‘Conversa com uma menina branca’

Faixa 6 do novo álbum do rapper Djonga fala sobre a forma que o racismo estrutural dita as vivências de indivíduos pretos e brancos

Isabellanakagomi
Araetá
3 min readDec 7, 2022

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Por Isabella de Jesus Nakagomi

Capa do álbum “O Dono do Lugar”

Sucessor do álbum Nu (2021), O Dono do Lugar (13 de outubro de 2022) é o sexto álbum de estúdio do rapper mineiro Djonga que traz consigo referencias históricas e culturais - como Dom Quixote na própria capa do álbum- e também aborda temas como a masculinidade preta, a homofobia e o racismo, mostrando a partir disso, como uma pessoa preta é encarada no mundo. Com 12 faixas, conversa com uma menina branca é a sexta, e que apesar de ter menos de 2 minutos de duração, expressa de maneira clara a forma que o racismo estrutural dita as vivências de indivíduos pretos e brancos, e como isso implica na forma que estes se relacionam.

“Esse som representa muito no disco. Foi feito pra gerar debate e já gerou, ela que trata de uma questão muito forte, sabe? Eu já fiz muitos trabalhos que são direcionados ao homem branco, mas dessa vez eu quis falar sobre a relação do homem preto com a mulher branca, falar sobre as nossas concepções quando esse relacionamento acontece, achava importante trazer esse debate através da música”, aponta o rapper.

Na música há um suposto debate com uma mulher branca onde fica explícito o contraste que há entre suas respectivas experiências. Por exemplo, a suposta menina branca teria vendido drogas com 25 anos para comprar roupa enquanto o protagonista preto da música tem um primo que aos 25 anos já completaria 12 anos no crime. Tendo em vista o país em que vivemos, e a situação do Brasil nos últimos anos, é de extrema necessidade que se de a devida importância para trabalhos como este, que trazem falas racistas, que por muitas vezes, se não todas, são veladas por trás de ações cotidianas consideradas inofensivas. Nesse caso, uma clara comparação de “sofrimentos” – a mulher branca tentando mostrar que também sobre para o homem preto –, e que de início já não fazem sentido, uma vez que o racismo é estrutural e trilha a vida de pessoas pretas desde antes de seu nascimento, enquanto que os problemas experenciados por pessoas brancas, se difundem apenas em âmbito pessoal.

É importante frisar o fato de que eu, como uma mulher amarela, estou fazendo essa resenha crítica por muita admiração ao cantor, mas também pelo fato de que como membro da sociedade que não sofreu/sofre o que a população preta sofreu/sofre, o mínimo do mínimo que eu posso fazer é contribuir para uma mobilização antirracista no âmbito artístico, que é o que eu me insiro.

Clipe Oficial da música “conversa com uma menina branca”

Agora tratando de um ponto estético que particularmente me chamou muita atenção é o clipe da música. O clipe é todo gravado em plano sequência, na qual a cada situação que o homem preto tenha passado se relacionando com alguma menina branca, esta muda para outra personagem. Por fim tem uma cena final muito forte, que seria o cantor sendo espancado por homens brancos. Cena muito significativa para o entendimento não só da música, mas do álbum.

“É um clipe que vai acontecendo de uma vez e vai surpreendendo pela troca das meninas, sem cortes. Conceitualmente é muito legal e com com movimento sutil da câmera”, destaca. “A inspiração para este vídeo veio junto com a letra, assim que eu a escrevi eu já visualizei como ficaria a parte audiovisual, o que não é algo que acontece sempre, mas dessa vez foi muito claro pra mim” disse o cantor.

Por fim, o rapper que nunca em nenhum momento deixou de se posicionar politicamente se reencontra consigo mesmo com esse álbum repleto de críticas necessárias na sociedade em que vemos encarando.

É possível encontrar essa música e toda a discografia do cantor no YouTube e em todas as plataformas digitais gratuitamente.

Para mais informações, o cantor tem um site próprio:

essa sou eu ;)

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