A vida invisível — Karim Aïnouz

Por Giuliana Prandini Orlando

Giuliana Orlando
Araetá
4 min readMay 15, 2020

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Baseado no romance de Martha Batalha, A vida invisível de Eurídice Gusmão, o filme realizado pelo diretor cearense Karim Aïnouz foi escolhido como representante brasileiro para tentar uma vaga no Oscar 2020 e trata da vida de duas irmãs interpretadas por Julia Stockler (Guida) e Carol Duarte (Eurídice) nos anos 50.

As personagens Guida (a esquerda) e Eurídice Gusmão (a direita)

Ambientado no Rio de Janeiro, o filme trata de assuntos de extrema relevância, sobretudo a violência contra a mulher. As irmãs são filhas de um casal de portugueses conservadores e possuem sonhos distintos: Eurídice (18) toca piano e tem planos de entrar no conservatório de Viena; Guida (20) possui um coração livre e anseia por viver uma vida plena, com romances e aventuras. O cenário muda quando Guida foge com um homem que havia acabado de conhecer, deixando Eurídice para traz, fazendo com que ambas tomem caminhos distintos. A separação das irmãs é estruturada através de cartas escritas por Guida para sua irmã e ambas acabam vivendo de maneira invisível em um mundo onde as mulheres não tinham liberdade para realizar suas próprias vontades e as que o faziam, pagavam um preço alto.

A obra também conta com atores conhecidos, como o comediante Gregório Duvivier que vive o personagem Antenor, marido de Eurídice, fazendo o papel do clássico marido controlador e a renomada atriz Fernanda Montenegro que, interpretando Eurídice nos dias de hoje, traz ao filme um encanto incomparável.

Cartaz oficial do filme “A Vida Invisível”

Murilo Hauser assina o roteiro com Inés Bortagaray e colaboração do diretor. É de se estranhar que um filme que requer tanta sensibilidade feminina seja majoritariamente roteirizado e dirigido por homens, mas a equipe contou com ampla e imprescindível participação de mulheres em diferentes áreas, como na assistência de direção, direção de fotografia, direção de produção, direção de som, produção executiva, operação de câmera, além de outras assistências. Desta forma, Karim Aïnouz faz jus a responsabilidade de adaptar o livro lançado em 2016 de Martha Batalha e cria uma atmosfera cinematográfica, tanto no roteiro quanto na imagem, que escancara o machismo cravado na sociedade. Tendo sido criado apenas por mulheres, Karim relata o quanto o seu passado o influenciou no processo de contar a história de Eurídice e Guida.

Eu não sei, nesse filme tem muita coisa que fala sobre minha vida, da minha mãe e da minha vó. Ao mesmo que eram muito fortes e bem humoradas, havia também um sentimento muito duro. Nunca teve cama de casal em minha casa, era só cama de solteiro. Não tinha porvir de alguém ter um companheiro. E isso voltava quando eu fazia esse filme. — Karim Aïnouz em entrevista para UOL, novembro de 2019

Com cores vivas e uma arte que se destaca através dos figurinos, penteados e alguns elementos que lembram uma atmosfera vintage, “A vida Invisível” consegue transportar o espectador para a metade do século XX, sem gastos mirabolantes para uma reconstituição de época e realiza de forma majestosa um retrato da mulher daquele período.

Hélène Louvart (diretora de fotografia) com suas assistentes de câmera Renata Reis e a Mariana Tozatto (Foto: Nina Kopko)

Durante o processo de filmagem, a assistente de direção Nina Kopko fez registros em sua câmera analógica. Em entrevista para o site Mulher no Cinema, Nina conta: “Gosto muito de fotografar com a câmera analógica e sempre que lembro, ando com ela por aí. Acho que ela me ajuda a ver de forma diferente as cenas, sejam elas ficcionais ou reais.”

Vale ressaltar que a direção de fotografia é feita por Hélène Louvart (retratada na foto a cima), fotógrafa francesa que também trabalhou nos filmes: As Praias de Agnès, Pina, entre outros.

Carol Duarte e Gregório Duvivier no ensaio em locação (Foto: Nina Kopko)

Essa outra foto de Nina Kopko foi tirada no ensaio da cena da noite de núpcias de Eurídice e Antenor. “A impressionante e dolorida cena da noite de núpcias teve uma preparação especialmente cuidadosa. Esse registro é do ensaio em locação, onde experimentamos várias ações e versões, até chegar no resultado filmado.”, relata Nina.

O filme ganhou o prêmio Un Certain Regard (Um Certo Olhar), do Festival de Cannes em 2019 e foi o escolhido para representar o Brasil no Oscar, mas infelizmente não teve sucesso.

Onde assistir e quanto custa?

Youtube: (HD) aluguel: R$14,90; compra: R$44,90

Google Play: aluguel: R$11,90; compra: R$29,90

Quando assistir: Em qualquer momento. É improvável que o filme saia dessas plataformas.

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