BTS WORLD TOUR ‘Love Yourself : Speak Yourself’ em São Paulo

Por Helena Martins de Campos Toda

Helena Toda
Araetá
20 min readApr 29, 2020

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No segundo semestre de 2019, o grupo sul-coreano BTS embarcou em sua primeira turnê mundial de estádio. Intitulada Love Yourself: Speak Yourself Tour, a banda passou pela América do Norte, América do Sul, Europa e Ásia, com direito a não só uma, mas duas datas em São Paulo, Brasil. Guiados pelo novo álbum, Map of The Soul: Persona, que alcançou o primeiro lugar nas paradas da Billboard, o grupo chegaria mais uma vez ao país. Composto por 7 integrantes, todos nascidos de diferentes partes da Coreia do Sul, o grupo já havia passado pelo Brasil três vezes, tendo como público máximo 20 mil pessoas, quando performaram por duas noites seguidas no atual UnimedHall, em 2017, com a turnê ‘The Wings Tour’.

Em 2019, no entanto, retornaram ao país no final de semana de 25 e 26 de Maio, performando para 110 mil pessoas, com duas noites de show no famoso Estádio do Palmeiras, Allianz Parque.

Jeon Jungkook em São Paulo ao final do espetáculo no Allianz Parque. (Golden Film)

Facilmente, é uma das turnês mais bem produzidas que tive o privilégio de presenciar, com fogos de artifícios, jatos de água, telões gigantes, membros do grupo voando enquanto cantam e até mesmo um parque inflável que surge no meio do palco durante uma das performances. Na presente crítica, passarei por alguns dos momentos, músicas e pontos mais marcantes sobre os dois dias de show.

Vídeo do VCR introdutório (autoral)

Presente nos dois dias de espetáculo, pude perceber o tamanho da produção envolvida para apenas um show. Durante as horas que antecedem o concerto, os vídeos da banda são passados em dois telões gigantes, um de cada lado do palco. A apresentação foi iniciada com um VCR, apresentado nos mesmos telões, no qual pode-se notar também a presença da produção de alta qualidade e orçamento, com paleta de cores vibrantes, que ornavam com o conceito do que seria a primeira música da setlist.

Captura de tela do VCR introdutório. Na foto da esquerda, integrantes do grupo podem ser vistos cobertos por um véu em um cenário vermelho, todos em pé representando peças em um tabuleiro de xadrez. Na direita, Park Jimin pode ser visto em um cenário quase minimalista, em cores preto e branco (BigHit Entertainment/BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD)
Vídeo do VCR introdutório (vídeo autoral)

Com a música de abertura “Dionysus”, que leva em sua letra e cenário referências à mitologia grega, o instrumental é acompanhado de dois leopardos infláveis na cor prata aparecendo lentamente, um de cada lado do palco, e uma mesa podia ser observada no centro, criando um cenário muito similar à “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci, como observado por diversos espectadores. Após a breve introdução, fogos são lançados da frente do palco e a música é iniciada, com dançarinos locais e os integrantes do grupo surgindo de trás da mesa anteriormente mencionada. O visual da coreografia é impactante, com fogos acompanhando certos momentos de impacto na batida da música, fazendo com que todos os elementos apresentassem um certo equilíbrio, desde acessórios do palco ao figurino utilizado pelos artistas.

Performance de “Dionysus”, música de abertura do espetáculo. Os leopardos infláveis podem ser vistos nas laterais da foto. Os integrantes do grupo encontram-se em cima de uma espécie de mesa, um ao lado do outro, iniciando a coreografia. (BigHit Entertainment/Divulgação)
Cenário para a música de abertura “Dionysus”. Dois leopardos podem ser vistos em cada lado do palco, com os dançarinos locais brasileiros posicionados no centro, iniciando a performance(BigHit Entertainment/BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD)
Performance de “Dionysus”, em São Paulo. Os integrantes do grupo encontram-se em cima da mencionada mesa, parte do cenário da performance, todos em posição inicial para a coreografia da canção(BigHit Entertainment/Divulgação)

Dessa forma, o show é começado, e o grupo performaria uma setlist composta por 22 músicas autorais, incluindo um medley de canções mais antigas de sua discografia e músicas solo de cada membro do grupo. Como mencionado anteriormente, criticarei os momentos mais memoráveis, e por isso não poderia deixar de falar em detalhes das performances solo e algumas canções específicas.

Performance de ‘Dionysus’ na premiação asiática MAMA. Apesar de não ser no Brasil, é o perfeito exemplo da alta produção de suas performances, além do vídeo mostrar a coreografia da canção.

