Black Mirror — Hang the DJ

Por Isabela Marinho

Isabela Marinho
Araetá
3 min readFeb 21, 2018

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A série britânica Black Mirror, criada por Charlie Brooker, é original da Netflix e foi lançada em dezembro de 2011. O seriado aborda temas relativos a um universo distópico e potencialmente futurista. De caráter crítico e satírico, os episódios são autônomos e têm a intenção de provocar desconforto e frustração no telespectador. O conteúdo confronta e hiperboliza aspectos sociais vigentes, de modo a introduzir uma sensação de “paranoia-tecnológica” e distorção no olhar quanto ao rumo que humanidade pode seguir. De natureza fictícia e obscura, Black Mirror desfigura a euforia contemporânea quanto a tecnologia e a progressiva automação nas atividades cotidianas.

O 4º episódio da 4ª temporada, lançada em dezembro de 2017, chama-se Hang the DJ, e explora a temática de relacionamentos, colocando em evidência a fragilidade nos vínculos pós-modernos. Os protagonistas, Frank e Amy, se conhecem através de um programa que determina prazo de validade nos relacionamentos, afim de estabelecer pares ideais por “tentativa e erro”. Os dois são submetidos a variadas experiências, dentre elas boas, ruins, longas e curtas, todas independente da vontade dos envolvidos. O sistema é o que comanda e guia os vínculos, impossibilitando que seja questionado e muito menos burlado.

O dispositivo que calcula e impõem o tempo de validade cujo relacionamento deve durar

A história desperta desconforto subversivo no telespectador, principalmente nos que se propõem como modelo de relacionamento aderido pela sociedade fictícia. A demanda por aplicativos para êxito nas relações afetivas é um fator de destaque hoje, e em Hang the DJ a carência atual por laços intensos e duradouros foi exacerbada, de modo a enaltecer a contradição: a procura tão banal quanto os vínculos em si.

Os protagonistas Frank e Amy, interpretados por Joe Cole e Georgina Campbell, respectivamente

O episódio causou um estranhamento de caráter frustrante, por se tratar de um assunto visível, mesmo que potencializado. No entanto, pessoalmente, tal situação hipotética tem pouca iminência de se concretizar, mesmo que em um futuro distante. Os indivíduos estão cada vez mais personalizando suas escolhas, sendo agentes na seleção de suas próprias seleções. Vide a tecnologia on-demand e sua condição de garantia da empoderamento do telespectador. Logo, é infactível idealizar que um aplicativo realizaria as escolhas no lugar dos seres humanos.

O programa faz a seleção dos casais e os mostra no dispositivo, de modo a invalidar o poder de escolha dos envolvidos

Black Mirror é uma obra distintiva, na qual cada episódio traz uma mensagem profunda e pessimista, ainda que figuradamente tangível. É altamente recomendável que essa série seja enaltecida e assistida por muitas pessoas. Atualmente, inclusive diante da natureza pró-ativa dos indivíduos, é esperado que temas desconfortáveis que questionam atributos sociais e vícios cotidianos, sejam desmerecidos pelo fato de incomodarem. Além do mais, a série distorce a realidade como se conhece, semeando incertezas que nos faz contestar o sistema.

Onde: na plataforma Netflix

Quanto: pacotes de assinaturas variam de R$17,90 mensais à R$26,90 mensais

Até quando: prazo não determinado

Isabela Marinho, aluna do 3º semestre de Relações Públicas

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