AMERICAN CRIME STORY: O Assassinato de Gianni Versace
Por Lucas Lobo Nogueira
American Crime Story é uma série antológica sobre crimes reais, desenvolvida por Scott Alexander e Larry Karaszewski, com a mão do prolífico Ryan Murphy (Glee, Nip/Tuck, American Horror Story). Assim, cada temporada comporta-se como uma minissérie, abordando um novo acontecimento criminal na história dos Estados Unidos. A Primeira temporada, executada de maneira primorosa, tratou do julgamento de O.J. Simpson pelo assassinato de sua ex-esposa, Nicole Brown, enquanto a segunda, após um longo hiato, retrata o Assassinato de Gianni Versace por Andrew Cunanan, baseada no livro Vulgar Favors de Maureen Orth, alcançando um resultado bem aquém do esperado.
O cerne do problema da temporada é sua estrutura confusa, na qual suas três histórias — O Assassinato do Estilista, O Passado de Versace e o Passado e crimes de Andrew Cunanan — misturam-se nos nove episódios de maneira cronologicamente reversa, caótica e não elegante, fazendo com que os expectadores fiquem ocupados demais tentando desembaraçar as tramas e construir uma linha do tempo interna para perceber a amargura em suas bocas após o final da temporada. Tal estrutura é equívoca e sem propósito algum na trama, a não ser estilística, que prejudica a história de maneira tamanha que impede a identificação do público com as personagens.
Há um grande problema com os personagens também: Gianni Versace (Édgar Ramirez, em uma boa atuação) aparece mais como uma nota de rodapé na história, embora seja o principal nome no marketing enganoso da série. Para cada um minuto de Versace em tela, temos uma enorme quantidade de tempo com Andrew Cunanan de Andrew Criss, atuando espetacularmente bem com a personagem, embora esta seja prejudicada pelo roteiro da série. Andrew Cunanan é provavelmente um dos personagens mais irritantes da história da televisão americana, não há como o público sequer compreender ou gostar dele no início da história pela estrutura reversa da trama, mostrando ele como um assassino mentiroso, manipulador e mesquinho pela maioria da trama para só então no final adentrar no passado dele antes de sua série de matanças, onde ele é muito mais identificável e simpático, mas nesse momento não sobra um pingo de empatia ou mesmo aptidão do público para se importar com a personagem ou a trama.
Outro equívoco da temporada é sua insistência em dizer que a série de assassinatos de Andrew Cunanan foi causada pela homofobia impregnada na sociedade americana dos anos 90, e em como isto moldou o assassino, chegando a mostrar, em seu último episódio um ex-colega de Andrew dizendo que os assassinatos seriam ‘’a maneira de Andrew mostrar sua dor ao mundo’’. Ainda que o esforço da série de evidenciar todos os aspectos homofóbicos da sociedade da época, e que ainda existem hoje, seja válido e importante, não podemos atribuir a culpa dos assassinatos a ela quando a série mostra Andrew desde sua adolescência como um gay assumido e privilegiado. Na verdade, o que podemos apontar como culpados, na maneira em que os assassinatos são retratados na série são a raiva, ressentimento e a amargura quase que millenial dos outros não perceberem o quão especial ele era, mesmo que ele não fizesse absolutamente nada com sua vida a não ser depender de velhos homossexuais ricos que o bancassem. Falhas de caráter estas que o fazem descontar em pessoas que conseguiram o que ele sempre quis, mas nunca fez por ter: matou Jeff Trail e David Madsen por encontrarem amor; matou Lee Miglin por ser um homossexual bem sucedido, ainda que não assumido; matou o caminhoneiro William Reese apenas para roubar seu caminhão e enfim matou Gianne Versace por ser tudo que Andrew gostaria de ser, mas não é: especial.
A Segunda temporada de American Crime Story prova-se portanto uma série de equívocos, manchando sua primorosa primeira temporada, recheada de personagens humanos, ótimas atuações e uma trama política, pontual e profunda. De fato, podemos dizer que a primeira é Gianne Versace, especial; e a segunda, Andrew Cunanan, alguém que culpa e resente quem não tem respobilidade alguma, só trazendo destruição ao seu meio, devendo ser esquecido.
Onde: Canal FX
Quanto: 59,90 por seis meses na operadora NET de TV a cabo
Quando: Quinta-Feira às 23hrs
Até quando: O último episódio será exibido dia 29/11
Links relacionados: Trailer para a segunda temporada: https://www.youtube.com/watch?v=FcRRgYdlr0I