Cada apresentação apresenta suas características marcantes, e até as consideradas mais “simples”, são acompanhadas de imagens nos telões ou acessórios como confetti e fogos de artifício. Durante as performances solo, é possível perceber um tema para cada música, notando-se a presença de uma certa história sendo contada com cada performance, conceito marcante que pode ser observado em cada trabalho feito pelo grupo ao longo de sua carreira.

Jung Hoseok performando ‘Just Dance’. Foto para referência dos jatos de água incorporados na performance. (hiiyuki / Twitter).

A quarta música tocada na noite e primeira performance solo, “Trivia起: Just Dance”, performada pelo membro Jung Hoseok, nome artístico J-hope, apresenta uma paleta de cores predominantemente roxa, além de também conter em seu set jatos de água vindos das laterais do palco durante o ápice da música, acrescentando à performance que já é acompanhada de impecável coreografia e presença de palco por parte de Jung Hoseok.

As cores escolhidas para representar seu solo estão diretamente conectadas com a energia que a letra da música passa ao ouvinte. ‘Trivia起: Just Dance’ narra a história de duas pessoas que se apaixonam à primeira vista, comparando o sentimento de dançarem juntos ao amor que sentem um pelo outro, desejando que esse momento possa durar para sempre.

“Em minha vida barrenta, você foi como uma flor única. Mesmo este estúdio sufocante, se estivermos juntos, torna-se o paraíso. Meus sonhos que antes não tinham resposta, agora se tornam algo com o qual podemos nos identificar. Porque nosso ritmo combina, porque temos nossa dança, é uma batida do destino”

Com trechos da canção como esse, fica compreensível a escolha da paleta de cores vibrantes e alegres, que condizem com a mensagem da música de esperança e quase como um encontro com a felicidade.

Cenário para a performance ‘Just Dance’, feita por Jung Hoseok, em São Paulo. Percebe-se a predominância de cores vibrantes, como tons de roxo e rosa, contanto com diversos acessórios instalados ao palco (BigHit Entertainment/BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD)
Jung Hoseok performando “Just Dance”, em São Paulo (HOPEYES218)
Jung Hoseok performando ‘Trivia: Just Dance’, durante primeira noite de show (Youtube / Tess)

O solo de Jung Hoseok é seguido instantaneamente, com uma transição de coreografia e ritmo impecável, por “Euphoria”, performada por Jeon Jungkook. Dessa vez, com um tema de cores ainda mais alegres do que o roxo e rosa, o cantor podia ser visto voando pelo estádio com o auxílio de cabos, interagindo com os fãs em todos os setores do local.

Jeon Jungkook performando ‘Euphoria’, em São Paulo (BigHit Entertainment/BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD)

A letra de ‘Euphoria’, como o próprio nome diz, descreve um cenário no qual o cantor se encontra em constante e intensa felicidade, fazendo até mesmo referência a uma “utopia”, na qual tudo é perfeito. As cores predominantes eram o amarelo e o azul, mas principalmente o amarelo, acompanhado por splashes de dourado. Analisando a letra da música, entende-se o porquê dessa escolha temática.

“Você é o sol que ressurgiu na minha vida, uma reencarnação dos meus sonhos de infância. Eu não sei o que são essas emoções , eu ainda estou sonhando?”

“Mesmo se o fundo do oceano arenoso se dividir em dois, mesmo se alguém sacudir este mundo, nunca solte minha mão. Por favor, não acorde desse sonho”

“Pegue minhas mãos agora, você é a causa da minha euforia. Feche a porta agora, quando estou com você, estou em uma utopia”

Com letras que passam a ideia de um mundo que é quase um sonho, comparação até mesmo feita na própria música, a paleta de cores escolhida não falha em entregar essa mensagem. Enquanto assistia a performance, todo o setup do palco, o conceito, o fato do cantor voar pelo palco enquanto demonstrava gratidão pela presença dos fãs, tudo isso contribuiu para um sentimento de conforto, sonhador, e foi impossível não conectar a letra da música à isso.

Jeon Jungkook performando ‘Euphoria’, durante primeira noite de show em São Paulo. (Youtube / SEQUENCE JK)

A junção de todos esses elementos contribuiu para que um sentimento de segurança tomasse conta de todo o estádio, como se aquele momento fosse uma forma de materialização da felicidade. Por cantar sobre um amor que é inocente, intenso, pude entender a escolha das cores e do ritmo da música.

