A Maldição da Chorona

Vicente Ferreira

Vicente da Paz
Araetá
4 min readMay 6, 2019

--

Cartaz promocional do filme mostrando “La Llorona” com seus dois filhos

É sempre importante que critiquemos um filme com base no que ele propõe ser, e a partir disso, é quase impossível chegar na discussão do que o filme poderia ter sido, com base somente em sua premissa. “A Maldição da Chorona” (2019), primeiro longa-metragem do diretor Michael Chavez, é mais um na crescente lista de filmes de terror marcados pela “mesmice” e formula previsível, que, infelizmente geralmente contém um potencial claro para ser de fato aterrorizante.

Anna-Tate com seu filho Chris

O filme conta a história de Anna-Tate Garcia (Linda Cartellini), que, depois da morte de duas crianças que estavam sob seu cuidado são afogadas em um rio, têm seus dois filhos assombrados por uma entidade chamada de “La Llorona” (A Chorona) em Los Angeles durante os anos 70.

Então vem a pergunta: O que “A Maldição da Chorona” pretende ser? A resposta simplificada é que o filme pretende contar uma história baseada no conto de folclore mexicano com o qual compartilha o nome. O história conta de Maria, uma bela mulher que conhece e se apaixona por um homem rico. Os dois se casam e têm dois filhos, mas ao passar dos anos, seu marido se encontra cada vez menos presente em casa e eventualmente desaparece por completo. Maria, apesar disso, continua cuidando dos filhos mesmo com o pai ausente. No entanto, um dia, durante um passeio pela floresta com os filhos, ela avista uma carroça carregando um casal: seu marido e uma jovem, linda mulher. Eles param e o pai conversa com os filhos, mas ignora sua ex-mulher completamente, até que vai embora. Consumida pela fúria, Maria pega seus filhos e os afoga em um rio. Ao voltar a si, ela percebe o que fez e tenta salvá-los, sem sucesso. Maria então vaga as bancas do rio, chorando, de luto por seus filhos, incapaz de fazer qualquer outra coisa pelo peso de seus pecados, até que ela finalmente morre, nas mesmas bancas em que matou seus filhos. As lendas dizem que o espírito de Maria ainda vaga por todos os rios do México, procurando crianças parecidas com seus filhos para que possam tomar seus lugares. Seu andar marcado, sempre, por um choro incessante.

O conto original tem como tema principal o núcleo familiar, e como a quebra deste pode ter consequências trágicas para todos, inclusive aqueles sem culpa. A ideia da chorona como uma manifestação de seus próprios pecados e um lembrete para que as crianças tomem cuidado e não vão muito longe perto de água, principalmente no escuro, já carrega uma premissa interessante para um filme de terror, mas o que difere “La Llorona” de personagens folclóricos como o bicho papão ou a Cuca são suas características extremamente humanas e trágicas, algo que pode e deve ser explorado ao contar uma história baseada na lenda, especialmente uma em que a chorona é a principal antagonista. Outra faceta notável é a origem Mexicana do conto, que abre possibilidades extremamente interessantes não só de locação, mas também de explorações culturais e estéticas que o filme poderia fazer que não são vistas em uma indústria extremamente saturada pela cultura estado-unidense.

“La Llorona” durante uma das cenas do filme

E apesar de tudo isso, “A Maldição da Chorona” é, no final, só uma série de cenas genéricas feitas para tirar sustos de sua audiência. O enredo do filme é marcado por péssimas faltas de comunicação que são necessárias para que a história faça sentido. Os personagens exibem níveis de inteligência variáveis dependendo do quão ignorantes o filme precisa que eles sejam. Vale notar, no entanto, que a construção de pelo menos algumas das cenas de tensão chega a ser pelo menos um pouco criativo, especialmente uma das cenas envolvendo um guarda-chuvas. Mas no final das contas, o pior pecado que o filme poderia ter cometido, e que acaba cometendo bem descaradamente, é que sua antagonista, e personagem central, a Chorona, poderia ser substituída por qualquer outra criatura “ladra de crianças” sem nenhuma consequência notável na sequencia da história. E isto acaba sendo o que quebra o filme. Isso fica ainda mais triste quando vemos os 49% de presença das audiências latino-americanas na estréia do filme, que foram ver um filme esperando ver sua cultura representada, e saíram do cinema tendo visto o que é, em essência, um filme sem sal que praticamente ignora sua base folclórica.

Serviço:

Onde: Cinemas da franquia Cinemark

Quanto: Meia- R$ 17,00; Inteira- R$ 34,00 (Preços podem variar dependendo do dia)

Quando: de Hoje até Quarta-Feira 08/05

Trailer:

O autor da crítica, Vicente Ferreira

--

--