Startup, design e uma nova perspectiva
Há um ano eu começava a por meu pé no mundo das startups, onde tudo era novo: o empreendedorismo, pessoas com cabeça aberta, liberdade criativa, padrões novos a serem definidos, costumes a serem incorporados e tudo que se imagina de um mercado totalmente amplo e aberto a novas ideias.
Para quem vinha de uma empresa tradicional, onde a hierarquia comia solta, e onde cada mínimo espaço era altamente disputado e igualmente desestimulante, essa virada de página era no mínimo eufórica. Aquela sensação de “trabalho dos sonhos” vinha a tona algumas vezes ao dia e, ao mesmo tempo, o pensamento de “por onde começo a fazer o meu melhor?”.
No começo é difícil conter todas essas novas possibilidades, pois ao mesmo tempo que sabia que quase tudo era possível, também queria fazer um ótimo trabalho para mim e um excelente para os outros.
Neste texto vou tentar relatar apenas alguns processos que vivi no dia a dia da startup, como processo criativo, planejamento e conceitos que foram formados a partir destas novas experiências.
Redefinindo conceitos
Todo trabalho, em seu início se dá por muito estudo, entendimento de como o produto funciona e se comporta nas suas mais diferentes aplicações. Como estamos falando de startup, todas essas “funcionalidades” estão em constante adaptação, sendo assim, são as suas ideias e as dos demais membros da equipe que vão definir o futuro do produto.
Os primeiros meses se resumiram em muito estudo, aplicações bem e malsucedidas e outras que sequer foram aplicadas. Por que? Porque startups são assim, ideias e funcionalidades novas surgem diariamente, o que era bom ontem pode não ser o ótimo amanhã. O melhor deste processo é que isso impõe uma constante mudança de pensamento, e quando menos esperamos, o produto que antes era dos outros, mais do que nunca, é também composto por muitas ideias suas.
Voltando ao ponto, design.
1 · Estudando os produtos
Como peguei o bonde andando, já existiam alguns trabalhos e por meio destes me basearia para as novas entregas. E assim foi, passei a limpo tudo que existia e rascunhei a maioria das coisas que planejava incrementar, remover, adicionar e deixar. Como nossa startup não trabalha definidamente com um único tipo de produto, o estudo foi mais extenso. Havia a necessidade de tentar fazer a ligação visual dos padrões futuros entre todos eles. Esta foi a primeira linha de estudo definida a ser seguida.
A segunda foi a implementação de um padrão de interface que antes não existia. O terceiro, e não menos importante, foi planejar como tudo seria montado e suas prioridades definidas, afinal, o trabalho em equipe deve feito sempre pensando entre todos os membros, principalmente a entrega aos desenvolvedores.
2 · Definindo o peso visual para um público neutro
Nosso produto é muito abrangente e atinge o mais variado público, então, cheguei a conclusão que visualmente devíamos ser neutros para facilitar visualmente qualquer tipo de olho, ou seja, propor algo confortável a todos os clientes, sem é claro, perder as características da marca. Foi assim que decidi diminuir o volume de cores aplicadas e trabalhar nas mais diferentes formas de contrastes de preto para branco.
O ponto crucial de todas as telas é a tipografia, não por tendência, mas sim por necessidade, isso porque nossos produtos variam de e-commerces, aplicativos, landing pages, painéis de controle e até as mais simples páginas de erro e formulários vazios.
3 · Criação da hierarquia visual
Pontos 1 e 2 definidos! É hora de botar os pixels na massa. Logicamente, os pontos anteriores foram desenvolvidos paralelamente aos jobs do dia a dia, o que me deu mais certeza de que estava indo no caminho certo para definir algo harmônico para a marca. E assim foi feito durante aproximadamente 8 meses.
Cores, tipografia, botões, formulários, ícones e afins foram construídos aos poucos se adaptando a nossa demanda, chegando a um resultado equilibrado com elementos utilizáveis em todos os produtos do AppTicket.
4 · Apontando o que foi feito para outra direção
Hoje a startup se encontra em uma fase de melhorar tudo que já foi feito, sem esquecer das funcionalidades novas que ainda lançaremos. Esse é o momento em que o todo o trabalho feito para conquistar um identidade visual flexível a todos os produtos valeu a pena. Como toda startup, ideias são como montanhas russas, e o que era certo ontem, nem sempre poderá ser amanhã, ou pelo menos útil. Por isso, o processo de definição e criação é infinito, pois um produto que não se adapta às necessidades do cliente ou se quer a ele mesmo, com certeza não é viável.
5 · Novas ideias
Há quase um ano respirando startup, design e novas ideias, não me lembro um dia sequer em que uma nova ideia não tenha sido discutida. Nem sempre implicadas por daily meetings, mas a maioria delas pelo simples ímpeto de fazer algo novo e melhor.
Muitas vezes essas discussões, ou brainstorms se preferir, acontecem para definir pequenas entregas do diárias e/ou resolver algum problema devido à alguma solução paliativa posteriormente adotada, mas jamais deixando de lado a qualidade do nosso produto.
Startups sem ideias, são como carros sem gasolina, você pode até ter o mais bonito, mas se não tiver o básico, você não vai a lugar algum.
6 · Criando sem conteúdo
É normal existir a necessidade de se criar algo do zero, simplesmente por ter de resolver uma necessidade urgente ou até sem ter toda certeza do mundo de que aquilo será a melhor solução. Mas esse é o intuito, na maioria das vezes, para termos um produto diferenciado: não adotaremos soluções comuns ou que já vimos em outro lugar.
Aqui no AppTicket, a dificuldade neste ponto sempre vai ser em dividir as prioridades na necessidade do comprador e vendedor. Pode parecer sem fundamento, mas uma pessoa que está comprando entende uma informação completamente diferente de quem está vendendo. Por isso, nem sempre podemos supor todas as ações tomadas pelos dois lados.
Esse é o ponto principal!
No meu ponto de vista, é importante adotarmos posições diferenciadas principalmente nesse aspecto de usabilidade. Isso é o que difere uma startup bem sucedida e que oferece um produto que atende seu público com soluções pautadas em suas necessidades.
7 · Planejar o novo, após o novo
Portas se fecham e se abrem constantemente. Aquela sua ideia até então muito boa, às vezes não serve para nada. Já aquelas você nem gostou tanto são as ideias totalmente viáveis. É, acontece! Após teoricamente fechar o job, sempre vem aquela vontade de começar o próximo, mas nem sempre se prenda a isso, às vezes o próximo pode te prender, ou até mesmo aquele ócio criativo vem e te prende naquele wireframe que você já navegou mais de cem vezes.
Não entendeu? Pare cinco minutinhos e vá tentar compreender melhor o job, até porque planejamento nem sempre é referente à marca, ou àquele produto em si, mas por muitas vezes deve ser feito em cima do seu próprio trabalho. Coloque em pauta: “Será que esse meu job tá bom mesmo?”.
Além das mais cotidianas situações que já comentei no texto, e não são nem 10% do que acontece, muitas vezes você vai ter que planejar coisas novas, inclusive planejar você mesmo! Praticamente um ano depois, vivendo esse mundão das startups, percebi que tal universo é muito maior do que todos imaginam, e ao mesmo tempo, pouca gente sequer conhece o termo.