Cenário para a performance de ‘Euphoria’, por Jeon Jungkook, em São Paulo. Percebe-se a predominância de tons de azul e amarelo, criando atmosfera alegre complementada pelos efeitos criados nos telões disponibilizados no fundo do palco (BigHit Entertainment/BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD)
Jeon Jungkook performando ‘Euphoria’, em São Paulo. O cantor pode ser visto preso a cabos de auxílio enquanto voa pelo estádio durante o espetáculo. (BigHit Entertainment/BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD)

A terceira performance solo, chamada “Serendipity”, feita pelo membro Park Jimin, segue uma energia similar a da canção que a antecede, com o artista cantando dentro de uma bolha de plástico, que após os primeiros versos da música é estourada e a coreografia é iniciada.

Park Jimin performando ‘Serendipity’, em São Paulo. O cantor pode ser visto dentro de um bolha de plástico, decorada por flores, rodeado de tons claros em contraste com o fundo azul escuro. (nochuzinha / Twitter)

Durante a performance, pude sentir o mesmo que presenciei na canção anterior, de algo relaxante, criando um ambiente seguro, que com certeza foi ainda mais beneficiado pelo emocionante coro criado por todos os fãs que cantavam as letras completas junto com o artista.

Trecho da performance de ‘Serendipity’ (vídeo autoral)

A paleta de cores para essa música era composta de tons de azul que contrastavam com algumas flores brancas que decoravam a bolha dentro da qual o cantor se encontrava inicialmente. Tal escolha de tons mais frios criava um ambiente que gerava uma energia parecida com a de ‘Euphoria’, porém com um toque mais tranquilo, ainda fornecendo o sentimento de segurança, quase como uma tranquilidade, que novamente pode ser diretamente interligada com o significado por trás da canção.

“O universo se move para nós, não houve nem uma pequena falta. Nossa felicidade era pra ser, porque você me ama, e eu te amo”

“Talvez seja uma providência do universo. Tinha que ser assim. Você sabe, eu sei, você sou eu, e eu sou você”

“Desde a criação do universo, tudo estava destinado. Apenas deixe-me te amar”

Alguns trechos da música são muito relevantes para se entender o porquê das escolha dessa paleta de cores específica para o cenário do palco, criando o ambiente descrito anteriormente. ‘Serendipity’, cujo significado da palavra é encontrar algo que se deseja inesperadamente, apresenta ao ouvinte uma espécie de declaração de amor, que teria sido o encontro de duas pessoas ao acaso, mas que segundo o cantor, não teria sido apenas uma coincidência, e sim algo que “era para ser”. Tal mensagem transmitida pela canção gera exatamente aquele sentimento de conforto e tranquilidade que foi alcançado com a junção do ritmo da música à combinação de diferentes tons de azul.

Vídeo da performance de “Serendipity” durante o primeiro dia de show. (T-Amy TKSOO / Youtube)
Park Jimin performando ‘Serendipity’, em São Paulo. Cantor pode ser visto em meio a coreografia da canção, acompanhado de dançarinos de fundo e efeitos criados sobre os tons de azul, fortemente presentes em sua performance. (BigHit Entertainment/SCAN BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD)

A música seguinte, “Trivia 承: Love”, performada por Kim Namjoon, nome artístico RM, contava com uma alta tecnologia de jogos de hologramas, fazendo com que nos telões aparecesse o cantor interagindo com tais imagens flutuando no ar, criando formatos e até mesmo escritos como “사랑해, São Paulo”, traduzindo-se como “Eu te amo, São Paulo”.

Kim Namjoon performando ‘Trivia: Love’, em São Paulo. Nas imagens, pode ser percebido o uso da tecnologia de hologramas, formando figuras como corações e também a frase em coreano “Eu te amo, São Paulo”. (BigHit Entertainment/BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD)

Com letra composta completamente pelo cantor, a canção ‘Trivia承: Love’ expõe o ouvinte ao questionamento de Kim Namjoon inicialmente sobre “O que é o amor?”, não necessariamente o amor romântico, podendo também referir-se ao amor próprio, tema recorrente nos trabalhos feitos pelo grupo. De maneira geral, a letra é uma forma de narrativa de Namjoon tendo contato com o sentimento de amor pela primeira vez, não sendo possível, segundo ele, colocar tal emoção em palavras, muitas vezes fazendo relações entre ser amado, amar e se sentir vivo, como se fossem sentimentos entrelaçados entre si. Além disso, ele tenta em sua letra materializar o que poderia representar o sentimento de amar e ser amado.

