A casa das intrigas
Regada de traições e sabotagens, a série ‘House of the Dragon’ é um ótimo retorno para o mundo de Westeros
Por Millena Mahmud Moreia Slemian Gonçalves
Com seu primeiro episódio sendo lançado dia 21 de agosto, House of the Dragon conta a trama da família Targeryen 500 anos antes dos acontecimentos da aclamada série Game of Thrones. Na série, acompanhamos a jornada de Rhaenyra Targaryen, a primeira mulher da dinastia a ser nomeada como herdeira ao trono, apesar de ter irmãos homens — no mundo da série, assim como no mundo real, o comum seria que o trono passasse para o primeiro filho homem. A série conta com três pulos de tempo: nos primeiros 5 episódios, vemos a amizade da jovem Rhaenyra com Alicent Hightower, o romance com Daemon Targaryen, a ambição e determinação da jovem, e também sua relutância a exercer o papel esperado das mulheres; nos episódios 6 e 7, somos apresentados aos filhos de Rhaenyra, e vemos como a antiga amizade com Alicent se transformou em uma inimizade; nos últimos 3 episódios, vemos a morte do pai de Rhaenyra, o Rei Viserys I, e as consequências que tal morte trouxe — principalmente a corrida de Rhaenyra e Aegon, seu irmão mais novo, pelo trono.
Depois do final muito criticado da série Game of Thrones. House of the Dragon chega já precisando cumprir muitas expectativas e “curar” as feridas deixadas nos fãs. O que trouxe certo acalento aos fãs é que. diferente de Game of Thrones, cuja obra — um livro de mesmo nome, escrito por George R. R. Martin — em que foi baseada ainda não havia sido terminada, levando os produtores a precisarem criar um final por si próprios, House of the Dragon é baseada em uma história já terminada: presente no livro Fire & Blood, do mesmo autor. No entanto, Fire & Blood é uma obra peculiar: conta a história de toda a dinastia Targaryen, do seu início ao seu fim, e é contada a partir de três relatos de personagens existentes dentro do universo — personagens esses que não estavam presentes para ver os acontecimentos, fazendo com que seus relatos não sejam completamente confiáveis. Dessa forma, então, House of the Dragon encontrou dois desafios inesperados: primeiro, seria necessário fazer um recorte da obra, já que a série se propõe a contar apenas a história da guerra civil que ficou conhecida como Dança dos Dragões; e, em seguida, utilizar os três relatos, muitas vezes contraditórios, para criar um roteiro coeso.
Diferente de sua série predecessora, House of the Dragon realiza uma adaptação fiel, que não perde a essência da obra — famosa por seus personagens de moralidade cinza, colocados em situações desesperançosas. Até mesmo as mudanças do material base que a série trás são bem pensadas e não danificam a história principal — muitas vezes, até mesmo melhorando-a. A principal mudança — e que acaba sendo uma escolha inspirada — é que, diferente dos livros, onde são majoritariamente mostrados os defeitos dos personagens, a série se esforça para humanizá-los: são poucos os personagens que não demonstram boas qualidades ou, pelo menos, um motivo para que o espectador se simpatize. Tal característica torna a trama ainda mais desoladora, já que permite que o espectador se apegue aos personagens, mesmo sabendo do futuro trágico que lhes aguarda.
É necessário dizer, no entanto, que a decisão de utilizar tantos pulos no tempo, contraditoriamente, fez com que muitos personagens não tivessem tempo suficiente em tela para que o espectador pudesse conhecê-los bem. Tal fato se faz mais presenta ao falar de Harwin Strong, amante de Rhaenyra, e de Laena Velaryon, primeira esposa de Daemon. Ambos possuem apenas um episódio, e menos de três ou quatro cenas, antes de suas cenas de morte. Dessa forma, o episódio 6, que normalmente seria comovente ao apresentar a morte de dois personagens queridos, não possui tanto impacto emocional. A série, nesse aspecto, passa a impressão de estar não apenas correndo, mas maratonando pelos acontecimentos, sem dar ao espectador tempo de respirar e refletir sobre o que acontece. Fornecer um ou dois episódios a mais para a série, então, poderia ter sido uma melhor decisão, já que isso permitiria uma maior inserção emocional do espectador na trama.
Apesar do passo acelerado, House of the Dragon é uma trama engajante, onde o espectador vibra e sente raiva junto dos personagens. Certamente é uma série que, até o momento, redime o desastre da última temporada de Game of Thrones, e nos deixa anciosamente esperando pela próxima temporada.
Ficou curioso?
Onde assistir? No serviço de streaming HBO Max.
Quanto? Assinaturas estão disponíveis a partir de R$14,16 por mês.
Quando? House of the Dragon estará disponível indefinidamente.