Ilustração: Esmile Studio.

Dados e algoritmos “on demand”

3 documentários sobre tecnologia para agregar à sua lista da Netflix

Vanessa Petuco
Aprix Journal
Published in
6 min readMay 18, 2021

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A tecnologia está mais presente em nossas vidas do que nunca. Por meio dela, não somente muitas tarefas do nosso cotidiano se tornaram mais simples e práticas de serem executadas, como também se tem conseguido realizar avanços científicos inimagináveis até poucos anos atrás. Porém, apesar da tecnologia estar ao nosso redor e compor grande parte do funcionamento do mundo, não significa que a compreendamos e entendamos seus efeitos em nossas vidas por completo. Por esta razão, o Aprix Journal buscou três documentários sobre dados, algoritmos e tecnologia em si que ajudam a entender a complexidade por trás deste mundo digital. Confira:

Foto: Coded Bias (Netflix)

1. Coded Bias

Durante seu primeiro semestre trabalhando no Laboratório de Mídia do MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts), Joy Budamwini, doutoranda em Ciências da Computação, começou a desenvolver um projeto o qual denominou Aspire Mirror (Espelho da Inspiração, em inglês). O objetivo era produzir um espelho em que as pessoas poderiam agregar aos seus rostos filtros com elementos e imagens que gerassem inspiração ao iniciar o dia. Para tanto, Joy utilizou uma webcam e um software de visão computacional para realizar o processo de reconhecimento facial. Porém, ao contrário do esperado, o computador não conseguiu detectar seu rosto. Longe do simbolismo de Frantz Fanon, o reconhecimento só foi possível ao Joy colocar, literalmente, sobre a sua pele negra uma máscara branca.

Softwares de reconhecimento facial, como o utilizado por Budamwini, utilizam a tecnologia de Inteligência Artificial (IA) e Aprendizado de Máquina. Dessa forma, seus desenvolvedores treinam o algoritmo para identificar faces fornecendo imagens de rostos e sinalizando ao sistema os rostos encontrados nestas imagens. O contrário também é realizado, ou seja, o programador dá exemplos para o algoritmo de imagens que não contém rostos. Assim, o computador aprende o que é um rosto e o que não é.

Frente à incapacidade do software reconhecer seu semblante, Joy Budamwini começou a investigar o conjunto de dados utilizados durante o treinamento do algoritmo. Com esta análise, a doutoranda descobriu que a grande maioria destes dados contém rostos masculinos e de pele clara. A investigação sobre os vieses na tecnologia é, então, o ponto de partida da pesquisa de Joy e o fio condutor do documentário.

Foto: The Great Hack (Netflix)

2. Privacidade Hackeada

A Internet nos permite realizar uma série de atividades, tais como nos comunicar com outras pessoas, estudar, planejar viagens, realizar pesquisas, comprar, fazer transferências bancárias, acompanhar as notícias. Assim, o que antes nos exigiria horas de envolvimento ou locomoção física, hoje pode ser realizado em poucos cliques. Porém, à medida que agregamos tecnologia ao nosso dia a dia e vivemos cada vez mais online, mais informações ao nosso respeito circulam e se armazenam nos softwares, aplicativos, redes sociais e sites que navegamos. Nesse contexto, entre os benefícios que o mundo digital é capaz de nos oferecer, a segurança e a privacidade nem sempre se incluem. Com base nesta premissa, o documentário discute sobre a privacidade online e os riscos implicados nos rastros digitais que deixamos nos espaços virtuais.

Para realizar a reflexão, o documentário se baseia no escândalo da Cambridge Analytica. O caso se iniciou por volta do ano de 2014, quando o cientista de dados e pesquisador da Universidade de Cambridge Aleksandr Kogan desenvolveu um quiz online denominado “This is Your Digital Life” (Esta é a Sua Vida Digital, em inglês). Ao ser compartilhado por meio do Facebook, 270 mil usuários da rede social permitiram que o teste tivesse acesso aos seus dados pessoais e de seus amigos, o que resultou na exposição de 87 milhões de pessoas. Com estas informações, o pesquisador vendeu à Cambridge Analytica, uma empresa de análise de dados e consultoria co-fundada pelo assessor político Steve Bannon, que logo depois foi contratado como estrategista da campanha presidencial de Donald Trump. As informações roubadas, então, acabaram sendo utilizadas para compreender o perfil psicológico dos cidadãos estadunidenses e delinear as estratégias de comunicação do candidato.

A narração deste escândalo no documentário se dá pelo professor de design de mídia na Parsons School of Design David Carroll. Após ter seus dados pessoais roubados, Carroll iniciou uma investigação sobre a Cambridge Analytica e, posteriormente, sua denúncia. Além de contemplar a perspectiva do professor sobre o caso, o documentário conta com a participação de várias personagens envolvidas, tais como Brittany Kaiser, ex-diretora de desenvolvimento de negócios da Cambridge Analytica e principal delatora da empresa; Carole Cadwalladr, jornalista investigativa do The Guardian; e Julian Wheatland, ex-diretor de operações da Cambridge Analytica.

Foto: Connected (Netflix)

3. A era dos dados

A Internet permitiu que os seres humanos se conectassem mais do que nunca na história da humanidade. Com um dispositivo eletrônico — um computador, um celular ou, até mesmo, um relógio — e uma conexão a uma rede de dados móveis ou Wifi, é possível conversar em tempo real com uma pessoa do outro lado do mundo, buscar uma fotografia feita em uma viagem há 5 anos atrás e escutar uma música gravada há 50 anos atrás, além de outras possibilidades executáveis em poucos minutos — ou segundos — e sob a palma da mão. Porém, Latif Nasser, doutor em História da Ciência pela Universidade Harvard e apresentador do documentário, acredita que há muito além das conexões digitais.

Com a crença de que tudo está conectado e que estamos ligados uns aos outros mais do que imaginamos, a série documental busca, então, encontrar as mais variadas e profundas conexões entre os humanos, os animais, a ciência, o universo e outros diversos elementos. Em “Monitoramento”, Latif aborda o ato de monitorar desde o ponto de vista da curiosidade e natureza humana, da sobrevivência das espécies, da privacidade, das tecnologias de reconhecimento facial e rastreamento e das possibilidades que a observação oferece. No episódio intitulado “Poeira”, busca-se entender o impacto que um pequeno grão de areia pode causar no oceano, no oxigênio e nos furacões. Já no capítulo chamado “Dígitos”, o doutor em História da Ciência explora um padrão numérico que se encontra na música clássica, nas redes sociais e, inclusive, em leis de combate à sonegação fiscal. Outro episódio curioso da série documental é “Nuvens”, em que se explica que entre as nuvens no céu e as nuvens de armazenamento de dados há uma conexão muito maior do que se pode imaginar.

Todas estas conexões são explicadas por especialistas de diversos cantos do mundo e são investigadas de perto pelo apresentador. Além de conectar os pontos entre os seres vivos, o mundo e o universo, o documentário compreende todas estas conexões como dados, ou seja, informações que conectadas geram outras informações e assim avança infinitamente.

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