Utilizando de experiências analógicas para pensar em tecnologia

Cecília Moraes
Apple Developer Academy | UFPE
4 min readAug 1, 2023

Em tempos de streamings, óculos de realidade aumentada e exposições virtuais, qual o poder das coisas que fazemos no mundo físico? Para responder essa pergunta, precisamos voltar um pouco no tempo e entender como chegamos aqui!

Evolução da impressão gráfica

Antigamente, o compartilhamento de conhecimento se dava principalmente de forma oral, passando de geração em geração. Com o passar dos séculos, o registro das informações evoluiu para a escrita, mas o processo era manual, trabalhoso e de difícil acesso.

Então, daremos um pulo para o século XV! Johannes Gutenberg cria uma máquina capaz de mecanizar o processo de impressão, permitindo a produção em larga escala de livros e outros materiais impressos. A máquina é conhecida como Prensa de Gutenberg e foi essencial para a criação de todos os jornais, outdoors e anúncios que vemos em nosso dia a dia. O processo de reprodução de textos torna-se mais rápido e fácil.

Prensa de Gutenberg

Séculos depois, em torno de 1820, o francês Joseph Nicéphore Niépce fez alguns experimentos que resultaram na primeira fotografia da história (você pode ler um pouco mais sobre isso aqui). A partir daí, as evoluções técnicas relacionadas à fotografia também continuaram evoluindo até chegar em celulares com câmeras que gravam vídeos em 4K.

Considerada a primeira fotografia do mundo, tirada por Joseph Nicéphore Niépce

Esse contexto histórico é importante para entendermos que a quantidade de informações que temos hoje de forma tão rápida, em um aparelho que cabe em nossas mãos, é algo novo. Vivemos em um mundo altamente tecnológico, onde experiências analógicas simples como escrever com caneta e papel, ler um livro físico ou fazer uma pintura à mão tornam-se momentos raros em tão pouco tempo. Mas a verdade é que o mundo digital ainda é uma representação do mundo físico e, portanto, as coisas que construímos e a criatividade que aplicamos em projetos analógicos trazem muito valor para nossos projetos digitais.

Analógico x Digital

Quanto mais migramos para o digital, mais torna-se perceptível a necessidade de trazer estímulos e sensações do mundo físico para as novas tecnologias. Um exemplo disso são aplicativos de realidade aumentada que trazem uma nova forma de experienciar o processo de fazer arte. No exemplo abaixo, detalhes muito sutis são adicionados para que possamos nos lembrar da experiência de pintar um quadro na vida real. Seja a forma de segurar o controle, os sons ou a própria forma da tinta ao se espalhar pelo espaço.

A combinação entre o analógico e o digital talvez seja a chave para criar produtos criativos e com boas experiências de uso para seus usuários.

Existem diversos aplicativos, músicas, jogos e experimentos que tentam juntar os dois mundos. No livro Processo de criação em design gráfico: Pandemonium, de Leopoldo Leal, somos levados a entender um pouco do processo criativo e caótico que acontece dentro da área do design gráfico. Entretanto, o ponto que mais chama minha atenção é justamente a quantidade de experimentações feitas com objetos do dia a dia e como isso tudo se traduziu em tipografias e projetos gráficos digitais.

Páginas do livro "Processo de criação em design gráfico: Pandemonium", de Leopoldo Leal

Experiências analógicas na construção de produtos digitais

A verdade é que o mercado de trabalho é um pouco limitante e nem sempre podemos nos expressar e trabalhar com papel e caneta enquanto temos várias obrigações e tarefas para cumprir. Como UI designer, sinto falta do processo analógico e sempre tento incorporá-lo nos meus processos de desenvolvimento de produtos.

Exemplo de protótipo de baixa fidelidade

Dentro da etapa de prototipação de um app, por exemplo, nunca pulo o Lo-fi. Construir um protótipo de baixa fidelidade de forma manual sempre me ajuda a ter uma noção geral do fluxo do aplicativo de forma rápida e é de fácil compartilhamento entre a equipe. Em uma folha de papel, as alternativas são infinitas e não se limitam a programas de design gráfico. Na fase de ideação, desenhos também são ótimos para Crazy 8, brainstormings e moodboards.

A ideia não é escolher entre o analógico ou digital, até porque estamos falando de produtos digitais, mas juntar os dois para potencializar a expressão artística, a inovação e a eficiência. A criatividade analógica estimula a espontaneidade e a experimentação, facilitando a geração de soluções inovadoras que podem não surgir facilmente com o uso exclusivo de ferramentas digitais.

Todo o conteúdo desse texto foi pensado através de pesquisas feitas para a palestra "Corpo-a-corpo: do análogo ao digital", que apresentei com André Arraes de Alencar Valença em julho de 2023.

Qualquer dúvida ou feedback, pode falar com a gente pelo Linkedin (Cecília Moraes e André Valença). Vamos continuar essa conversa! :)

Obrigada!

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