Álbum Mal dos Trópikos, de Makalister

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Araetá
Published in
4 min readApr 5, 2018

por Igor Yukiho Casagrande Yamawaki

Capa do álbum "Mal dos Trópikos, Construindo a Ponte da Prata Roubada" (2018).

Com o verso “Do meio da culminação de tudo que é comum, me exijo fora”, Makalister inaugura seu primeiro álbum: Mal dos Trópikos, Construindo a Ponte da Prata Roubada (2018). A obra abre diferenciando seu estilo dos demais rappers do cenário brasileiro atual. As estrofes de Quando Observo a Cruz de Folga, primeira faixa, mostram o esforço de construir letras com “linguagem culta, poesia chula” (verso de Aori em Sem Fôlego). Dessa maneira, a obra permeia por temas como relacionamentos, amadurecimento e a vida em São José (SC), cidade em que vive.

O MC catarinense, Makalister.

Makalister mostra seu gosto por cinema em versos que citam obras e diretores famosos, como no próprio título do álbum: Mal dos Trópicos (2004), de Apichatpong Weerasethakul. Em Synedoche Linhas Pífias, há recortes de uma entrevista de Glauber Rocha. Ele diz que “a arte livre é a arte brasileira, Emanuele e Último Tango em Paris não são obras de arte, são apenas filmes pornográficos. Boa noite, e as crianças brasileiras não devem ver Super-Homem”. As referências a filmes são características presentes em todas as músicas e a valorização da cultura brasileira às vezes é retomada com o uso de referências do próprio rap brasileiro.

Arte visual de "Synedoche Linhas Pífias".

Ao longo do álbum, há uma falta de coesão entre as músicas. Corpos de Cera no Incêndio fala sobre uma relação entre dois jovens, usando do calor entre seus corpos para construir uma narrativa com um instrumental de Lô Borges, músico de mpb. A próxima música, Linhas Abissais, tem o objetivo de se enaltecer e questionar aqueles que não gostam de seu som: “Mas o que tu queres? Derrubar minha firma?”. A melodia e percussão usadas também são típicas de um bate cabeça (como o rapper anuncia no prelúdio), ou seja, de uma sensação violenta.

Porém, contando como se as músicas se bastassem por si, há faixas com temáticas que colocam em evidência o potencial do rapper. Da Era do Amor Virtual fala sobre o amor hodierno a partir de uma perspectiva inserida no universo das redes sociais: “Onde os dogmas laçam e os androides se abraçam// Castos e cultos// Tudo é hologrado, inorgânico, mudo”. A última faixa, Quando as Sombras Brilharem, discursa sobre como é se tornar famoso repentinamente. Ela é um repúdio ao hype, quando a idolatria ultrapassa a própria imagem da celebridade. A música se desenvolve nesses versos de Diomedes Chinaski até Makalister relacionar essa fama com saúde mental: “Valsam os demônios em círculos no terraço de um corpo em ruínas// Anjos vigiam através de frestas, pontos cegos”.

Recado para Makalister na arte visual de "Quando as Sombras Brilharem".

Os versos de Makalister, com referências obscuras, as percussões experimentais, samples bem escolhidos e o flow único do álbum Mal dos Trópikos, Construindo a Ponte da Prata Roubada constroem uma obra de relevância para o rap nacional. Em 1999, o rapper Mahal dizia “Vão emergir MCs no Brasil fortalecendo a cultura hip-hop// Criando identidade forte”. Depois de quase duas décadas, Makalister emergiu.

Sobre o álbum:

Onde? Youtube, Spotify e Apple Music.

Quanto? De graça no Youtube e Spotify. A assinatura do Apple Music custa R$16,90, sendo que a assinatura universitária são R$8,50.

Até quando? Tempo indeterminado.

Links relacionados:

Escute o álbum no youtube

Sobre a arte do rap e como funciona o flow (em inglês)

Documentário pequeno dos anos 80 sobre sample (em inglês)

Mahal Reis — MCs Emergentes

Última mixtape de Makalister, Laura Muller Mixtape (2016)

Cypher que impulsionou a carreira de Makalister, Poetas no Topo

Escutando minha música favorita do álbum. Uma "selfie" usando a webcam do notebook e um celular.

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