“Benzinho” e a dor que a ausência traz

Tatiana Tiemi Akashi
Araetá
Published in
4 min readSep 10, 2018

Por Tatiana Akashi

Cartaz Oficial do Filme

Benzinho é o filme nacional dirigido por Gustavo Pizzi que narra a história de Irene (Karine Teles) mãe de quatro filhos de classe média, que se encontra imersa em uma série de conflitos financeiros e familiares, e tem que lidar com o convite de seu primogênito Fernando (Konstantinos Sarris) a jogar handebol na Alemanha e se preparar para sua partida.

Apesar do ponto de virada do filme ser a partida de seu filho mais velho, o suporte para “Benzinho”, no entanto, não é a saudade ou a partida em si desse “bem”, mas as ausências. Estas físicas, afetivas e sociais, retratadas metaforicamente ao longo do filme. A mãe e mulher trabalhadora imersa em um sem fim de ações inconciliáveis na prática, porém compulsórias pelo papel social que ocupa, sozinha. Irene cuida dos quatro filhos, trabalha enquanto autônoma vendendo lençóis na sua Kombi, e corre atrás da sua formação de ensino médio. Ela também tem que tem que lidar com o marido Klaus (Otávio Muller) e sua fracassada livraria e planos irrealistas; e com a sua irmã Sônia (Adriana Esteves) em situação de violência doméstica e abrigada temporariamente em sua casa. Benzinho tenta mostrar a fragilidade de se estar no controle, não estando.

Irene está prestes a explodir. Suas rachaduras, cada vez mais abertas pela expectativa da ausência daquele filho que esteve sempre presente, se mostram subjetivamente na atuação impecável de Karine Teles e fisicamente pela metáfora da casa a ser construída, em que se encontra essa família. O cenário nos evidencia a possibilidade da ruína, e ao mesmo tempo nos reaviva a esperança da readaptação e do improviso. A casa não terminada, suas potencialidades e ao mesmo tempo frustrações, nos mostram também que na vida se é preciso o improviso. A janela que vira porta de entrada logo na cena inicial, e permeia durante todo o filme nos retrata um pouco o dilema de Irene, assim como de todos os membros da família. A vida segue, mesmo com os obstáculos, e ela precisa mesmo seguir. A janela precisa por vezes ser a porta para uma nova saída que não estava nos nossos planos iniciais.

Racionalmente, algumas ações de Irene ao longo do filme podem soar contraditórias e egoístas. Em uma família que está com dificuldades financeiras, a oportunidade de uma bolsa de estudos no exterior com a concretização do sonho de Rafael, nos parece irrecusável. E o é. Mas em diversos momentos percebemos a torcida silenciosa, e não muito bem mascarada por Irene de que não ocorra. Mas Benzinho não é somente sobre racionalidade, é sobre afeto, e relações complexas intrafamiliares.

O filme ganhou dois Kikitos do Festival de Gramado como Melhor Filme pelo júri crítico e popular bem como de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante. Em exibição em mais de 20 países, e com recepção importante no exterior, foi prestigiado no Festival de Sundance, nos EUA. A motivação que o próprio diretor, Gustavo Pizzi, dá ao sucesso do filme é sua temática ”amorosa” e da universalidade desse afeto.

Adriana Esteves (esq) e Karine Teles (dir)

A naturalidade nas representações, especialmente no ambiente familiar, traz ainda mais amabilidade ao filme. As atuações são excelentes, e contam inclusive com os filhos dos já casados roteiristas Karine Teles e Gustavo Pizzi.

O filme, entretanto, não corre sem problemas. A situação de sua irmã (Adriana Esteves) é inserida de forma forçada, É compreensível a intenção da autora e autor em pontuar outras formas de violência e silenciamento do sofrimento em que as mulheres. Mas o filme não conseguiu construir mais profundidade nessa trama, que corre em paralelo e falha na conexão entre as situações. A empatia entre as irmãs, com a atuação sempre brilhante de Adriana Esteves, é o que salva sua presença.

Mesmo assim, é um filme importante para acompanharmos, conjuntamente, esse processo de Irene. Ela está transbordante. E o filme desagua em cenas do universo afetivo, cena entre Irene e Fernando, materna, afetuosa. Eles boiam tranquilos na superfície, mas sua relação se aprofunda. E a belíssima cena final remete novamente ao mesmo transbordamento. Mas afinal o que é amar se não desaguar nossos afetos e mesclá-los às aguas das vidas alheias?

Konstantinos Sarris e Karine Teles

Onde: Caixa Belas Artes / Espaço Itaú de Cinema

Quanto: Caixa Belas Artes (De R$18,00 a R$26,00) / Espaço Itaú de Cinema (De R12,50 a R$29,00)

Quando: Caixa Belas Artes (16:40–20:20)/ Espaço Itaú de Cinema Augusta(14:00–16:00–20:00–22:00)/ Espaço Itaú de Cinema Pompeia (13:40–17:40)

Até quando: Até sair de cartaz

Links relacionados:

Trailer Oficial:https://www.youtube.com/watch?v=uOjeD6K469Y

Página Facebook: https://pt-br.facebook.com/BenzinhoLoveling/

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