‘All Too Well: The Short Film’, uma experiência audiovisual na reanálise das vivências íntimas

‘É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.’

Marco Bueno
Araetá
5 min readNov 16, 2021

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É com a famosa fala do poeta chileno Pablo Neruda, que Taylor Swift, cantora norte-americana de 31 anos, inicia o clipe curta-metragem dirigido, roteirizado e estrelado pela própria, All Too Well: The Short Film.

Pôster de All Too Well: The Short Film (2021), dir. Taylot Swift. À esquerda Dylan O’Brien e à direita, Sadie Sink.
Pôster de All Too Well: The Short Film (2021), dir. Taylor Swift. À esquerda Dylan O’Brien e à direita, Sadie Sink.

Em 12 de novembro, Taylor Swift relançou seu álbum Red (Deluxe Edition), dez anos após sua estreia original, acompanhado de músicas inéditas com artistas como Ed Sheeran e Phoebe Bridgers.

Os motivos do relançamento são muitos, mas o maior deles tem origem em um conflito que a artista teve com sua ex-gravadora, Big Machine Records, quando ela tinha apenas 22 anos.

Ingênua e possivelmente mal amparada por sua equipe, Taylor Swift vendeu os direitos dos “masters” de seus álbuns até então feitos — também conhecido como fonogramas — os “masters” são as gravações de músicas, performadas e exibidas em CDs, shows, filmes, entre outros. Ou seja, as versões gravadas de seis de álbuns pertenciam à gravadora de Taylor, e não à própria autora das músicas. Seguido de anos lutando na justiça, Taylor Swift não pôde recuperar os direitos dos fonogramas de seus álbuns, mas finalmente, em 2019, a cantora encontrou uma maneira de driblar a injustiça praticada contra ela. Taylor Swift, mesmo não portando os direitos das antigas versões gravadas de suas músicas, porta os direitos das letras e das composições musicais de suas obras. Sendo assim, a artista, agora aliada a uma nova gravadora, decidiu regravar as suas canções mais famosas em seu novo álbum, onde todas as “tracks” são acompanhadas de (Taylor’s Version), em português, (Versão da Taylor), e encoraja seus fãs a não escutarem mais as antigas versões de suas músicas, apenas as versões que pertencem a artista e compõem seu álbum mais recente.

Agora, mais madura e presenteando seus fãs, Red (Taylor’s Version) conta inclusive com uma versão estendida de 10 minutos e 11 segundos de uma de suas canções mais famosas e que mais marcou sua carreira, “All Too Well”— nome que inspirou o curta-metragem. Esse texto se propõe a realizar uma análise crítica do filme, compreendendo as narrativas retratadas na canção e as funções dramáticas do videoclipe.

Em um primeiro plano, é de suma importância compreender o estilo musical que Taylor Swift comporta e o público com o qual a artista dialoga. Suas canções sempre portaram um cunho juvenil, excessivamente romântico e de simples compreensão. A evolução da complexidade narrativa da artista fica evidente ao compararmos seus álbuns mais recentes, como folklore, com seus álbuns mais antigos.

Devido a uma vida pública desde sua adolescência, é de conhecimento geral que All Too Well narra a relação da cantora Taylor Swift com o ator Jake Gyllenhaal, relacionamento o qual ocorreu entre os anos de 2010 e 2011. Na época, Taylor tinha 20 anos e Jake, 30. Por meio da música e de falas do ator norte-americano em entrevistas, compreende-se que o motivo do término do namoro foi devido a diferença de idade entre ambos.

No curta-metragem, temos os atores Sadie Sink (19) e Dylan O’Brien (30) como protagonistas — ambos apresentam a mesma diferença de idade que Taylor Swift tinha com Jake Gyllenhaal quando se conheceram. O filme, gravado no formato de 35mm, apresenta um visual “vintage”, com tons avermelhados e terrosos, assim como o álbum Red. O curta dialoga diretamente com as letras da canção que o acompanha, de forma a traçar uma narrativa excessivamente autoexplicativa — fato evidenciado no verso Eu deixei meu cachecol lá na casa de sua irmã, enquanto acompanhamos a personagem de Sadie entrando em uma casa e deixando um cachecol vermelho em um corrimão de madeira. Por vezes, o videoclipe peca nesse quesito, tornando-se previsível e não explorando a obra audiovisual como uma possibilidade de nova linguagem para a música. Todavia, os atores não deixam a desejar, fazendo com que mesmo aqueles que não apreciam o trabalho de Taylor Swift comovam-se com a troca e a intimidade entre os dois. A decupagem de Taylor Swift, que aqui também se propõe como diretora, auxilia em retratar o relacionamento em crise do casal, pois os planos que, a priori, eram rodados de forma muito íntima e próxima, passam a se distanciar das personagens, ficando cada vez mais abertos e, por assim dizer, frios.

Em meio ao clipe musical, é-nos apresentada uma cena, — ao que parece ser improvisada — a única sem trilha sonora, onde o casal conflita. A personagem de Sadie Sink demonstra-se magoada pelo comportamento do parceiro em frente aos amigos do próprio, tratando-a como uma desconhecida e, segunda ela, soltando a mão dela em frente a todos, fato negado pelo rapaz. Esse episódio é intitulado no filme como The First Crack In The Glass, em português, “A Primeira Rachadura no Vidro”, evento ao qual nos leva ao “Momento de Ruptura”, The Breaking Point, onde o casal termina seu relacionamento em meio a gritos.

A partir desse momento, acompanhamos o “recuperar” da jovem garota, e sua tentativa de esquecer-se do antigo parceiro. Entretanto, isso se torna impossível pois, assim como a cantora narra na canção, ela lembra-se de tudo muito bem. Numa compilação de momentos de intimidade entre o casal, nos é apresentado o conflito que ambas as personagens passam no futuro, uma tentativa de se esquecerem e de negarem tudo aquilo que viveram, desde os bons aos maus momentos.

Em Treze Anos Depois, a personagem de Sadie Sink passa a ser interpretada por Taylor Swift, que se encontra em uma palestra lendo sua obra literária All Too Well. Vista pela janela, do lado de fora do estabelecimento, o personagem de Dylan O’Brien, usando o cachecol deixado por ela na casa de sua irmã, observa a antiga parceira narrar o amor que vivenciaram. É delicado como Taylor Swift consegue, ao estender uma canção que tinha cinco minutos para uma de dez, compreender que não apenas ela se lembra de tudo muito bem, mas ele também se lembra, pois, assim como ela, ele estava lá.

Por meio do videoclipe, Taylor Swift parece fazer as pazes com esse eu do passado e se demonstrar mais madura a respeito das vivências experienciadas pela artista. A intimidade e ingenuidade são os elementos que tornam o trabalho da cantora norte-americana único.

SERVIÇO

All Too Well – The Short Film está disponível no canal de Taylor Swift no YouTube. O curta-metragem está disponível gratuitamente na plataforma.

Marco Ferreira Bueno Fregolão (20). Estudante de Cinema na FAAP

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