Bill Viola — Visões do Tempo
Por: Fernanda Maria Leite Coentro
A exposição "Visões do tempo", em cartaz até 9 de setembro no Sesc Avenida Paulista, apresenta um recorte de videoinstalações do artista Bill Viola por meio de doze obras.
Desde de 1970, quando Bill Viola começou a explorar os diferentes estados da experiência humana por meio da video arte, seu trabalho se tornou uma das principais referencias de arte contemporânea. O artista levanta dilemas que cercam a existência humana, passando por temas como a vida e a morte, entrelaçados e permeados pela temporalidade, em um eterno movimento cíclico inerente a vida . Desta forma "Visões do Tempo" apresenta um caminho por entre estas instancias humanas, em muitos momentos em seu estado mais cru, no qual o tempo cria forma e se torna o protagonista e o fio condutor da exposição.
Falar da exposição de Bill Viola é venerar os ciclos tão bem representados pelo artista. A maneira com a qual ele apresenta os dilemas existenciais em suas obras, imbuídas de significado e em vezes tormento, permite transparecer de uma maneira que tange o viceral sua percepcão, que compreendo como pessimista, da existência humano. Em um pessimismo que se mostra evidente na apatia dentro das repetição, aparente na obra "Capela de Ações Frustradas e Gestos Fúteis", onde infinitamente as ações se repetem, quase que em uma afirmação de que a fatídica função do ser humano é se repetir em uma constante alienação.
De certa maneira a obra é uma alegoria do viver atual, da vivência capitalista e da alienação, que se equipara a uma linha de montagem na qual nunca saberemos onde chegamos, mas a repetição por se só alimenta o movimento que se constrói como vida. E então temos o tempo. A temporalidade, o elemento que perpassa as obras amarrando-as, é ele que dá motriz para os contidos sentimentos e é ele que dá espaço para o ciclo se refazer.
Dentre as obras em vídeo, "Estudo para o Caminho" se apresenta ao longo de três telas lado a lada em construção de um caminho em uma floresta. Caminho este percorrido pelas mais distintas personalidades -Cada uma em sua própria caminhada- No qual não vemos o início nem o fim da trilha. É um recorte. Um instante de um processo muito maior.
Esta, que julgo ser a melhor obra da exposição, traz consigo o fadado destino de um caminho que se assemelha ao purgatório enquanto, concomitantemente, apresenta uma visão alegórica da percepção da vida. Da vida que, mesmo se passando em uma floresta, possui uma carga tão urbana em sua maneira de trazer indivíduos separados e contidos em seus próprios universos, vivendo sobre as mesmas arvores ou prédios, andando sob as mesmas calçadas de terra. E eles prosseguem andando, porque sabem pra onde vão.
Enquanto há um olhar que pode ser tão pessimista como um purgatório, vê-se também a possibilidade de um destino positivo, o que escolhemos. É uma belíssima obra e me emociona ver a presença tão dual de duas possibilidades de interpretação tão distintas, na conexão tácita entre o caminho da morte e o da vida.
Onde: Arte I — 5º andar. Sesc Avenida Paulista
Quanto: Entrada gratuita
Quando: Terça a sábado, das 9h às 22h. Domingo e feriado, das 10h às 19h
Até quando: 29/04 a 09/09