“Isso é amor? Às vezes, eu sei, às vezes, não. A próxima linha, o que devo escrever?Tantas palavras me rodeiam, mas eu não gosto de nenhuma delas.”

“Eu apenas sinto, como a Lua sempre surgindo após o Sol. Como unhas crescendo, como árvores soltando suas folhas ou quando o inverno vem”

O cantor se utiliza muito de trocadilhos com a língua coreana, entre as palavras “pessoa” e “amor”, que são codificados por símbolos muito similares, evidenciando isso em determinados trechos da música. A energia criada pela canção é esperançosa ao meu ver; durante a performance, o ritmo da canção juntamente com o conhecimento que eu pessoalmente tinha da letra, criaram um ambiente alegre e vivo, complementados com a paleta de cores com tons de azul mais vibrantes, além de figurino colorido que ornava com o restante do cenário criado.

“Sou apenas uma pessoa, você corrói todas as minhas bordas afiadas em amor, você me transforma. Somos pessoas, entre todas essas infinitas linhas lineares”

“Você transforma o I em O (LIVE → LOVE)
Eu descobri, por sua causa, porque pessoa e amor soam parecido.”

“Você transforma a vida em amor. Eu descobri, por sua causa, porque uma pessoa precisa amar assim como vive”

Kim Namjoon performando ‘Trivia: Love’, durante segunda noite de show em São Paulo. (Youtube / Tess)
Kim Namjoon performando ‘Trivia: Love’ (HoneyJoonie94)
Kim Namjoon performando ‘Trivia: Love’, em São Paulo (BigHit Entertainment/SCAN BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD Photobook)

De maneira geral, a música gera um sentimento reconfortante muito forte, manifestando essa mensagem do amor de maneira emocionante, como algo que deve ser feliz e saudável. Presenciando a performance ao vivo, pude entender o objetivo do artista com essa canção, principalmente ao escutar mais de 60 mil pessoas cantando junto à ele: “Estou vivo, logo amo”.

“Trivia承: Love” é seguida de músicas em grupo, mantendo a energia intensa dentro do estádio. Logo mais, apresentou-se o VCR introdutório para o próximo solo, que seria o performado por Kim Taehyung, nome artístico V. A canção, intitulada ‘Singularity’, era iniciada com o cantor deitado em uma cama suspendida no ar para que, após alguns versos da música, fosse apresentada a coreografia, que contava com dançarinos de apoio e a utilização de máscaras que contribuíam para o cenário e dança.

Kim Taehyung performando ‘Singularity’, durante o primeiro dia de show, em São Paulo. (Youtube / OFF THE REC_ V)

Com essa canção, temos uma mudança de energia no estádio. A vibe mais alegre e vibrante gerada pelas performances anteriores, agora é substituída por algo mais misterioso, sensual, acompanhado de cores opostas ao que era apresentado até então, sendo a performance de ‘Singularity’ predominantemente composta de paletas de cores mais escuras, como o preto, vinho e tons de verde presentes em seu figurino.

Kim Taehyung performando ‘Singularity’ em São Paulo. (BigHit Entertainment/BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD)

A letra da canção oferece agora ao ouvinte um lado mais negativo do tema até então recorrente, o amor. Na música, Kim Taehyung expressa se sentir preso, sem voz, podendo referir-se a uma relação desgastante, forçada, na qual o amor torna-se tóxico. O ritmo da música em junção com o significado da letra gera um ambiente mais sério, frio, que foi perfeitamente entregue ao público com a performance impecável de Taehyung, que possui uma marcante presença de palco. Durante a apresentação de ‘Singularity’ era possível sentir um clima mais intenso, que é exatamente o que é transmitido através da narrativa da música.

“A dor em minha garganta piora. Tento protegê-la, não tenho voz. Hoje, ouço aquele barulho novamente. O barulho continua soando, outra rachadura neste lago congelado. Eu me atirei no lago, enterrei minha voz por você”

“Eu me perdi ou ganhei você? Eu corro repentinamente até o lago, meu rosto está lá. Por favor, não diga nada. Estendo minha mão para cobrir a boca, mas no final, a primavera chegará, o gelo derreterá e sumirá”

“Diga-me se minha voz não é real, se eu não deveria ter me atirado. Diga-me até mesmo se essa dor não é real. O que eu deveria ter feito, então?”

