Alguém Especial

Giovanna Minozzo
Araetá
Published in
7 min readMay 23, 2019
Poster promocional da série.

O filme original da Netflix lançado dia 19 de abril de 2019 foi escrito e dirigido por Jennifer Kaytin Robinson e produzido por Paul Feig, Jessie Henderson, Anthony Bregman, Peter Cron e Gina Rodriguez, que é também a protagonista do longa.

Erin, Jenny e Blair andando por Nova York (da esquerda para direita).

A história se inicia quando Jenny (Gina Rodriguez), consegue seu emprego dos sonhos na revista de música americana “Rolling Stones” em São Francisco. A partir de então, terá que deixar sua vida em Nova York para trás, e isso implica no término de seu relacionamento de nove anos com seu namorado da faculdade, Nate (Lakeith Stanfield). Desestabilizada, a jovem produtora musical recorre para suas duas melhores amigas, Blair (Brittany Snow) e Erin (DeWanda Wise), com o objetivo de aproveitar sua última noite juntas em um festival de música chamado Neon Colors. Durante o dia, as três rodam Nova York, atrás de ingressos, drogas e roupas para o festival, e, além de se divertirem muito, as amigas acabam descobrindo muito mais sobre si mesmas.

Jenny, Erin e Blair.

Blair, a mais certinha do grupo, estava em um relacionamento sério com um homem que não amava. Estava acomodada, apreensiva em cumprir seu plano de se casar aos trinta anos. Na busca por ingressos para o Neon Colors, Blair encontra Matt (Peter Vack), o homem que Jenny namorava na faculdade antes de conhecer Nate. Ainda comprometida, Blair tem relações sexuais com Matt. Quando chega em seu apartamento e se depara com seu namorado Will (Alex Moffat) fazendo uma faxina, os dois decidem terminar o relacionamento. Se sentindo livre, Blair consegue fugir da situação em que se encontrava.

Diferente de suas amigas, Erin não namorava a anos. Com medo de comprometimento, a jovem sempre teve uns casos ali e aqui, mas não se entregava para outra pessoa desde que seu coração fora partido por uma menina na faculdade, que tirou sua confiança ao terminar o relacionamento por causa de um homem. No filme, é possível perceber que Erin é a mais irresponsável das três, não levando muito a sério seu trabalho e seu futuro. Ao longo do dia, suas amigas a fazem perceber que está na hora de crescer, e o primeiro passo para que isso ocorra é assumir o que sente por Leah (Rebecca Naomi Jones), a mulher com quem vem se relacionando nos últimos quatro meses. Erin consegue fugir desse estado de inércia em que se encontrava, e começa um caminho para a evolução pessoal.

Nate e Jenny.

Já para Jenny, a descoberta foi ainda maior. Cenas de flashback mostram como começou seu namoro com Nate, e também como eram perfeitos um para o outro. É difícil não se envolver com a história dos dois, que mesmo em cenas cotidianas, pareciam completar o outro. Porém, após nove anos juntos, seus caminhos começaram a ir para lados diferentes. Ela prosperando em sua carreira como produtora musical, e ele como organizador comunitário. Após momentos de discórdia, o ponto final da relação ocorre devido a sua mudança para São Francisco. Logo após o término, Jenny se vê cercada de coisas, lugares e pessoas que a lembram de Nate, e decide se distrair e não pensar nisso. Na tentativa de afastar os pensamentos e as memórias que a estavam machucando, a jovem produtora procura conforto na bebida, na música, nas drogas e em suas amigas. Mas, ao encontrar com seu ex-namorado no festival de música, se dá conta que estava querendo passar uma imagem de força e superação, quando na verdade estava muito magoada. Na volta para casa, escreve uma carta. Inicialmente, o espectador entende como se ela tivesse escrevendo para Nate, mas ao fim, é possível perceber que aquelas palavras estavam sendo escritas para que ela mesma entendesse e aceitasse o fim do relacionamento.

Como diz na carta, eles cresceram juntos, e nesse meio tempo, acabaram se distanciando. Escreve que até poderia pedir mais um beijo, um abraço, um almoço… mas que isso não é possível. Diz que o futuro é grande para ele, para ela, mas não para os dois juntos. Termina a carta dizendo que sempre se lembrará do quão mágico e bonito foi o relacionamento deles, porque eram eles, e eles eram mágica.

Erin, Blair e Jenny no festival Neon Lights.

O filme retrata muitos assuntos importantes, entre eles a importância da amizade entre mulheres. Mesmo com suas diferenças, Jenny, Erin e Blair fazem de tudo uma pela outra, e quando o coração de uma delas é partido, muita parceria e empatia pode ser percebida nas falas e ações das personagens. Além disso, as três passam por situações semelhantes, nas quais estão fugindo de algo em seus relacionamentos amorosos. Blair foge de um relacionamento monótono e sem amor; Erin foge de seu medo de compromisso; e Jenny foge da ideia que não é capaz de ser feliz sozinha.

