Clássico é Clássico e vice-versa.

Eduardo Santolin Vietri
Araetá
Published in
5 min readOct 13, 2018

Por: Eduardo Santolin Vietri.

Entrada da exposição “Clássico é Clássico e vice-versa” no Museu do Futebol em São Paulo.

A exposição “Clássico é Clássico e vice-versa” está sendo realizada no museu do futebol em São Paulo desde o dia 29 de setembro. Ela apresenta informações sobre os clássicos de futebol espalhados pelo país, desde os maiores e mais famosos, como os embates entre Flamengo e Fluminense, até os menores, como os confrontos entre Portuguesa-SP e Juventus da Mooca. A exposição é recheada de curiosidades, objetos e experiências para que o visitante consiga entrar no clima dos clássicos.

A primeira parte da exposição é a videoinstalação “Majestosa”. Ela consiste em vídeos feitos em dois diferentes momentos, mas em uma mesma situação: O clássico “majestoso” entre São Paulo e Corinthians. Apresentados de forma intercalada, dois vídeos referem-se ao clássico realizado em 1983 que decidiria o campeão do campeonato paulista. Os outros dois vídeos foram realizados em 2017. A intenção do diretor, Tadeu Jungle, é retratar a mesma festa e emoção 34 anos depois e, a partir disso, analisar as transformações sofridas. Infelizmente foram muitas. Em 1983 as torcidas conviviam juntas até a hora do jogo, dividindo a mesma praça. Hoje, por conta das brigas entre torcedores dos dois times, foi determinado que clássicos paulistas só podem ser realizados com a torcida do time mandante. Uma perda para o espetáculo que é o futebol.

Videoinstalação “Majestosa”. Direção de Tadeu Jungle. Museu do futebol- São Paulo.

Os clássicos e o futebol em geral carregam uma imagem negativa relacionada com a violência por conta dos diversos episódios de brigas generalizadas entre torcidas. A exposição mostra o contrário dessa imagem. Ela apresenta argumentos que defendem, e eu concordo inteiramente com isso, que o seu time não seria o mesmo sem seu rival. As vitórias não seriam tão saborosas se não tivessem derrotas doloridas, as provocações não seriam tão engraçadas, os jogos não seriam tão emocionantes, ou seja, o futebol não teria graça.

Frase na entrada da exposição que expressa a ideia que será defendida por ela.

Os diversos objetos presentes na exposição já valem o ingresso. O museu juntou uma coleção de camisas, ingressos e relíquias provocativas dos confrontos. A que eu mais me identifiquei (por ser são paulino) é o troféu da moeda em pé. A história desse troféu vem de 1943. Na ocasião, durante uma reunião, dirigentes de Corinthians e Palmeiras teriam dito que o campeonato paulista daquele ano poderia ser decido no cara e coroa, tendo em vista que os dois times vinham se revezando no título. Quando perguntados sobre a possibilidade do São Paulo ser campeão eles teriam respondido que só seria possível se a moeda cair em pé. Naquele ano o São Paulo se sagrou campeão paulista e a torcida, como uma forma de provocação, confeccionou um troféu com uma moeda em pé.

Todos esses pontos já são super interessantes, mas o melhor dessa exposição são os que vêm a seguir. A primeira é a parte dos nomes que os mais variados clássicos receberam ao longo do tempo. Várias placas de madeira estão posicionadas em uma parede, na parte da frente estão os nomes dos clássicos e quando você vira a placa para o verso, encontra os confrontos que recebem aquele nome, bem como o motivo que levaram-nos a ficarem conhecidos dessa forma. Nessas placas encontram-se informações sobre os clássicos mais conhecidos como o “Derby”, o “Fla-Flu” e o “Choque-Rei”, mas também se encontra informações de clássicos menores de todos os lugares do Brasil. Dentre esses clássicos menores o que me chamou mais atenção foi o clássico paulistano entre Portuguesa-SP e a Juventus da Mooca, que recebe o nome de clássico dos imigrantes por se tratar de dois times fundados dentre das duas maiores colônias de São Paulo: a colônia portuguesa e italiana, respectivamente.

Placas de madeira que contém informações sobre os nomes que ficaram conhecidos vários clássicos do Brasil.

Por fim, a melhor parte da visita. Foi desenvolvida uma parte na exposição onde é possível caminhar por um túnel que leva ao campo do estádio do Pacaembu, nesse caminho, você pode escolher um canto de uma torcida de vários times do Brasil. A intenção é a de reproduzir a experiência que os jogadores têm enquanto andam em direção ao campo com o barulho e o tremor da torcida. O túnel realmente chega no campo, onde é possível ter uma visão diferenciada daquele que os torcedores estão acostumados. Foram distribuídas caixas de som pelo túnel e criou-se um efeito onde a música aumenta na medida em que o visitante se aproxima do campo. A sensação desenvolvida nessa parte interativa da exposição representa bem o poder que a torcida tem no jogo. Quando você coloca cantos relacionados ao seu time consegue sentir como a energia e a motivação preenchem o espaço e motiva quem esteja ouvindo, ao mesmo tempo em que um canto adversário pode provocar um certo nervosismo e intimidação.

Eu recomendo para quem é apaixonado por futebol a visita dessa exposição e do museu inteiro. O sentimento e a história impressa nesse local é capaz de criar uma identificação e uma alegria para aqueles que vivem o futebol não como só um jogo, mas como uma religião.

Onde: Museu do Futebol- Praça Charles Miller, Estádio do Pacaembu- São Paulo.

Quando: Terça a Domingo das 9h às 18h (A bilheteria fica aberta até as 17h).

Quanto: R$ 12,00- Inteira. R$ 6,00- Meia. As terças-feiras a entrada é gratuita.

Até quando: A exposição vai até o dia 03 de fevereiro de 2019.

Links relacionados: https://www.museudofutebol.org.br/galeria/16/classico e https://www.museudofutebol.org.br/exposicoes-temporarias/

Eduardo Vietri. Autor da crítica.

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