Beastars: uma crítica à sociedade da autocontenção
por Antonio de Paula Souza Masetti
Adaptando a série de mangá de mesmo nome, em dezembro de 2019, Beastars conta uma história situada em um universo onde animais são antropomorfizados, se passando dentro de uma escola de ensino médio de internato onde a tensão entre alunos carnívoros e herbívoros está maior do que nunca após um aluno herbívoro ter sido assassinado e não terem descoberto o culpado. Em meio disso, a história foca em Legosi, um jovem lobo reservado que costuma a não se envolver com os outros mais que o necessário, algo que descobrimos ser, por parte, por medo de Legosi de ser dominado pelos seus instintos de predador e ele atacar seus colegas. A história também foca em Haru, uma jovem coelha extrovertida que acaba se envolvendo com Legosi e o complicado romance que se desenvolve entre os dois.
A crítica mais aparente da série é como o mundo de Beastars existe em um estado frágil, servindo como metáfora para sociedade em si, dependendo do autocontrole dos personagens para poder continuar existindo. No mundo de Beastars, animais carnívoros ainda sentem a necessidade de caçar herbívoros e de se alimentar de sua carne, como algo instintual e natural deles, com a academia onde a série se passa, assim como a estrutura inteira da sociedade da série, depende de que, em todos os dias de suas vidas, em todos momentos, até o dia que eles morram, todos carnívoros suprimam e reprimam seus desejos destrutivos completamente, com o mínimo deslize de qualquer um deles colapsando completamente o contrato social existente e, portanto, a estrutura que permite que o mundo deles exista completamente.
Na sociedade de Beastars, os herbívoros temem os carnívoros, se mantendo afastados, quase como se esperando pelo momento que eles vão explodir, enquanto os carnívoros, temendo o mesmo, se afastam para não serem o pavio que causa a destruição inevitável desse mundo.
A metáfora é bem clara. Assim como o mundo de Beastars, para a nossa sociedade funcionar, temos que encobrir e reprimir características negativas nossas, a partir de mascaras que criamos que encaixem nos contextos sociais que habitamos, como descrito por psicólogo Carl Jung. A natureza humana como algo bondoso ou maligno é um assunto que interessou a filosofia desde a China e Grécia antigas, com diversos argumentos sobre se somos completamente autocentrados ou se a empatia é o que nos define como humanos. Para mim, a realidade é de que existe aspectos negativos e positivos em todos os seres humanos, com os aspectos negativos tendo que ser encobertos para que possamos existir nessa sociedade sem quebrar a ela ou a nós mesmos, fazendo com que nosso mundo esteja, de fato, sempre na borda do colapso.
Onde: Netflix (Serviço de Streaming).
Quanto: Plano mensal — R$ 21,90.
Data de Lançamento: 26/12/2019