Vou falar da Nintendo

Quero nem saber

Natália F. M. Zilio
Aquelas brisas de 5 minutos
4 min readOct 6, 2013

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O 3DS foi meu primeiro console da Nintendo. Não que eu não goste da Nintendo, mas meu pai era quem bancava meus jogos, e eu sempre acabava tendo os consoles que meu pai queria ter. E pra quem não sabe, gente mais velha que gosta de jogos vai mais pela qualidade dos gráficos que pelos jogos em si, então minha infância/adolescência teve muita Lara Croft e God Of War e pouco Mario Kart. Assim, só consegui realmente ter um console da marca quando comecei a bancar meus próprios joguinhos.

Recentemente eu estava brincando com os pequenos extras que o 3DS possui, como a praça Mii, onde você encontra pessoas por quem passou que também possuem o console, e o Troca-Cartas, um aplicativo gratuito em que você pode mandar cartinhas para sua lista de amigos. Dentro desses aplicativos há um sistema de moedas que você junta ao interagir com os programas, e que servem para você comprar coisinhas extras do próprio aplicativo. No Troca-Cartas, por 10 moedas você pode enviar uma mensagem de voz para o seu colega, enquanto que na Praça Mii 2 moedas valem uma peça de quebra-cabeça ou um herói errante para prosseguir no jogo Resgate Mii. Eu achei interessante o sistema pelo fato de não custar nada ao usuário. Talvez outras empresas implementassem um sistema de venda de moedas, mas a Nintendo fez com que a aquisição das mesmas fosse natural, então você não tem necessidade de comprá-las. Mas por que ela abriu mão dessa fonte de renda extra?

Ao comprar um console da Nintendo, você já está assegurando à empresa uma fonte de renda a longo prazo pelo simples fato de que uns 90% da biblioteca de jogos de qualquer console deles é da própria Nintendo. Sinceramente, por que motivo uma pessoa compra um 3DS? Não é por causa do 3D — conheço muita gente que comprou mesmo dizendo que não ia usar a tela em 3D porque dá dor de cabeça. Também não é por causa do dispositivo touch — funciona muito bem e estamos acostumados com essa tecnologia, mas não é um atributo decisivo na hora da compra. Não, a pessoa compra um 3DS porque quer jogar Mario, Zelda, Pokémon — porque esses jogos não existem em nenhum outro console. Talvez você tenha comprado por causa de algum exclusivo third party, mas não se engane, amigo, você vai acabar consumindo produtos da própria Nintendo, mais cedo ou mais tarde. Nem que seja só um Mario Kart pra “jogar com os amigos”. Então pra que que a Nintendo vai cobrar por um serviço tão bobo quanto moedas de jogo se ela já ganha milhões toda vez que lança um remake de Zelda pra qualquer console próprio anunciado?

IMPRIME DINHEIRO

E é também por isso que é uma empresa que investe tanto em novas tecnologias. A Nintendo sempre arriscou a criação de dispositivos diferentes — pistolinhas, tapetes com sensores, até um console 3D em uma época em que isso era praticamente inviável. E foi, de fato. Mas recentemente ela tem acertado e muito. E por que? Porque eles evoluíram não apenas em questões tecnológicas, mas de marketing também. Os consoles da empresa possuem a fama de “imprimir dinheiro”, porque os caras lá dentro sabem como a coisa funciona. A Nintendo já tem nome montado: todo mundo sabe que os jogos feitos por ela são divertidos e valem a pena serem comprados. E todo mundo sabe que a Nintendo não lança jogo pra nem um console além do próprio. Resultado? Todo mundo vai comprar um console da Nintendo, não importa a tecnologia usada, simplesmente pela possibilidade de sair um Super Smash Bros para ele.

New challenger approaching

Tem gente que comprou o Wii só porque o controle era diferente? Teve, claro que teve. Gente que não era muito ligada no segmento de jogos e comprou porque dava pra controlar o jogo brandindo o controle como uma espada, ou girando-o como um volante (coisa que a gente faz sem precisar de um sensor de movimento anyway). A Nintendo recebeu muito a fama de criar produtos para o público casual por causa disso. Mas a qualidade dos jogos não caiu; pelo contrário, quanto mais dinheiro eles recebem, mais meios eles têm de criar produtos melhores para o público que os acompanha. Ter gente que vai se interessar pelos produtos pela tecnologia diferente não é ruim — é até melhor, significa que eles acertaram. Mas notem como os jogos que mais acertam na hora de utilizar tais tecnologia são produções da própria empresa. A Nintendo sabe o que está fazendo e ela sabe a importância de ser pioneira no uso de novas tecnologias — não só financeiramente, mas em questão de progresso.

Eu respeito muito a maneira com que a Nintendo lida com seus produtos. Muita gente reclama que é uma empresa que faz sempre o arroz e feijão dela, que nunca faz jogo diferente, mas isso é porque as mudanças que ela aplica são tão sutis e naturais que você não nota. Tais mudanças só são realmente reconhecidas quando uma outra empresa lança um platformer parecido com Mario Galaxy, por exemplo. Aí você percebe que, mais uma vez, a empresa engrenou no pioneirismo e que não vai parar por aí. São gerações e gerações que continuam consumindo seus produtos e que não vão ver o fim da instituição tão cedo.

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