Saber a importância do fim também é perfeitamente ilustrado. Nada na vida é eterno. As coisas mudam, acabam e se transformam. Entender e aceitar o fim de um ciclo é uma característica excepcional. Compreender também que não é porque uma coisa terminou, que deixará de existir. A memória sempre prevalecerá, e no filme, Jenny decide se lembrar de seu relacionamento com alegria e amor.

Outro assunto relevante tratado no filme é o de empoderamento feminino. É muito comum em comédias românticas o sofrimento da mulher por um homem, e a noção de que a felicidade só será atingida quando este homem, ou algum outro muito melhor, estiver na sua vida. Em “Alguém Especial”, a personagem principal se dá conta que esse alguém especial não é um homem e nenhuma outra pessoa, que aparecerá e fará ela feliz, que a tirará daquela situação, e sim ela mesma. Sua felicidade não é responsabilidade de ninguém, e sim de si própria. É essa Jenny que a protagonista procura encontrar durante todo o filme. Ao se ver sozinha, ela precisou ser forte, e assim percebeu que não precisava de um namorado para ser feliz.

O final do filme é inovador para comédias românticas. É refrescante para os olhos do espectador. Traz uma noção de independência, de superação, de amor próprio. Jenny não conhece nenhum homem, não começa ou retoma nenhum relacionamento. A protagonista termina o filme sozinha e feliz — aliás, sozinha não, muito bem acompanhada de suas melhores amigas.

As atrizes principais com a diretora e roteirista do filme Jennifer Kaytin Robinson.

Ao meu ver, o longa é uma boa produção audiovisual, com uma história linear e uma mensagem muito pertinente para os dias atuais. Muitas mulheres ainda anulam a si mesmas quando a o assunto é sua própria felicidade. Muitas histórias irreais retratadas em comédias românticas auxiliam nessa concepção equivocada de que é preciso ter uma pessoa ao seu lado para ser feliz. “Alguém Especial” não é uma delas. Recomendo a todos que já passaram por términos, ou ainda passarão. A vida é muito curta para depender de outra pessoa para ser feliz.

Do you think we can have one more kiss? I’ll find closure on your lips and then I’ll go. Maybe also one more breakfast, one more lunch, and one more dinner. I’ll be full, and happy, and we can part. But in between meals, maybe we can lie in bed one more time, one more prolonged moment, where time suspends indefinitely as I rest my head on your chest. My hope, is if we add up the “one mores”, it will equal a lifetime, and ill never get to the part where I let you go. But that’s not real, is it? There are no more “one mores”. I met you when everything was new and exciting, and the possibilities of the world seemed endless. And they still are. For you, for me. But not for us. Somewhere between then and now, here and there, I guess we didn’t just grow apart, we grew up. When something breaks, if the pieces are large enough, you can fix it. Unfortunately, sometimes, things don’t break, they shatter. But when you let the light in, shattered glass will glitter. And in those moments, when the pieces of what we were catch the sun, I’ll remember just how beautiful it was, just how beautiful it will always be. Because it was us. And we were magic. Forever.

Acha que pode me dar mais um beijo? Encontrarei um fim nos seus lábios e irei embora. Talvez também mais um café, mais um almoço, mais um jantar. Ficarei cheia e feliz, e podemos ir embora. Mas, entre refeições, talvez possamos nos deitar mais uma vez. Mais um momento prolongado em que o tempo é indefinidamente suspenso e eu descanso a cabeça em seu peito. Minha esperança é a de que esses “mais uns” cheguem a uma vida, e eu nunca chegue à parte em que te deixo partir. Mas não é real, é? Não existem “mais uns”. Eu te conheci quanto tudo era novo e emocionante, e as possibilidades do mundo pareciam infinitas. E ainda são, para mim e para você. Mas não para nós. Em algum lugar entre aquela época e agora, não acho que nos distanciamos, mas crescemos. Quando algo se quebra, se os pedaços forem grandes o bastante, dá para consertar. Infelizmente, às vezes as coisas não se quebram, se estilhaçam. Mas, quando deixamos a luz entrar, o vidro estilhaçado brilha. E nesses momentos, quando o sol bater nos cacos do que fomos, só vou me lembrar do quanto foi lindo. Do quanto sempre será lindo. Porque fomos nós. E nós fomos mágicos. Para sempre.

Carta escrita por Jenny.

Trailer oficial “Alguém Especial”

Onde: Netflix

Quanto: Mensalidade Netflix R$ 21,90

Quando: 19 de abril de 2019

Até quando: Indeterminado

this is me

--

--