A Primavera
Eduardo Acquaviva Leme Barreiros
A “Primavera” é uma das quatro obras que compõe “As Quatro Estações” da artista plástica Rosana Ciotta. Ela representa toda a vida que a estação da primavera emana. Uma característica que me provocou muito foi a multiplicidade de cores vivas.
A tela “Primavera” foi adquirida pela minha família e a tela “Verão” encontra-se em um asilo na cidade de Cajati — SP (“Para alegrar o ambiente e promover um pouco de calor e aconchego às pessoas”).
Causou-me muito impacto esta tela, pois me representa a vida, alegria, vibração e recentemente eu havia feito uma pequena pesquisa de uma foto que mostrava o oposto (uma arvore da morte). Trata-se da fotografia de Lawrence Beitler, 1930, “The lynching of Thomas Shipp and Abram Smith”.
A mesma foto inspirou Abel Meeropol, em 1937, a escrever o poema “Strange Fruit”, que é um protesto em forma de poema que relata de forma metafórica o espetáculo para a apreciação pública, do enforcamento de negros nos estados sulistas dos EUA. Mostra toda a intolerancia e violencia causada pelo racismo.
Os versos abaixo expressam o horror:
Strange fruit — Abel Meeropol, 1937
Southern trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black body swinging in the Southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.
Pastoral scene of the gallant South,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolia sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh!
Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.
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Tradução: Estranho Fruto
As árvores do Sul estão carregadas com um estranho fruto,
Sangue nas folhas e sangue na raiz,
Um corpo negro balançando na brisa sulista
Um estranho fruto pendurado nos álamos.
Uma cena pastoral no galante Sul,
Os olhos esbugalhados e a boca torcida,
Perfume de magnólia doce e fresca,
Então o repentino cheiro de carne queimada!
Aqui está o fruto para os corvos arrancarem,
Para a chuva recolher, para o vento sugar,
Para o sol apodrecer, para as árvores fazer cair,
Aqui está uma estranha e amarga colheita.
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O poema foi musicado e cantado por inumeras vozes, porém, a performance mais visceral foi a de Billy Holliday, que a interpretou pela primeira vez em 1939.
Voltando a nossa tela Primaveira, ela é carregada de lindos e doces frutos, de folhas tenras e um perfume que se consegue sentir, de um olhar para o futuro de muita esperança. Aqui tem pássaros que trazem boas novas e asas que conduzem ao Divino.
Conversando com a artista, fiquei instigado a conhecer a tela “Verão” e aguardar as outras que estão por vir.