A casa das intrigas

Regada de traições e sabotagens, a série ‘House of the Dragon’ é um ótimo retorno para o mundo de Westeros

Millena Moreia
Araetá
5 min readDec 6, 2022

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Por Millena Mahmud Moreia Slemian Gonçalves

Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy) em cena de sua coroação, no episódio 10.

Com seu primeiro episódio sendo lançado dia 21 de agosto, House of the Dragon conta a trama da família Targeryen 500 anos antes dos acontecimentos da aclamada série Game of Thrones. Na série, acompanhamos a jornada de Rhaenyra Targaryen, a primeira mulher da dinastia a ser nomeada como herdeira ao trono, apesar de ter irmãos homens — no mundo da série, assim como no mundo real, o comum seria que o trono passasse para o primeiro filho homem. A série conta com três pulos de tempo: nos primeiros 5 episódios, vemos a amizade da jovem Rhaenyra com Alicent Hightower, o romance com Daemon Targaryen, a ambição e determinação da jovem, e também sua relutância a exercer o papel esperado das mulheres; nos episódios 6 e 7, somos apresentados aos filhos de Rhaenyra, e vemos como a antiga amizade com Alicent se transformou em uma inimizade; nos últimos 3 episódios, vemos a morte do pai de Rhaenyra, o Rei Viserys I, e as consequências que tal morte trouxe — principalmente a corrida de Rhaenyra e Aegon, seu irmão mais novo, pelo trono.

Depois do final muito criticado da série Game of Thrones. House of the Dragon chega já precisando cumprir muitas expectativas e “curar” as feridas deixadas nos fãs. O que trouxe certo acalento aos fãs é que. diferente de Game of Thrones, cuja obra — um livro de mesmo nome, escrito por George R. R. Martin — em que foi baseada ainda não havia sido terminada, levando os produtores a precisarem criar um final por si próprios, House of the Dragon é baseada em uma história já terminada: presente no livro Fire & Blood, do mesmo autor. No entanto, Fire & Blood é uma obra peculiar: conta a história de toda a dinastia Targaryen, do seu início ao seu fim, e é contada a partir de três relatos de personagens existentes dentro do universo — personagens esses que não estavam presentes para ver os acontecimentos, fazendo com que seus relatos não sejam completamente confiáveis. Dessa forma, então, House of the Dragon encontrou dois desafios inesperados: primeiro, seria necessário fazer um recorte da obra, já que a série se propõe a contar apenas a história da guerra civil que ficou conhecida como Dança dos Dragões; e, em seguida, utilizar os três relatos, muitas vezes contraditórios, para criar um roteiro coeso.

Rei Viserys Targaryen (Paddy Constantine) segurando uma espada, em frente ao trono de ferro, em cena vista no trailer da série.

Diferente de sua série predecessora, House of the Dragon realiza uma adaptação fiel, que não perde a essência da obra — famosa por seus personagens de moralidade cinza, colocados em situações desesperançosas. Até mesmo as mudanças do material base que a série trás são bem pensadas e não danificam a história principal — muitas vezes, até mesmo melhorando-a. A principal mudança — e que acaba sendo uma escolha inspirada — é que, diferente dos livros, onde são majoritariamente mostrados os defeitos dos personagens, a série se esforça para humanizá-los: são poucos os personagens que não demonstram boas qualidades ou, pelo menos, um motivo para que o espectador se simpatize. Tal característica torna a trama ainda mais desoladora, já que permite que o espectador se apegue aos personagens, mesmo sabendo do futuro trágico que lhes aguarda.

Aegon Targaryen (Tom Glynn-Carney) e Alicent Hightower (Olivia Cooke) em uma carruagem, em cena do episódio 9.

É necessário dizer, no entanto, que a decisão de utilizar tantos pulos no tempo, contraditoriamente, fez com que muitos personagens não tivessem tempo suficiente em tela para que o espectador pudesse conhecê-los bem. Tal fato se faz mais presenta ao falar de Harwin Strong, amante de Rhaenyra, e de Laena Velaryon, primeira esposa de Daemon. Ambos possuem apenas um episódio, e menos de três ou quatro cenas, antes de suas cenas de morte. Dessa forma, o episódio 6, que normalmente seria comovente ao apresentar a morte de dois personagens queridos, não possui tanto impacto emocional. A série, nesse aspecto, passa a impressão de estar não apenas correndo, mas maratonando pelos acontecimentos, sem dar ao espectador tempo de respirar e refletir sobre o que acontece. Fornecer um ou dois episódios a mais para a série, então, poderia ter sido uma melhor decisão, já que isso permitiria uma maior inserção emocional do espectador na trama.

Daemon Targaryen (Matt Smith) trajando sua armadura em um campo de guerra, em cena do episódio 3.

Apesar do passo acelerado, House of the Dragon é uma trama engajante, onde o espectador vibra e sente raiva junto dos personagens. Certamente é uma série que, até o momento, redime o desastre da última temporada de Game of Thrones, e nos deixa anciosamente esperando pela próxima temporada.

Ficou curioso?

Onde assistir? No serviço de streaming HBO Max.
Quanto? Assinaturas estão disponíveis a partir de R$14,16 por mês.
Quando? House of the Dragon estará disponível indefinidamente.

Foto da autora do texto, eu.

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Published in Araetá

Críticas de Arte produzidas pelos alunos de Estética, disciplina da professora Edilamar Galvão ministrada no 3º Semestre dos cursos de Cinema, Cinema de Animação, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Rádio e TV e Relações Públicas da FAAP.