Kim Taehyung performando ‘Singularity’ em São Paulo. Nota-se o uso de máscaras em sua coreografia, e a presença de tons mais escuros que contribuem para o clima intenso da canção. (BigHit Entertainment/BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD)

Após a apresentação solo de Kim Taehyung, tem-se a canção em grupo ‘Fake Love’, na mesma paleta de cores. As duas últimas músicas solo seriam “Trivia轉: Seesaw” e “Epiphany”, performadas por Min Yoongi (nome artístico SUGA) e Kim Seokjin (nome artístico Jin), respectivamente.

Performance de ‘Fake Love’, durante o segundo dia de show em São Paulo (Youtube / Daniela Kang)

O setup de “Trivia轉: Seesaw” contava com uma espécie de palco giratório, no qual Min Yoongi permanece por alguns minutos até iniciar a coreografia, além de todo um cenário composto por uma cabine telefônica e um background de cidade com prédios e luzes.

‘Trivia: Seesaw’, ao vivo em São Paulo (Youtube / Rafael Reis)
Min Yoongi performando ‘Trivia: Seesaw’, durante o segundo show em São Paulo (vídeo autoral)

Com uma paleta de cores vibrantes, de tons de roxo e rosa sendo predominantes no cenário, o cantor executou uma perfeita performance. Apesar do ritmo dançante com cores alegres, essa energia não condiz com a mensagem da música. ‘Trivia轉: Seesaw’, assim como ‘Singularity’, aborda o tema “amor” em uma luz negativa. A letra da música narra um cenário na qual uma das partes deseja terminar a relação em que se encontra, comparando a dinâmica da mesma a uma gangorra, um sobe e desce repetitivo e cansativo, referência ao título da música.

“As pequenas brigas foram o começo? O momento que me tornei mais pesado que você, porque nunca houve um paralelo, desde o início. Talvez eu tenha me tornado mais ambicioso e tentei me ajustar a você. Há, de fato, a necessidade de nos repetirmos, dizendo o que foi amor e o que é amor? Ambos estamos cansados e segurando a mesma carta”

“Tudo bem, um repetido jogo de gangorra, tentando por um fim a isso agora. Tudo bem, um jogo de gangorra chato, alguém precisa descer agora, embora eu não possa”

“Não vamos tentar adivinhar quem sairá primeiro, não vamos prolongar as coisas, seguir nossos corações. Vamos acabar com isso, independente de quem sair. Um jogo de gangorra repetitivo. Agora pare”

Min Yoongi performando ‘Trivia: Seesaw’ em São Paulo. (BigHit Entertainment/BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD)

Finalmente, o último solo presente na setlist,“Epiphany”, contaria com uma energia mais dramática, com Kim Seokjin apresentando-se tocando piano, acompanhado de um cenário com um lindo jogo de luzes a partir dos holofotes, predominando uma paleta de cores puxada mais para o azul escuro, que contrastava bem com seu figurino produzido em cores mais claras.

Kim Seokjin performando ‘Epiphany’, em São Paulo. (BigHit Entertainment/BTS World Tour, Love Yourself: Speak Yourself in São Paulo DVD)

Com as demais músicas solo abordando o tema do amor sob o ponto de vista romântico, seja ele positivo ou negativo, ‘Epiphany’ conclui a história contada por tais faixas solo, falando sobre o amor sob um ponto de vista diferente: o de amor próprio. A letra da canção aborda a questão de aprender a valorizar a si mesmo, incluindo suas qualidades e defeitos, não se moldando às vontades alheias, amando-se a si próprio antes de amar intensamente outra pessoa.

“Eu me adaptei completamente a você, eu queria viver por você. Mas por continuar fazendo isso, eu simplesmente não consigo mais aturar a tempestade dentro do meu coração. Preciso revelar completamente meu verdadeiro eu por baixo da máscara sorridente”

“Eu sou quem eu deveria amar nesse mundo, esse meu eu brilhante, minha alma preciosa. Eu finalmente percebi isso, então eu me amo. Apesar de não ser perfeito, sou tão belo, eu sou quem eu deveria amar”

“Eu posso ser um pouco brusco, eu posso carecer de algumas coisas, eu posso não ter esse brilho tímido ao meu redor. Mas esse sou eu, meus braços, minhas pernas, meu coração, minha alma. Eu quero amá-los nesse mundo”

Com um significado muito marcante, a energia criada pelo cenário condiz muito bem com o clima da música; a junção de todos esses elementos proporcionou um ambiente quase que nostálgico, ativando diversas emoções na plateia. Provavelmente foi um dos momentos mais emocionantes de todo o espetáculo; presenciei inúmeras pessoas presentes no estádio chorando, inclusive eu mesma. A mensagem de amor próprio é algo muito ressaltado e valorizado pelo grupo BTS, e foi reconfortante observar de perto como esse impacto positivo dos artistas se manifesta.

