‘BAILE’

Em show, FBC & VHOOR transportam o público de volta para os anos 90

Clara Cruz

Published in

Araetá

4 min readMay 16, 2022

Por Clara Ferreira Cruz

Depois de um longo período sem celebrar a música, os shows voltaram finalmente a acontecer em São Paulo. Aproveitando o lançamento de seu novo álbum, “BAILE”, o MC mineiro FBC, acompanhado do beatmaker VHOOR, lotou a Casa Natura Musical em uma sexta-feira. BAILE é um dos raros trabalhos executados em conjunto por ambos os artistas, que fundem de maneira única ritmos e rimas.

FBC é um artista da cena belorizontina do hip-hop. Presença comum nas batalhas de rima locais, tem em seu currículo trabalhos com artistas consagrados, como Djonga e Clara Lima. VHOOR, considerado um dos maiores produtores atuais do gênero, tem reconhecimento internacional, com algumas de suas músicas na programação de rádios dedicadas ao rap. BAILE, a obra, mistura ritmos e elementos de diferentes gêneros musicais a letras afiadas sobre a profundidade dos problemas sociais do Brasil.

FBC e VHOOR, nascidos Fabrício e Victor, se conheceram e começaram sua parceria com o EP “Outro Rolê” e, após tamanho sucesso, abraçaram o desafio de se aventurarem em outro trabalho. Surgiu então, em 2021, despretensiosamente, o álbum BAILE, que possui 10 faixas. Eles não contavam com o triunfo de hits como “Se Tá Solteira”, que chegou a mais de 14 milhões de reproduções no Spotify. Atualmente em turnê nacional, o show na Casa Natura Musical foi um dos mais esperados do semestre, segundo o imenso engajamento dos fãs nas redes sociais.

O evento despertou grande euforia no público, que cantou junto com o artistas todas as letras de todas as canções apresentadas. O ambiente era ideal: uma casa de shows fechada, mas muito ampla, com acústica apropriada e espaço para todos dançarem. Tudo muito descontraído, com bastante respiro e sem empurra-empurra. Além do palco ser mais baixo, possibilitando maior interação do artista com o público.

VHOOR já é conhecido por mesclar em seu trabalho elementos da música eletrônica, do funk e da percussão afro-latina, o que traz muito mais autenticidade e potência para as músicas. No álbum há uma mistura de diversos elementos musicais do passado e influências que permeiam a vida dos artistas, mas com o vigor dos dias de hoje. As músicas remetem, principalmente, à sonoridade do Miami Bass e do funk carioca dos anos 90, além de incluir batidas dos funks em alta e trazer nas letras problemáticas e discussões remodeladas. Durante o show o público é transportado para o ambiente dos bailes, em uma catarse coletiva, alegre e tropical, turbinada pelas batidas da música e pela performance de FBC.

As músicas se desenvolvem e ao longo do álbum se revela uma história, as letras dão formato à trajetória de três personagens: Pagode, Jéssica e Paulinho. Pagode, o principal, morador da favela e pai de família, é surpreendido ao sair de um baile e é preso pela polícia injustamente. É característica das letras de FBC, retratar o cotidiano das pessoas que vivem nas favelas, e trazer criticas à questões como o crime e a violência policial. Além disso, outras faixas enaltecem a dança e o amor. Durante o show é muito interessante poder visualizar esta narrativa, as músicas se revezam entre ritmos mais pesados e intensos, com outras mais dançantes e alegres.

“É um álbum que eu fiz da forma mais divertida e despretensiosa possível. Eu quis fazer uma parada que lembrasse mesmo os bailes que eu colava quando era mais novo. Eu fiz para a galera dançar e tocar na balada! Eu acho que a dança também cumpre esse papel social de unir a galera da periferia, da favela”, afirma FBC em entrevista.