

Não achando pouco todo o reboliço interno causado (lá vem ela de novo)…

fui desafiada, fomos desafiadas (eu e minha dupla) a juntar duas coisas, inicialmente, impossíveis de serem unidas e resultar em algo bom. Depois de muito pensar e não ter achado solução, comuniquei abertamente que não sabia o que fazer. Ela me olhou e disse: "Não se subestime!"

minha cabeça

Ela nem sabe o tanto que essa frase ecoou na minha cabeça e o quanto foi transformador me transportar de um lugar de incapacidade para um lugar de potência. (Alana, essa foi pra você!) Aaahhh, e conseguimos solucionar o problema!

A saideira…

Passado todo o primeiro impacto, busquei algumas leituras que me ajudaram a consolidar ainda mais tudo o que eu ainda continuo aprendendo sobre criatividade e inovação. Trouxe alguns trechos de leituras pra ajudar a entender um pouco mais sobre:

  1. Consciência

" A capacidade de olhar profundamente é a raiz da criatividade. Ver além do comum e mundano e chegar ao que, sem ela, poderia ser invisível."

Embora não possamos mudar aquilo que percebemos, podemos mudar nossa capacidade de perceber.

Podemos expandir e estreitar a consciência, experimentá-la, com os olhos abertos ou fechados. Podemos aquietar nosso interior para perceber mais o exterior, ou aquietar o exterior para notar mais o que acontece dentro de nós.

Podemos nos concentrar tanto e tão de perto que as coisas percam as características que as tornam o que parecem ser, ou nos afastar tanto que elas pareçam algo inteiramente novo.

O Universo tem apenas o tamanho da nossa percepção. Quando cultivamos nossa consciência, expandimos o Universo.

Isso amplia o alcance tanto do material, que está à nossa disposição para criarmos, como da vida que temos para viver.

2. O vaso e o filtro

"Não importa quais ferramentas você use para criar, o verdadeiro instrumento é você. E através de você o Universo que nos cerca entra em foco."

Pode-se pensar no ato criativo como a soma do conteúdo de nosso vaso como material potencial, a seleção dos elementos que parecem úteis ou significativos no momento e a representação deles.

Essa é a Fonte que passa por nós e é transformada em livros, filmes, prédios, quadros, refeições, empresas — qualquer projeto em que embarquemos.

Se escolhermos compartilhar aquilo que fazemos, nosso trabalho pode recircular e se tornar uma fonte de material para outros.

3. Procure pistas

"Procure por aquilo que você percebe, mas ninguém mais vê."

O material para nossa obra nos cerca a cada passo. Está entrelaçado nas conversas, na natureza, nos encontros casuais e nas obras de arte existentes.

Quando você estiver buscando a solução para um problema criativo, preste muita atenção no que acontece à sua volta. Procure pistas que indiquem novos métodos ou caminhos para desenvolver melhor as ideais atuais.

Essas transmissões são sutis: estão sempre presentes, mas não é fácil percebê-las. Se não estivermos procurando pistas, elas vão passar sem que sequer as notemos. Permaneça aberto às conexões e considere aonde elas podem levar.

4. Insegurança

A insegurança está viva em todos nós. E, embora preferíssemos que nos deixasse em paz, ela existe para nos servir.

As falhas são humanas, e a atração da arte é justamente a humanidade que há nela. Se fôssemos máquinas, a arte não reverberaria em nós. Seria sem alma. Com a vida, vêm a dor, a insegurança e o medo.

Somos todos diferentes e somos todos imperfeitos. São as imperfeições que tornam nossa obra e cada um de nós interessantes. Criamos peças que refletem quem somos e, se a insegurança fizer parte de quem somos, nossa obra consequentemente terá um grau maior de verdade.

5. Inspiração

As epifanias se escondem nos momentos mais corriqueiros: uma sombra que se manifesta, o cheiro do fósforo que se acende, uma frase comum entreouvida ou mal-ouvida. A dedicação à prática de estar presente regularmente é o principal requisito.

Para variar a inspiração, pense em variar a entrada de dados. Desligue o som para assistir a um filme, escute a mesma canção sem parar, leia apenas a primeira palavra de cada frase de um conto, arrume pedras por tamanho ou por cor, aprenda a ter sonhos lúcidos. Rompa hábitos. Procure diferenças. Observe conexões.

6. Hábitos

Disciplina e liberdade parecem opostas. São parceiras. Disciplina não é falta de liberdade, é uma relação harmoniosa com o tempo. O bom controle de horários e hábitos cotidianos é um componente necessário para dar vazão à capacidade prática e criativa.

7. A não competição

Sentir-se impactado por causa da melhor obra de outra pessoa e permitir que ela o inspire de tal modo que você fique à altura do projeto não é competição. É colaboração.

Há outro tipo de competitividade que pode ser vista como um ganho infinito, que continua a se desenrolar no decorrer da vida do artista: a concorrência consigo mesmo.

Pense na autocompetição como uma busca por evoluir. O objetivo não é menosprezar nossas outras obras. É fazer como que as ideais avancem e sentir que está progredindo. É crescimento, não superioridade.

O ato criativo: uma forma de ser — Rick Rubin

A expulsadeira…

Playlists que ouvi durante a escrita desse artigo:

Obras que me ajudaram a entender mais sobre Inovação e Criatividade:

Iluminou por aí?

Coragem, visse?!

Beijos e até a próxima!

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