Kim Seokjin performando ‘Epiphany’, durante primeira noite de show em São Paulo. No vídeo, pode-se observar os efeitos gerados pelas luzes e o ambiente criado pelo ritmo da música. (Youtube / Rafael Reis)
Kim Seokjin performando ‘Epiphany’ durante o primeiro show em São Paulo. (vídeo autoral)

Entre cada bloco de apresentações solo, cada um composto por duas músicas, tinha-se também, além das performances das músicas em grupo, a passagem de diferentes VCRs, todos com o mesmo nível de produção de qualidade mencionado no VCR inicial da noite, cada uma introduzindo as músicas a serem apresentadas.

Mais para o final do show, somos apresentados à músicas como “Anpanman”, durante a qual o grupo se divertia em um gigante parque inflável que surge no meio do palco, sendo uma performance mais descontraída, com várias interações entre o o grupo e a plateia, acompanhado de uma decoração simples, apenas com esse objeto mencionado como acessório. O grupo apresenta repertório diversificado, com músicas desde alegres e intensas, como ‘So What’, ‘Anpanman’ e ‘Outro: Tear’, à músicas mais emotivas, como ‘The Truth Untold’, ‘Make It Right’ e ‘Mikrokosmos’.

Integrantes Yoongi e Seokjin no mencionado parque inflável, durante a performance de ‘Anpanman’. (DTOWNSONIC)
Performance de ‘The Truth Untold’, durante o primeiro show em São Paulo. (vídeo autoral)

Quase terminando a apresentação da noite, o grupo pedia aos fãs para que fizessem uma espécie de onda, interagindo com a plateia. Nesse momento, o estádio ficou repleto das cores azul, verde e amarelo, cada setor uma respectiva cor, representando a bandeira brasileira, tudo criado com a colocação de um post it colorido na lanterna do celular, projeto organizado pelos fãs do grupo.

Projeto feito pelas fãs do grupo BTS. Com papéis coloridos colados no flash do celular, o estádio foi tomado pelas cores verde, amarelo e azul, como forma de representar a bandeira brasileira. (Twitter)
Fogos de artifício ao final do show (vídeo autoral)

O show acaba com a vigésima segunda música, “Mikrokosmos”, que conta com a presença de uma espécie de bola de disco que surge suspendida no meio do palco, criando uma linda reflexão de luzes pelo estádio, o que contrastava com a predominância de tons de rosa e roxo presentes na performance através dos telões. Além disso, por ser a música de encerramento do espetáculo, contava com fogos de artifício iguais aos de um festival, que durariam por mais de 5 minutos, enquanto o logotipo do grupo era iluminado e levantado no meio do palco principal, juntamente com o instrumental da música tocando de fundo. Dessa forma, o show era encerrado, com o escrito “Our Biggest Voice, ARMY” (Nossa Maior Voz, ARMY), aparecendo nos telões, sendo “ARMY” o nome designado aos fãs do grupo.

Jung Hoseok com a bandeira brasileira ao final do espetáculo (BE MY LIGHT)
Oceano de luzes com as cores da bandeira brasileira (vídeo autoral)

É interessante ressaltar também a existência do chamado lightstick, traduzido literalmente como “lanterna”. Cada fã, ao entrar no estádio, podia comprar seu lightstick, chamado de “Army Bomb” como forma de representar o grupo e seus fãs, e conectar com um aplicativo via bluetooth. Tal ferramenta permitia que, durante o show, ocorresse um jogo de cores pela plateia, uma vez que cada lanterna era controlada através do sistema, fazendo com que houvesse uma determinada paleta de cor para cada performance ou até mesmo um arco-íris em determinados momentos, sendo todas as lanternas sincronizadas, criando um efeito impressionante.

Show da turnê Love Yourself, do grupo BTS na Coréia do Sul. Imagem de referência, como exemplo da função da lanterna vendida no show. Pode-se perceber a sincronização de cada lightstick, de acordo com o mapa do estádio (BigHit Entertainment/Youtube)

Nas duas noites de espetáculo, diversos integrantes do grupo se emocionaram, dividindo lágrimas com a plateia. Além de presenciar e me encantar com toda a estética do show, ver o total de mais de 120 mil brasileiros e brasileiras de todas as idades cantarem letras inteiramente em coreano mostrou como a música supera barreiras como as referentes à cultura, gênero, etnia, raça e, principalmente, linguagem.

