As bicicletas de Belleville: A exaltação da simplicidade
As Bicicletas de BelleVille (Les triplettes de Belleville), é uma animação francesa/canadense, estreada em 2003. No longa, dirigido por Sylvain Chomet, Madame Souza e seu pequeno neto moram juntos. Na tentativa de alegrar o menino, a avó tenta despertar seu interesse por piano, lhe dá um filhote de cachorro, mas nada dá resultado. Até que, ela descobre uma paixão do garoto por bicicletas, trazendo uma animação gigantesca ao lhe dar seu primeiro triciclo. Baseado nisso, a avó passa a treinar seu neto arduamente, para que ele consagre seu sonho de vencer a Tour de France, onde, justamente, será sequestrado por uma gangue de mafiosos, dando origem a jornada de Souza, acompanhada do cachorro e um grupo decadente de cantoras, para o seu resgate.
Entrar no mundo de Belleville significa retornar ao mundo dos cartoons e gags antigos. Há um forte uso dessa ferramenta, principalmente na resolução de problemas, assim como na criação de novos conflitos, sem falar na estética. A já há muito tempo conhecida forma de humor é muito utilizada, de forma pensada, a dar corda e um bom fluxo para a história. Assim como a aparência dada ao filme, que com um tom “cartoonesco”, acolhe toda a brincadeira com os personagens, assim como as situações absurdas propostas. No entanto, o retrato criado na tela, traz algo a mais, de certa forma acolhedora. Talvez por seus tons pasteis bem contrastados, ou por trazer uma certa impressão de quadro pintado.
A história da pequena senhora que se aventura em Belleville é, a princípio, bem simples. Uma trajetória de fatos que seguem uma jornada do herói clássica. No entanto, a composição do todo traz uma experiência diferenciada, brincando com costumes e padrões da sociedade. Longe do “realista”, os traços simples, mas bem definidos, trazem a tela uma caricatura da realidade. Os seguranças, por exemplo, são representados como grandes retângulos em seus ternos, lembrando muito armários sinistros. Já o mafioso em si, um sujeito pequeno, pouco ameaçador. Ou ainda olhando para os ciclistas que se apresentam extremamente magros, exceto por suas pernas, exageradamente grossas e fortes, por conta do exercício. Os trejeitos e movimentos dos personagens são, igualmente, caricatos. Desde o garçom do bar, com seus movimentos amplos e exageradamente coordenados para servir uma taça de vinho, até a própria Souza, sempre com firmeza.
Os personagens pouco, ou nada falam ao longo do enredo, criando uma comunicação entre si e o público quase inteiramente visual. É perceptível um desenvolvimento profundo das expressões de cada criatura presente na tela, inclusive o cachorro, uma vez que as intenções ficam extremamente claras sem que uma palavra seja dita. A sonoridade do filme tem sua maior composição por murmúrios, grunhidos, ruídos do ambiente e uma trilha sonora cativante, que, sem dúvida, trazem uma personalidade ao filme, somando a sua estética. Poucas palavras são necessárias para complementar um visual tão completo por si só, e é justamente essa impressão que se tem. Por mais que muito acostumados a diálogos completos que sustentam as imagens, temos imagens que falam por si.
As Bicicletas De Belleville é uma animação, sem dúvidas, intrigante. Por mais que se preste atenção, há sempre algo a ser notado a mais, ou uma segunda interpretação a ser feita. Assim como, é também um ótimo elemento a ser apenas apreciado em um momento de descanso. Desde suas sátiras, aos seus belíssimos cenários e músicas, As Bicicletas de Belleville é um grande filme.
QUER SABER MAIS?
ONDE? O filme está disponível no youtube.
]
