Concerto de Ispinho e Fulô

Paula Sepulveda
Araetá
Published in
3 min readMay 10, 2018

Paula Martins e Sepulveda

930 × 350 Concerto de Ispinho e Fulô

A peça, que é baseada na vida e na obra do poeta Patativa do Assaré, discute as adversidades do Sertão Nordestino e fala sobre acontecimentos que não constam nos registros oficiais da história do Brasil, como o massacre no sítio de Santa Teresa pelo Exército brasileiro que temia o surgimento de uma nova Canudos. A partir de uma entrevista de um teatro de São Paulo com o poeta, a peça se inicia e o que era para ser uma simples entrevista se transforma em uma ligação entre dois mundos aparentemente distantes: o rural do sertão e a megalópole de São Paulo, o popular e o erudito. Além da denúncia do primeiro massacre aéreo realizado em solo brasileiro.

De forma inusitada e divertida, a peça mostra mais do que acontecimentos da história do Brasil, apresenta ao público a causa humanista e universal e o lirismo incomum do grande poeta Patativa do Assaré. Com atores e atrizes bastante qualificados e com a quebra da quarta parede inúmeras vezes pelas interaçoes com o público.

A peça mostra, também, a capacidade de expressão do poeta no campo musical, no qual denuncia as injustiças sociais vividas pelo povo sertanejo e discute sobre o amor, o vício e experiencias humanas em geral de maneira fascinante e envolvente. Além disso, os atores eram muito verdadeiros e sincronizados. A sensação era que a peça era toda um improviso, uma vez que as ações dos atores eram sempre muito inesperada, como se eles se surpreendessem com as próprias ações.

960 × 640 Cia. do Tijolo Ispinho e Fulô

A peça simboliza perfeitamente o Teatro Épico, iniciado por Brecht, ou seja, um drama narrativo que nos oferece uma análise crítica da sociedade, procurando mostrar a realidade em vez de reprenta-lá, para levar o espectador a reagir criticamente e a tomar uma posição. Apresenta uma série de cenas vagamente conectadas que evitam a ilusão e que interrompem a linha da história para abordar o público diretamente com análises, argumentos ou documentações. A perspectiva de Brecht era marxista e sua intenção era apelar para o intelecto de seu público ao apresentar problemas morais e refletir as realidades sociais contemporâneas no palco. Por isso, tal tipo de peça implica comprometimento, crítica contra o individualismo, consciencialização perante o sofrimento dos outros e a realidade social. Ele queria bloquear suas respostas emocionais, impedir sua tendência a ter empatia pelos personagens e se envolver na ação. Para esse fim, ele usou efeitos “alienantes” ou “distantes” para fazer com que o público pensasse objetivamente sobre a peça, refletisse sobre seu argumento, entendesse e tirasse suas próprias conclusões. Para isso, propõe que o espectador seja um observador crítico capaz de se indignar com as injustiças e as opressões da humanidade.

Imagem de própria autoria

Onde: Galpão do Folias Rua Ana Cintra, 213, Campo Eliseos

Quanto: R$10–20

Quando: Quinta, Sexta e Sábado às 20h- Domingo às 19h

Até quando: 19- 29 de Abril

Links relacionados: https://www.youtube.com/watch?v=IWnCQSluTWA&list=PLWFQBtzVrMKIDp8OBoaZ4MA6krIYs95jR

http://jc.ne10.uol.com.br/blogs/terceiroato/2015/08/11/critica-concerto-de-ispinho-e-fulo-poetiza-o-sertao-universal/

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