A representatividade asiática (algo que apresenta uma importância e relevância pessoal para mim como neta de imigrantes japoneses) gerada pelo grupo ao performar em solo brasileiro em um estádio antes nunca esgotado por um artista oriental tornou o show ainda mais impactante.

Emocionei-me além do impacto da produção envolvida no show, principalmente ao ler diversos relatos dos fãs que compareceram aos shows dizendo que a presença do BTS, juntamente com as mensagens presentes em suas letras abordando questões como amor próprio, pressões sociais e outras questões que afetam a juventude, fez com que fosse criado uma espécie de porto seguro em meio ao caos no qual o país se encontra, principalmente por conta de um governo que ameaça a segurança de grupos vulneráveis. Muitos desses relatos diziam que, pela primeira vez após meses ou até anos, puderam sentir felicidade e orgulho ao ver a bandeira do país sendo segurada e exibida por alguém. Dessa forma, não seria exagero dizer que o show feito em solo brasileiro é um dos espetáculos de arte mais lindos que já vi.

Eu e algumas amigas na fila e dentro do Allianz Parque!

ONDE? QUANTO? QUANDO?

Localizado na Barra Funda, Água Branca, relativamente perto do Metrô Palmeiras Barra Funda, a Arena Allianz Parque, local onde o grupo BTS performou por dois dias seguidos, possui uma capacidade de 55 mil pessoas para shows de música. A venda dos ingressos para o espetáculo do grupo ocorreu tanto online, pela empresa Eventim, como em ponto físico, na bilheteria do próprio estádio.

Os preços eram variados de R$180 a R$900, mais a taxa de conveniência caso a compra fosse efetuada online. Fãs da banda acamparam meses antes não só do show, mas da venda dos ingressos. Iniciada no dia 11 de março de 2019, a venda para o primeiro dia de show do grupo resultou no esgotamento de ingressos no mesmo dia, sendo necessária a abertura de uma segunda data de show pela alta demanda, que também esgotou em apenas um dia de venda.

Performando no final de semana dos dias 25 e 26 de Maio de 2019, o grupo reuniu mais de 120 mil pessoas durante as duas noites de espetáculo, e tornaram-se o primeiro artista sul-coreano a se apresentar não só no famoso estádio do Palmeiras, Allianz Parque, mas em qualquer estádio da América Latina.

SAIBA MAIS!

BTS, conhecido como Bangtan Boys (방탄소년단) ou Beyond The Scene em inglês, é um grupo sul coreano composto por sete integrantes. Estreando em junho de 2013, o grupo vem se destacando muito nos últimos anos, tornando-se o primeiro grupo asiático a alcançarem diversas conquistas antes nunca feitas nem mesmo por artistas ocidentais.

O trabalho da banda é marcante pela alta produção, além de todos os álbuns serem compostos de músicas escritas e produzidas pelos próprios integrantes do grupo. Seus vídeos musicais, assim como seus curtas e trailers, se assistidos em determinada ordem, contam uma determinada história, envolvendo diversas teorias além de referências à filosofia e mitologia.

Em 2019, o grupo tornou-se o primeiro artista desde os The Beatles a alcançarem três álbuns #1 nas paradas da Billboard, chart mais importante do meio musical, em apenas um ano. Tornaram-se também o primeiro artista coreano a ganhar um Billboard Music Awards, contabilizando atualmente quatro estatuetas da premiação, incluindo Top Social Artist e Top Group, vencendo artistas como Maroon 5, Ariana Grande, Imagine Dragons e Justin Bieber. Em eventos sul-coreanos, tornaram-se o primeiro grupo a ganharem todos os Daesangs de diversas premiações, que são considerados os prêmios mais importantes da noite. Além disso, alguns álbuns do grupo ocupam o lugar de mais bem vendidos de toda a história da Coreia do Sul. Foram também os primeiros artistas coreanos a comparecerem e performarem na maior premiação da indústria musical, o Grammy, assim como no Billboard Music Awards e American Music Awards.

Em 2017, condizente com a mensagem que o BTS compartilha, o grupo iniciou a campanha ‘Love Myself’ juntamente com a UNICEF, com o objetivo de proteger os jovens ao redor do mundo. Através dessa iniciativa, mais de $2 milhões foram arrecadados para serem destinados à maior crise humanitária do mundo localizada no Iêmen. Em 2018, o grupo foi convidado a falar na sede das Nações Unidas, discursando sobre a mensagem do grupo assim como apoiando o lançamento da campanha “Generation Unlimited”, que visa assegurar educação, treinamento e emprego para os jovens ao redor do mundo até 2030.

