Belas, sem Recato e do Mundo: sem paranóia, só enigmas.

Roberta Mendes
Araetá
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4 min readNov 8, 2017

Roberta Mendes

Recatada no Pole Dance

No aniversário de 100 anos da exposição “Pintura Moderna”, de Anita Malfatti, que marcou o início da Arte Moderna no Brasil, o Estúdio Lâmina, espaço cultural independente no Centro de São Paulo, inaugurou a exposição “Belas, sem Recato e do Mundo”.

Mulher Rodeada por Homens | Grafite na parede (aprox. 60x40)

Com curadoria coletiva do próprio Estúdio Lâmina, a exposição conta com obras de arte (entre pinturas, grafite, fotografia, frases e a própria composição do espaço com móveis e manequins) feitas exclusivamente por mulheres. As artistas são: Talitha Bewlay, Marina Bitten, Mariana Pabst Martins, Paola Alfamor, Gizo Nomura, Débora Seiva, Simone Sapienza Siss, Talitha Pereira, Grace Kelli Pereira e Rizka.

“Belas, sem Recato e do Mundo” tem como objetivo celebrar o centenário da exposição de Anita Malfatti de 1917, que recebeu diversas críticas de um povo brasileiro não acostumado com a liberdade da Arte Moderna. Entre essas críticas, a mais famosa foi a de Monteiro Lobato, intitulada “Paranóia ou Mistificação”, publicada no jornal “O Estado de São Paulo” e que atraiu uma visão de julgamento dos brasileiros à obra da artista. A exposição ousada de Malfatti culminou a Semana de Arte Moderna e todo o modernismo no Brasil que a seguiu.

Frases entre os traços da pintura

A arte modernista é caracterizada pela liberdade nos traços e rompimento com os padrões antigos, com a utilização de recursos enigmáticos como as cores, deformações etc. Assim como o Modernismo, a arte dessas mulheres não pretende escancarar o que se passa (apesar de isso estar estampado em algumas das obras), mas expor a liberdade de traço, de cor, de forma e da mensagem a se passar. As obras ilustram o caráter e a força da mulher brasileira, que 100 anos depois de Malfatti, ainda sofrem o preconceito nas mais variadas áreas, incluindo na arte. As pinturas cobrem as paredes do local com imagens que representam todas as formas da mulher brasileira, mostrando sua resistência com cores e traços específicos de cada uma das artistas que compuseram a exposição.

Índia (mulher brasileira) | Pintura na parede (aprox. 3x4m)

A paranoia está em quem não vê a verdadeira intenção da arte, em quem não vê a verdadeira intenção do feminismo. Os que criticam esta ou aquela são os que não se favorecem com elas. Monteiro Lobato julgou Anita Malfatti porque via o Modernismo como loucura, paranoia, visão essa facilmente relacionada com a visão sobre o feminismo para muitos ainda hoje em dia.

Bailarina | Pinturas na parede

Nada mais lógico para uma exposição que trata da temática feminista do que ser montada não apenas por uma, mas por um conjunto de artistas mulheres fortes que compõem o espaço do Estúdio Lâmina como todas as mulheres que nos tempos atuais vêm ocupando com determinação os espaços da sociedade. Cada obra possui traço característico de sua artista, mas ao final tudo se transforma em uma coisa só, constituindo as salas e corredores por onde a exposição se estende. A arte feita por essas mulheres é uma forma de criticar a opressão masculina vinda de todos os lados: social, cultural, estética, profissional etc.

Mulheres se beijando | Aquarela (aprox. 20x20cm)

A força e representatividade das mulheres nos espaços sociais e culturais são essenciais nos dias de hoje. O conjunto das obras que formam a exposição são críticas, explícitas e enigmáticas, ao patriarcado e à opressão masculina na sociedade, que vêm sendo presenciados não apenas hoje, mas durante toda a história. A exposição protagoniza as mulheres e sua luta pelo seu lugar na sociedade, com obras delas para elas mesmas e para todas as mulheres. Nas palavras de um dos curadores da exposição, Luciano Ruas:

“Menos paranoia masculina, mais enigmas femininos”.

Pintura na parede (aprox. 3x4m) | Artista: Gizo Nomura

Serviço da exposição:

Onde: Estúdio Lâmina (Avenida São João, 108 — Sala 41 Centro —SP)

Quanto: gratuito

Quando: terças, quartas, quintas e sextas das 16:00 às 23:00 (exceto feriados)

Data da exposição: de 24 de outubro a 15 de dezembro

Link da exposição: https://goo.gl/heJqR3

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