ARKANGEL, Black Mirror.

Por Júlia Prado Ruel

Júlia Prado
Araetá
5 min readMay 10, 2018

--

Black Mirror é uma série britânica antológica de ficção científica criada por Charlie Brooker, que retrata, de forma geral, temas que examinam a sociedade moderna de modo obscuro e satírico, mais especificamente, a respeito de consequências inimagináveis das novas tecnologias. Cada episódio funciona de forma independente em relação aos demais, retratando um futuro próximo, ou até mesmo, um presente alternativo. Cada episódio tem um elenco, um cenário e até uma realidade diferente, contudo, todos tratam da forma com que vivemos e da forma que podemos viver num futuro próximo.

(Cartaz da série Black Mirror)

A série teve sua primeira transmissão, pela emissora Channel4, no Reino Unido, em dezembro de 2011. Contudo, a Netflix (provedora global de filmes e séries de televisão via streaming, atualmente com mais de 100 milhões de assinantes), em setembro de 2015, comprou a série, encomendando uma nova temporada (a terceira temporada) composta por 12 episódios. Porém, esses 12 episódios encomendados acabaram sendo divididos em duas temporadas de 6 episódios cada. A quarta temporada foi lançada na Netflix no dia 29 de dezembro de 2017. E dia 5 de março de 2018, houve a confirmação, da Netflix, de uma quinta temporada da série, porém, ainda sem data estimada de estreia. A quarta temporada de Black Mirror, segue a tendência já vista na temporada anterior, de episódios mais “leves”, mas sem perder a essência da série.

(Símbolo do programa Arkangel)

Meu objetivo aqui é focar em um episódio específico da série: o episódio 2 da 4° temporada, “Arkangel”. O nome do episódio se da através de uma empresa que cria uma nova tecnologia de implante.

(Sara colocando o chip de monitoramento)

A tecnologia que dá sentido à trama é um implante feito na cabeça de crianças que, através de um tablet, permite aos pais não só monitorarem a saúde dos filhos (de batimentos cardíacos até alertas sobre ingestão de drogas) como também os permite ver com os olhos dos jovens e decidir, através de imagens pixeladas e áudio modificado, o que eles podem ou não ver e ouvir. Mais especificamente, o episódio trata de uma mãe solteira, Marie, e de sua filha Sara , que após se perder em um parquinho, durante a infância, ela vê como sua única esperança utilizar o chip de monitoramento (Arkangel) para garantir a segurança da filha. Com o tempo, Marie vê que Sara está crescendo e não será mais preciso acompanhar ou monitorar a menina por um tablet, assim, desliga o aparelho, permitindo que Sara cresça sem o uso do implante.

Em sua adolescência, Sara começa a amadurecer e a se comportar de forma mais rebelde, assim, Marie fica tentada a usar, novamente, o programa Arkangel. A mãe não se contém e acaba voltando a usar o tablet de monitoramento, vigiando sua filha novamente, porém, desta vez, em segredo.

(Tablet Arkangel)

O aparelho é eficaz, contudo passa a alimentar uma obsessão em Marie, tornando a vida de sua filha em um pesadelo. No final da historia, Sara descobre o que sua mãe tem feito e acaba por quebrar o Tablet na cara de sua mãe. Mostrando uma consequência desta obsessão de uma mãe de garantir a segurança de sua filha, censurando conteúdos julgados impróprios para crianças (na infância de Sara), vigiando momentos íntimos (durante sua adolescência), etc.

A diretora Jodie Foster coloca em pauta não só uma inovação tecnológica, como também, a ideia de um relacionamento familiar conturbado e problemático, mais especificamente, de um amor materno sufocante e controlador. Assim, retrata uma situação em que essa super proteção dos pais, veio a gerar fortes conflitos, em vez de evitá-los. Algo que na mentalidade da mãe viria a ajudar fez exatamente o oposto. A direção de Jodie Foster e o foco no relacionamento conturbado entre Marie e Sara, conseguem fazer com que o espectador se importe com as personagens.

(Cena em que Sara não sabe mais lidar com a censura programada por sua mãe através do Arkangel)

A criadora do episódio, Gilbert, afirmou que a questão do impacto moral de uma mãe ou um pai sob os filhos é importante sem sombra de dúvidas, mas que seja estabelecida de uma maneira saudável e natural para ambos os lados, onde os filhos possam amadurecer e criar suas próprias asas, ao contrário do que o episódio retrata, em que uma obsessão, super proteção, passou a tomar conta do ambiente familiar, gerando graves desentendimentos. Essa superproteção parental começa a entrar em conflito com questões éticas, com a mãe podendo evitar com que sua filha experimente qualquer coisa negativa (como qualquer forma de violência, por exemplo).

A superproteção paternal é um tema delicado, contudo, acredito que a série acertou em abordar esse tema. Abordar temas delicados por meio de situações extremas ou mais complexas que o habitual ou do que normalmente vivenciamos, é uma forma de retratar novos limites não pensados até então (não em termos gerais).

(Tablet mostrando a visão de Sara)

O episódio é bom, indico assistir, principalmente para o publico que gosta de drama e suspense. Acho interessante conferir, não só esse episódio como também, a série toda. A indicação é para 16 anos, pois contém cenas fortes.

Acho este, um episódio que muitos (se não todos os) pais deveriam assistir, para refletirem mais sobre o nível de controle que estes impõe sobre seus filhos e, principalmente, refletir sobre sua relação com eles.

(Pôster promocional do lançado como parte do “13 Days of Black Mirror”)

Onde: Netflix (por tempo indeterminado)

Quanto: assinaturas mensais a partir de R$ 19,90

Trailer do episódio:

SELFIE!!

--

--