Ar rarefeito: Pro torcedor vascaíno

Análise Vasco
Ar rarefeito: Pro torcedor cruzmaltino
4 min readFeb 22, 2018

O vascaíno estava vivendo um sonho. Vasco de volta à Libertadores depois de 5 anos. Campanha avassaladora: 3 jogos 10 gols feitos, nenhum sofrido. Boas apresentações, jogadores antes contestados tendo boas performances. Meninos da base correspondendo.

O vascaíno vivia uma lua de mel com o time, e não só com ele. Zé Ricardo muito elogiado com razão entregava muito além do esperado (por limitação e perdas de peças importantes) e era valorizado por isso.

Com uma vantagem imensa Vasco viajou para Bolívia pregando um discurso de tratar o jogo com seriedade. E tratou. Estará equivocado quem pensar que a quase tragédia tem alguma relação com salto alto ou oba oba.

Com 5 minutos de jogo o adversário não tinha deixado o Vasco nem respirar. Era esperado. Mas o Vasco, o time que até então estava sabendo sofrer, sofreu o primeiro gol com menos de 6 minutos. Sinal de alerta ligado! O que fazer? Na cabeça de todos os torcedores e provavelmente até na cabeça de Zé Ricardo era: tirar a velocidade do jogo, colocar a bola no chão, aproximar as linhas, se movimentar… NÃO! Na cabeça do Pikachu a solução era: na saída de bola parte pra cima e fazer o g…

tsc…

Ao inexplicavelmente se ATIRAR ao ataque o jogador não só perdeu a bola ao dar um passe precipitado e equivocado, como deixou um vazio na primeira linha de 4 do Vasco. Serginho, jogador mais perigoso do time boliviano, e que joga os 90 minutos naquela faixa de campo aproveitou e colocou a bola na cabeça de Pedriel fazer o segundo. Além da falha do Pikachu vale destacar Paulão “marcando” a bola e Ricardo demorando a dar o combate, o autor do segundo gol boliviano infiltrou entre a dupla e aproveitou sua ótima estatura pra abrir o placar. Esse foi o gol mais importante para desmontar o Vasco, esse foi o gol que deu fôlego ao aviador. Esse foi o gol que fez o Vasco mudar tudo que vinha fazendo durante a competição. O Vasco não usava mais Ricardo, Desábato e os laterais para sair jogando. Agora o Vasco dava chutão. O Vasco não trocava passes com paciência e troca de posições. O Vasco parecia jogar pinball. Se limitava a tentar rebater (na maioria das vezes sem sucesso) as jogadas do adversário. Um dado comparativo: no primeiro jogo o Vasco trocou 456 passes com 85% de eficiência, em Sucre foram 355 passes com apenas 75% de acerto.

Na altitude dizem que o ar é rarefeito. Mas não faltou ar pro Vasco. Faltou pro vascaíno. O torcedor estava apático, atônito. Só quem sabe o terror que é tentar (em vão) acordar de um pesadelo pode ter uma ideia do que o coração do cruzmaltino viveu esta noite.

Apenas a partir dos 30 minutos (com o revés de 3x0 no placar) foi que o Vasco parou de tomar pressão. E poderia ter sido com o auxílio de jogadores experientes como Desábato, Wellington ou Wagner que compunham o meio campo (setor que era necessário dominar para parar de sofrer). Mas quem cadenciou, movimentou e impôs os interesses do Vasco em campo foi o Evander. Que apesar de usar a camisa 10, possui apenas 19 anos.

Evander é o meu destaque vascaíno da partida. Teve a companhia de Henrique e Paulinho que mesmo sem estarem nos dias mais brilhantes, foram os responsáveis por desafogarem o Vasco.

Pro segundo tempo me surpreendeu o Vasco voltar sem alteração. A minha opção seria tirar o Ríos e colocar Galhardo ou Rildo. Em qualquer das opções o Vasco melhoraria sua recomposição, ganharia em velocidade e qualidade técnica.

Zé tirou Wagner, depois Evander. Perdemos o melhor em campo, perdemos em cadência criatividade e em potenciais batedores de pênaltis. Poderia ter tirado apenas Wagner. Tanto Rildo como Galhardo (que jogou fora os elogios pela expulsão) entraram e melhoraram o Vasco ofensivamente. A última substituição foi de ordem física, não há o que contestar. Zé não prendeu Pikachu que continuava se arriscando perigosamente no ataque. Zé também não plantou o Wellington na cobertura. Nem o Rildo foi tão ativo defensivamente como de costume.

O fato é que o Vasco não conseguiu neutralizar as armas já conhecidas do Jorge Wilstermann. A velocidade pelo flanco esquerdo, a bola aérea e o Chávez flutuando nas costas dos volantes. Falha no planejamento ou na operação?

O Vasco quase pagou pelo apagão dos 30 minutos iniciais. Depois disso não fez um jogo brilhante, longe disso. Mas fez o aceitável (tática e coletivamente pois os erros individuais se repetiram até o final). Sofreu mas tentou jogar.

Mas a tragédia, e o coração já sem reação do vascaíno, que jurava “nem comemorar” caso passasse de fase só não esperava por um cenário tão contagiante quanto ver a sua maior representação em campo decidir a favor. Martín, que parecia sofrer no campo como o torcedor na sala, esperou a sua hora pra impor a sua grandeza e é claro a grandeza infinita do Gigante da Colina.

Foi feita a justiça.

Ao Vasco resta muito trabalho. E muita atenção. Mas apesar de tantos golpes o braço levantado ao final da luta foi o nosso. E é isso que será lembrado.

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