Discurso feito pelo grupo na sede das Nações Unidas, em 2018.
Vídeo para campanha ‘Love Myself’, juntamente com a UNICEF.

Agora, a banda planeja embarcar em sua nova turnê de estádio mundial, Map of The Soul Tour, guiada pelo novo álbum Map Of The Soul: 7, que atualmente segura o recorde de álbum mais bem vendido mundialmente de 2020. Terão shows na Ásia, Europa e América do Norte, todos já esgotados. Por enquanto, o Brasil fica fora da lista, mas o público geral e os fãs acreditam que a América do Sul estará dentro da turnê no próximo semestre ou em 2021, contando com datas além de São Paulo, única cidade já visitada pelo grupo. As datas antes estabelecidas serão ainda remarcadas, uma vez que a turnê foi adiada por conta da atual pandemia causada pelo COVID-19.

Vídeo introdutório para o comeback da banda, ‘Interlude: Shadow’, performado por Min Yoongi.
‘Outro: EGO’, performado por Jung Hoseok, também parte da introdução ao comeback do grupo.

O grupo é conhecido por utilizar sua plataforma para falarem sobre assuntos como representatividade, saúde mental e amor próprio. Suas conquistas não são apenas números, são quebras de barreiras. Em uma indústria predominantemente branca e ocidental, a arte feita pelo grupo composto de sete meninos coreanos é o registro de história sendo feita. História essa que quebra barreiras em um país com um governo que apresenta políticas altamente xenofóbicas e racistas; história que coloca o asiático em um patamar de sucesso, algo raramente visto no entretenimento.

Em relação ao show utilizado como alvo dessa crítica de arte, o grupo lançou em Dezembro de 2019 um DVD dedicado especialmente para os shows feitos em território brasileiro. Intitulado “BTS WORLD TOUR ‘LOVE YOURSELF: SPEAK YOURSELF’ SÃO PAULO”, o DVD traz filmagens em alta definição das duas noites de espetáculo no Brasil, além de cenas exclusivas dos bastidores, desde sua chegada ao país até o último dia de show. O produto está disponível para compra no Weverse Shop, vendido por $39, mais fretes.

PREVIEW do DVD “Love Yourself: Speak Yourself Tour in São Paulo”.

Recentemente, o grupo também anunciou a estreia de uma nova ‘DOCU-SERIES’, com foco na mesma turnê, Love Yourself: Speak Yourself, levando o título de “Break The Silence”. Dividida em uma sequência de episódios, a série mostrará cenas exclusivas dos bastidores da turnê, passando por todos os países visitados pelos artistas, inclusive o Brasil. Com lançamento previsto para dia 12 de Maio desse ano, encontra-se também disponível para compra no Weverse Shop, por $19.99, em formato digital. O grupo possui outras produções em seu repertório, como a DOCU-SERIES e filme, “Burn The Stage” e os filmes “Bring The Soul” e “Love Yourself Tour in Seoul”.

Trailer da nova docu-series “Break The Silence”, com estreia marcada para dia 12 de Maio de 2020.

Para saber mais sobre o BTS e suas atividades, assim como sua carreira e conquistas, o grupo é constantemente ativo em plataformas de redes sociais como Twitter, Weverse e VLive, além de possuírem contas no Instagram, Facebook, Weibo, TikTok e Soundcloud.

No YouTube, podem ser encontrados vídeos de música oficiais do grupo, assim como as chamadas ‘BANGTAN BOMBS’, vídeos curtos que mostram diversos momentos do dia-a-dia dos integrantes da banda. Em Fevereiro de 2020, o grupo lançou seu novo álbum Map Of The Soul: 7, acompanhado de quatro novos vídeos: “‘ON’ Kinetic Manifesto Film : Come Prima”, “ON MV”, “Black Swan: Art Film” e “Black Swan MV”, que em conjunto já reúnem quase mais de 400 milhões de visualizações.

Art Film da canção ‘Black Swan’, com dançarinos da MN Dance Company, acompanhado de instrumental clássico.
MV (Music Video) Oficial para a música ‘Black Swan’
Kinetic Manifesto Film para a title track ‘ON’, apresentando a coreografia do grupo.
MV oficial para a música ‘ON’.

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