Batman (2022)
E sua construção fantasiosa
Por: Marco Faria Teixeira
Este ano recebemos mais uma adaptação do homem morcego, dirigida por Matt Reeves e protagonizada por Robert Pattinson, super-herói este que teve sua estreia nos quadrinhos a mais de oitenta anos atrás e, desde então, tivemos mais de dez filmes solo do personagem, sem contar animações, séries, jogos e participações do mesmo em outros filmes. Então fica a pergunta, vale a pena assistir a uma obra que trás um personagem tão batido e que já a tempos possui uma imagem forte e bem definida presente em nosso imaginário popular?
Na trama acompanhamos o vigilante mascarado que já atua a dois anos como o Batman enquanto ele tenta encontrar um novo serial killer que assombra Gotham. O que traz destaque ao criminoso são seus alvos, pessoas do alto escalão da política e da polícia da cidade e ao fato de que deixa charadas nas cenas de seus crimes para o vigilante desvendar, trazendo uma série de revelações sobre corrupção e instituições que falham com os indivíduos.
O diretor, que foi responsável pelos dois últimos filmes da trilogia recente do Planeta dos Macacos, continua a demonstrar grande domínio em conciliar realismo e peso dramático junto de imagens fantasiosas carregadas de simbolismos. Se em seus últimos trabalhos tínhamos macacos falando e andando a cavalo, agora temos um homem vestido de morcego andando naturalmente junto a policiais em uma cena de crime. Essa caracterização, marcada pelo ótimo design de produção e figurino, contribui para um dos principais pontos e temas que o filme aborda, a criação e papel na sociedade de um símbolo.
Se por um momento o filme abarca um realismo na construção de seu mundo, o protagonista utiliza um traje planador ao invés da, já vista em versões anteriores, capa de sua fantasia para atravessar a cidade pelos ares, em seguida ele abraça a imagem fantasiosa para trabalhar seus personagens e temas, aceita com naturalidade a figura do homem morcego e a estilização de quase todos seus aspectos por meio de um olhar noir. Através da conjugação de elementos como uma baixíssima profundidade de campo que isola certos objetos do restante da cena, como os olhos ou rosto de personagens, a construção arquitetônica da cidade que traz tanto elementos góticos quanto modernos em uma caracterização que não permite determinar o ano exato em que a história se passa e uma trilha sonora desconfortante e provocadora carregada de sons de órgão é criado um ambiente altamente sensorial para que a ação possa se desenvolver.
É interessante notar como aqui o diretor Matt Reeves, que também assina o roteiro, opta por pular a já clássica origem do Batman e nos insere de cara em um momento em que o vigilante já atua faz dois anos e é conhecido. Temos um Batman inteligente e habilidoso porém ainda inexperiente. Logo no início do filme somos apresentados ao fato de que os criminosos temem o herói de modo paranóico, vemos que a construção da personagem principal no imaginário popular é importante dentro do próprio filme, o Batman se tornou um símbolo de vingança, sendo que ele próprio afirma isso na primeira vez que é apresentado em cena. E é partindo daí que o filme busca questionar a validade deste símbolo e transforma os desafios físicos propostos pelo vilão, Charada, em uma série de alegorias que refletem a identidade do herói. Se muitos se perguntam qual a graça de um herói branco e rico cujo principal alvo são pessoas marginalizadas da sociedade, neste filme a própria figura do Batman se questiona isso.
Vá lá!
Apesar do filme do morcegão já ter saído de cartaz dos cinemas ele já está disponível para streaming na plataforma do HBOMax, os planos iniciam em 19,90 reais por mês e o filme estará disponível na plataforma por tempo indeterminado, podendo ser acessado a qualquer momento.